As feridas e os feridos (CPMF) por Flávio Aguiar |
Cultura | |||
Qua, 19 de Dezembro de 2007 11:46 | |||
Em meio a promessas de bonança, começam a aparecer os
verdadeiros estragos feitos pela derrubada da CPMF. E não parece que seja o
governo que esteja chorando mais...
Logo depois da derrubada da CPMF, houve uma gritaria tentando convencer as gentes que "haveria mais dinheiro no bolso", que "o crédito ia ficar menos caro", e assim por diante. Mas ao longo dos dias, vão aparecendo os verdadeiros estragos feitos pela votação desastrada da noite de 12 para 13 de dezembro.É certo que a vitória da rejeição do imposto só foi possível com a sinistra deserção de senadores da base aliada. Sozinhos, PSDB + DEM + PSOL, mais isto e mais aquilo, não conseguiriam rejeitar o imposto. Mas não é só isto. O que vai ficando cada vez mais claro é que, por exemplo, levado pela fúria vingativa de alguns senadores (como apontou Kennedy de Alencar em artigo na Folha de S. Paulo, já em 13/12), aliada a uma estratégia de clarividência duvidosa articulada por Fernando Henrique Cardoso, o PSDB conseguiu uma proeza que em geral só o PT conseguia: derrotar a si mesmo.
Na sexta-feira, no lançamento do novo carro da Ford em S. Bernardo (mostram as
fotos dos jornais de sábado), quem estava de cara amarrada era Serra, não era
Lula. Para vencer em 2010, Serra precisa conquistar votos que foram petistas em
2002 e em 2006. Para vencer em 2010, ele precisa, por exemplo, manter a Saúde
como bandeira sua, ministro que dela foi. Mas a pressa e o açodamento de impor
uma derrota a Lula e de conquistar o agrado da Fiesp, na verdade verdadeira das
coisas, tirou-lhe a bandeira das mãos. Por quê? Porque se apesar de tudo a Saúde
melhorar e se expandir mais neste país, o mérito será do governo federal que,
"apesar da perda da CPMF", a terá feito progredir. Se isso não acontecer, Serra
terá de arcar com o contra-argumento de que "foi o seu partido" que se curvou
aos "pró-magnatas" do DEM e espandongou as verbas da Saúde.
Ainda uma palavra. É verdade que o PSDB está dividido, pelo menos desde a
eleição de 2006. Mas agora está estraçalhado. Parece um ator que entrou
endomingado em cena e sai em farrapos e andrajos. Qual o sentido de Fernando
Henrique ter manejado tanto as cordinhas de Arthur Virgílio? A mim me parece um
único. Pelo menos, quero dizer, um único faz sentido, porque o de ter jogado o
partido e seus possíveis candidatos numa arapuca não faz. Como aquele cuja era
ele queria acabar ao chegar à presidência, Fernando Henrique sabe que um dia ele
deixará a vida para entrar na história (esperemos que daqui há muito tempo e de
modo não tão trágico como o daquele seu antecessor). E ele está arriscando-se a
entrar para a história como um mero prefácio às gestões de Lula e até mesmo de
Serra, se este conseguir chegar à presidência. Neste último caso, reconheça-se,
há o risco dos incontáveis retrocessos em todas as frentes, da política social à
externa, que a sanha de tucanos e democratas trará. O segundo mandato de
Fernando Henrique desteceu tudo que ele tecera para seu verbete nas
enciclopédias durante o primeiro. Por isso, vanitas vanitatis, faz sentido criar
todas as pedreiras possíveis no caminho de Lula.
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