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Cultura Nova por Geraldo Maia
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Cultura
Qui, 14 de Junho de 2007 07:03
A cultura permeia os povos para expressar suas existências, definir seus processos históricos e suas presenças no universo, explicar ou defender seus modos de vida.
A cultura perpassa todo o corpo social no sentido da construção das estruturas e está presente em todos os estágios da vida social, desde a organização de quilombos à construção de uma usina termoelétrica.

Na última Bienal do Livro da Bahia, a Empresa Gráfica da Bahia (EGBA) montou em seu estande uma “FÁBRICA DE LIVROS” onde, graças à tecnologia digital de impressão, era possível imprimir qualquer livro em poucas horas com a mesma qualidade dos modernos sistemas em “off-set”, isso para pequenas tiragens de 20, 50, até 200 exemplares com um custo relativamente acessível a qualquer um que queira iniciar ou prosseguir a carreira de escritor.
Agora, como essa tecnologia nova o escritor (ou pretendente) pode mandar imprimir a quantidade de livros que já vendeu aos amigos ou que foi encomendada por uma empresa sem precisar fazer um grande investimento. Então, “impressão por demanda”, “pequena tiragem”, “edição personalizada”, “tecnologia digital”, “faça-você-mesmo” , livro eletrônico, “scrap book”, mercado informal, “mídia pirata”, tudo isso faz parte da Cultura Nova que está sendo processada em torno e dentro de cada um nós, queiramos ou não.
O que antes era “produção em massa” agora está sendo “produção por demanda”, “personalizada”, “individualizada”, “peça por peça”, não só de cunho artesanal mas de alta tecnologia. O mundo torna-se cada vez mais segmentado: mala-direta, entrega individual, telecompra, produção por demanda, tudo isso para atender à proliferação de pequenas tribos e grupos minoritários até então sem poder de voz e expressão, desde os solteiros, idosos, gays, índios, quilombolas, “povo de santo”, sem-terra, sem-teto, sem-emprego, sem-partido, sem-pátria, enfim, uma diversidade cada vez mais ampla e minimalizada de culturas, raças, credos, crenças, ideologias, sexos, minigrupos de pessoas que estão revolucionando a economia e a tecnologia porque criam e utilizam pequenos meios de produzir diferenciação continuada fazendo com que a produção em massa vá se tornando cada vez mais defasada e obsoleta.
A Cultura Nova é mais inclusiva e pluralista porque exclui mais o que é uniforme, padrão, repetitivo, sectário, massificante, estressante, careta, burocrático, vertical, autoritário e inclui o que é mais criativo, inovador, horizontal, diferenciado, cognitivo, afetivo, prazeroso, poético, individual, regional, tribal, ancestral, vertical, operacional, realizador, solidário, facilitador, etc.
A Cultura Nova, do Milênio Novo, valoriza e utiliza a multiexpressão das inteligências, a habilidade no trato com símbolos, imagens, abstrações, o domínio da fala, do gesto, da lógica, da emoção, a habilidade no trato com o computador e com o outro, com o vídeo e com os conflitos, com as mídias e as diferentes atitudes com relação ao trabalho, ao sexo, ao amor, à nação, ao prazer, à autoridade, à educação, à política, à produção, etc.
A Cultura Nova incorpora um universo que até então foi mais desvalorizado, humilhado, marginalizado, desprezado e menos remunerado, principalmente nas populações tradicionalmente excluídas e minoritárias.
Pontualidade, obediência a uma autoridade central, única, burocrática, a postura subserviente e resignada com relação à rotina e ao trabalho repetitivo e mecânico, tudo isso está sendo excluído ou minimizado na Cultura Nova que se utiliza bem mais de habilidades cognitivas e afetivas, da educação e da poesia, da engenharia e da ecologia, da condição de adaptabilidade, flexibilidade, da capacidade de trabalhar para múltiplos eixos e ao mesmo tempo atuar como eixo.
Estamos no bojo e na realização do incremento de uma cultura mais da curiosidade e da dúvida, da necessidade de saber o porquê e o que acontece em torno para opinar e de alguma forma poder contribuir e influenciar, mudar, revolucionar a cada instante, decidir, ponderar, refletir, resolver e operar em meio ao conflito, à crise, à desordem, ao medo e à violência. É o limiar e a expansão de uma cultura que contempla mais a experiência em áreas diferentes e a capacidade de influenciar de uma pessoa para outra e que dispensa o teórico especialista num só sentido.
A cultura ora em gestação no interior de cada pessoa e na comunidade planetária prefere trabalhar com pessoas conciliadoras e mediadoras, que servem de intérpretes de diversos interesses conflitantes no sentido de melhor resolvê-los e necessita de pioneiros e visionários, sonhadores e de um número nunca pensado de poetas, de criadores e inventores, dos que anseiam (como Maiakowsky) pelo futuro aquiagora.
Mas a Cultura Nova não é monopólio de alguma nação, grupo racial, étnico, religioso, político, sexual, etc. Ela permeia todas as culturas e é assim que se origina porque é a expressão da quebra dos monopólios e o crescimento da multiplicidade de poderes, ideologias, religiões, partidos, modos de vida e de produção. É um caleidoscópio dinâmico de registros culturais minoritários até então sem vez e voz e está sendo trançada nas redes eletrônicas, nas posses e assentamentos, nas rodas de leitura, nos pontos de cultura, nos teclados e vídeos, nas ações comunitárias, nas contações e escritos que a memória lavra.
A Cultura Nova também combate de forma sistemática e lúdica o analfabetismo total, funcional e titulado através de ferramentas convivenciais que a todo momento estão sendo criadas de modo que o simples uso das mesmas implique nesse combate. Já podemos encontrar jogos eletrônicos que disparam sílabas e sinais de pontuação com prêmios às suas corretas aplicações. Centenas de novos instrumentos de ensino de alta tecnologia (como os utilizados em tele e videoconferências) começam a ser disponibilizados para viabilizar a erradicação dos diferentes tipos de analfabetismo (mental, emocional, espiritual, etc).
Outro aspecto importante da Cultura Nova é o redescobrimento por parte de grupos tradicionalmente excluídos de suas histórias, memórias, origens e ancestralidades como imprescindível no processo de resgate da auto-estima, do sentimento de pertencimento, e da autonomia, da auto-inclusão, da recuperação e afirmação da dignidade ultrajada, rompida, exilada. A Cultura Nova, portanto, também significa a possibilidade efetiva de expressão e valorização de todas as culturas até então oprimidas, inferiorizadas, desvalorizadas, oprimidas. E tem como principal característica a sua dimensão multicultural e policêntrica em permanente mutação.
Daí a importância da atividade cultural para a evolução revolucionária da espécie humana, e tudo que dificulte, minimize, ignore, desdenhe, deforme, desvalorize, agrida as variadas formas de fazer cultura está fadado ao mais retumbante fracasso, à mais obscura lata de lixo da história.

Geraldo Maia
Poeta e crítico cultural
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