Aguinaldo Timóteo quis me bater. Charles viu. Por Galindo Luma |
Comportamento | |||
Seg, 28 de Abril de 2008 08:04 | |||
Esse lamentável episódio ocorreu em 1998, portanto há 20
anos. Lamentável por que nesse período eu não tinha ainda a consciência do
politicamente correto, quando cheguei a cometer um ato de preconceito - isso
mesmo,
preconceito contra um homossexual famoso.
Não que fosse um homofóbico, mas usei o surrado rótulo de "bicha"" com o
objetivo de atingir alguém que eu não gostava e não gosto,uma figura abjeta, de
posições políticas atrasadas, conservadoras, sempre fazendo coro com a hipócrita
elite brasileira. Me arrependo, em que pese os atenuantes das circuntâncias.
Talvez o exemplo sirva de aprendizado para outros.. Vamos ao caso. O Bahia tinha montado um belo time de futebol e viria a ser campeão brasileiro. Num dos jogos da Fonte Nova estava lá, torcendo pelo glorioso Clube Atlético Mineiro. A torcida mais animada e aguerrida do Brasil - a única que se assemelha ao torcedor argentino -, estava ladeada à esquerda e à direita pela belíssima torcida do Bahia. Do outro lado à direita da grade que nos separava tinha um torcedor ilustre, Agnaldo Timóteo, bem próximo a mim, coisa de dois metros. Todo mundo dizia que ele namorava com o lateral direito Zanata, jogador consagrado e que tinha o passe perfeito. Em muitas oportunidades, em suas bolas enfiadas pelo ladinho , Bobô, com sua elegância sutil, terminava por empurrar pra dentro ... das redes. Lá pelas tantas, torcedores do Bahia, entre os quais o cantor citado, iniciaram as tradicionais provocações contra os poucos mais de 500 atleticanos, entoando palavrões e xingamentos de baixo nível (galinha, time de puta, time de bichas, nigrinhas etc), procedimentos "normais" num estádio. Na época, estava em curso um confronto na constituinte, entre o que defendiam avanços em favor do país e do povo e os que defendiam os interesses dos banqueiros, latifundiários e grandes empresários - o famoso centrão -, que tinha entre seus quadros exatamente a pessoa que você está pensando. Com raiva dele por ser constituinte reacionário e pela provocação à nossa torcida, me dirigir a ele e gritei: - cale a boca, bicha do centrão. Foi o suficiente para o homem ser possuído por uma fúria descomunal. Ele vomitou todo seu estoque de palavrões - que não é pouco e, pasmem, tentou pular a grade, jurando que ia me moer de pancadas. Só não conseguiu por que um policial interveio e os arames farpados me protegeram daquele brutamonte. Antes de acabar o jogo ele me gritou e disse: - Olhe seu filho da puta. Um dia ainda lhe encontro e você vai conhecer de perto a bicha do centrão. Assustado com as ameaças, tratei de sair mais cedo e, como diz o baiano, me piquei. Pensa você que a história acabou aqui? Não. Na segunda-feira de manhã, quando eu atravesso aquele semáforo em frente a agência da Caixa Econômica, que liga o Vale dos Barris à Avenida setembro, vejo um belo conversível esperando o sinal abrir. Quem dirigia? Ele próprio. Parei bem na ponta da calçada e conferi. Ele ouvia música e se mostrava tranqüilo, num início de um belo dia de sol. Deve ter passado a noite vendo as bolas entrarem - nos programas esportivos noturnos de TV. Quando surgiu o sinal amarelo da outra pista, que livraria o trânsito para ele, criei coragem e gritei: - Ei bicha reacionária, olhe eu aqui de novo! Nisso os carros de trás já estavam buzinando e ele gritou: - Seu filho da puta, é agora que te peg. Desceu do carro e ensaiou correr atrás de mim, mas logo desistiu, já que não conseguiria me alcançar, provocaria um mangue no trânsito e teria seu carro recolhido. E quem é Charles? Oriundo de uma próspera família - família Carmo -, de Euclides da Cunha, que quando aqui chegou, ajudou a prosperar a próspera industria de bebidas, atualmente estuda direito na UFBa - a irmã jura que ele faz direitinho . Tinha 11 anos de idade quando morava nas Mercês e no exato momento em que provoquei o artista estava ele no lugar certo, na hora certa. Toda vez que me encontra ou manda e-mails lembra daquela cena grotesca que assistiu de camarote e ultimamente vinha me perseguindo pra botar no papel. Botei. Vocês gostaram? Ia me esquecendo: por razões óbvias passei mais de uma ano sem circular naquelas imediações. (*) Galindoluma é palpiteiro
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