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Fernando Guerreiro e suas vagas impressões sobre o Carnaval por Galindo Luma
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Comportamento
Qui, 10 de Abril de 2008 03:48
"E tá um empurra-empurra aqui, mas tá gostoso"  (Ivete Sangalo) O carnaval será tema eternamente polêmico, já que  todo mundo tem  opinião pra dar, o que vem a ser positivo. É uma coisa parecida com o futebol, outro gênero que envolve paixão de milhões. Dizem que todo brasileiro é um técnico de futebol e no caso do carnaval, todo soteropolitano tem suas receitas, opiniões, palpites, propostas etc.

Na Revista Metrópole, edição número 9, Fernando Guerreiro, pessoa respeitada na cidade, emitiu o que chamou de "vagas impressões". Foram vagas mesmo, porque não aprofunda nada - e nem era esse o objetivo dele -  e traz algumas teses discutíveis, senão, vejamos:

 " O nosso carnaval está irremediavelmente chato e repetitivo. Os blocos se parecem, os abadás se parecem, os cantores se parecem, as músicas se parecem. Às vezes me dá uma sensação de um desfile ininterrupto de uma única atração".

É isso mesmo? Não haveria exagero? Talvez nosso amigo tenha caído no mesmo erro que eu identifico em outros críticos do carnaval, de fazer análise da festa levando em conta  apenas umas seis ou sete  atrações - as que aparecem na TV -, não levando em conta a imensa diversidade que por ali se verifica, com dezenas e dezenas de blocos, os mais variados (afros, travestis,  de samba, infantis, cordões isolados etc).

Algumas pessoas dizem coisa parecida sobre a suposta repetição. Aqui cabe uma pergunta: se uma determinada coisa se repete, significa necessariamente que seja chata? Não. Não concordo que a a festa seja  repetitiva, mas se fosse, como eu adoro as dos anos anteriores, então em continuo gostando do mesmo jeito. Desde que cheguei em Salvador há mais de 20 anos, tenho dito que o carnaval de um ano é sempre melhor que o anterior e aquele que vive dizendo que  antigamente era isso, aquilo, não passa de saudosista desiludido, o que não vem a ser crime e nem foi o caso Guerreiro.

"Da geléia geral empastelada salvam-se Brown e sua eterna busca de novidades, a religião Chiclete, o renascimento dos Mascarados e a eterna inquietação de Daniela. Sem falar da musa Ivete, que chegou num estágio de carisma e popularidade que pode fazer o que quiser"

E isso é pouco? O Chiclete puxa três blocos, Daniela puxa um e sai com trio independente, Os Mascarados são conduzidos pela poderosa Margarete e Ivete puxa também outros dois blocos, além de contagiar o arrastão das cinzas. Brown, além de levar criativo camarote andante, ainda é o responsável pela Timbalada, uma banda de arrepiar. E olhe que pensei que o que ele achava repetitivo eram exatamente esses artistas. Ficou o que de fora? Quer dizer que o Olodum, o Cortejo Afro, o Ilê Ayê, Claudinha Leite, Timbalada, Muzenza; Motumbá, Negra Cor, Asa de Águia e tantos outros, são irremediavelmente chatos?

" Pode parecer disco arranhado, mas o folião-pipoca está com os dias contados. Só arrisca quem tem culhão para tomar uns sopapos. De um lado cordas, do outro, camarotes e haja empurra- empurra".

Não parece. É disco arranhado, mesmo. Quanto mais dizem que os foliões pipocas estão com os dias contados, mas eles aparecem lá, às centenas de milhares, e aumentando cada vez mais. E que graça teria o  carnaval sem o tradicional e gostoso empurra-empurra? A música cantada por Ivete (fragmento da letra descrita no início do texto) é bem ilustrativa. Em ambientes que mesclam música, bebidas, danças, gente alegre, isso  é inevitável. Quem não quiser ou não gostar do  saudável  e frenético contato humano  da festa , existem  outras opções nos mesmos dias, como os velórios, missas, teatro etc.

E é verdade que só arrisca quem tem culhão pra tomar sopapos? Não. Isso aí é concluir precipitadamente que naquela festa esfuziante só tem espaço para alguns malhados,  policiais e  bandidos, que efetivamente atrapalham e estragam em parte o carnaval, com suas brutais cenas de selvageria. Mas isso não é o predominante e não  impede  os que não tem culhão de brincar, tanto que esses atores se encontram todos os anos perante ao palco. A convivência, que no geral é pacífica, eventualmente resvala  para a violência  em decorrência dos ingredientes que a compõem.  Em qualquer lugar do mundo, em eventos que reúnem multidões ávidas por diversão, cenas dessa natureza são inevitáveis.

A propósito, no carnaval em Salvador, tem é gente com culhão pra tomar sopapos. São cerca de dois milhões de foliões, segundo estimativas oficiais, talvez exageradas. Se se abate os que saem em blocos, suponhamos que cerca de 80 mil pessoas, teremos então nas ruas, durante 6 dias, um exército impressionante de  mais de 1, 9 milhão pessoas tomando sopapos e pasmem, alegres, felizes. Isso seria um ritual de auto-flagelaçao de fazer inveja aos mais ortodoxos muçulmanos que peregrinam à Meca sagrada (já usei esse argumento para me contrapor a um texto de um professor da UFBa que defendeu a tese de que o  maior carnaval do mundo é elitista e excludente).

Guerreiro pergunta se existe alguma coisa mais chata do mundo que camarote e quer saber quem são aqueles seres humanos desanimados em cima dos famigerados carros de apoio. Nisso eu concordo com ele. Costumo brincar dizendo que dentro dos camarotes e carros de apoio parece haver um defunto sendo velado. É muita desanimação, mas tem pessoas que gostam daquilo, se sentem mais seguras. Fazer o que cidadão?  Em Recife milhões de pessoas se divertem pra valer, por longos dias, ao som de antigas marchinhas (estas, sim, repetitivas), puxadas por orquestras  chupa-catarro E os desfiles de escola   de samba do Rio,  que são só um pouco mais animados que um desfile de  7 de Setembro? Pois é, tem gosto pra tudo.

"O circuito do Centro está morrendo" .

 É verdade, estive lá durante o carnaval e nunca vi tanto defunto. Mas eram  uns defuntos diferentes,  parecendo que houve  ali uma ressurreição em massa de mortos atrás de alegria.. Aquele imenso cemitério da Avenida Sete, da Castro Alves e da Carlos Gomes é o mais animado do mundo. É tão bom, que os cadáveres  têm a oportunidade ímpar de curtir  atrações que animam os sepultamentos em dois momentos: na ida por uma avenida e na volta por outra. Esse discurso da morte do carnaval do centro se assemelha ao do   referido acima, "dos dias contados do folião pipoca" , coisa de disco arranhado.

"Lindos blocos de samba na avenida. Um alento de originalidade e criatividade musical. Belos, muito belos e emocionantes".

 É verdade. Os blocos de samba na avenida emocionam, mas Guerreiro não os incluiu inicialmente entre aqueles que se salvam. E estes belos e emocionantes são do funeral festeiro, onde o "circuito está morrendo".

Guerreiro termina reforçando  a idéia de uma Fundação do Carnaval para se preocupar o ano todo com nossa "esbórnia maior". Idéia antiga, mas boa. E viva a esbórnia"!

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Última atualização em Dom, 13 de Abril de 2008 23:28
 

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