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A prisão de Lula, o "gozo perverso" da Direita e o colapso da economia. Por Noêmia Crespo
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Comportamento
Sex, 13 de Abril de 2018 02:07

Nomia_CrespoO caso Lula revela a recidiva de uma doença gravíssima no corpo social brasileiro. Chamemos as coisas por seus nomes: trata-se do gozo perverso na prerrogativa de dispor do outro como objeto, como escravo, sem limites.

Lula tem a origem e os traços dos subalternos típicos no Brasil. “Paraíba” (termo empregável para qualquer nordestino) é gíria que designa trabalhador braçal disponível para uso e abuso em trabalhos insalubres, pesados e mal remunerados.

Não devemos esquecer: fomos o último país ocidental a abolir a escravidão.

Nossas elites resistiram muito a abandonar o gozo em dispor do outro como objeto, na condição extrema de escravo, em favor de formas de produção mais lucrativas e mais racionais. A história do Barão de Mauá é um contra-exemplo bastante ilustrativo neste ponto.

Esse gozo perverso, aliás, não se restringe às elites. Recorde-se que, nos tempos da escravidão, até escravos podiam ter escravos. E alguns tinham. Não deviam ser menos cruéis com seus cativos que seus donos eram com eles.

Isso pode ajudar a explicar o enigmático fenômeno dos “pobres de direita”. E, mais ainda, o dos “ex-pobres de direita”. Seriam herdeiros espirituais da Casa Grande, mesmo não sendo herdeiros materiais da mesma.

O mito legitimador da "meritocracia" pode racionalizar o gozo escravista. Permite a um "winner" afirmar seu "direito" de tratar o subalterno como objeto de uso, abuso e descarte - sem limites, nem inibições.

Domingo, Lula foi preso - num processo que, segundo o N. York Times, não seria levado a sério pelo Judiciário de nenhum país civilizado deste mundo (grife-se a palavra "civilizado"!).

Em comemoração a esse magno evento, um cafetão paulista promoveu uma orgia em seu bordel. Ofereceu prêmios a quem matasse Lula na cadeia. Realizou uma “performance” num palco, sob os olhares extasiados dos presentes, humilhando publicamente uma mulher nua, “empregada” do seu estabelecimento. Graças a moralistas sem moral como Carmem Lúcia e Sérgio Moro – cujas fotos estavam expostas no cenário, como patronos do espetáculo – é assim que os herdeiros da Casa Grande reafirmam que podem, querem e vão tratar os subalternos: como se tratam as putas. Como objetos de uso, abuso e esculacho. Não é por outro motivo que chamam os petistas de “vagabundos” - “vagabundas” é outra designação para “putas”.

O orgasmo coletivo semimaníaco que saudou a prisão de Lula encontrou nessa cena digna de Genet e do Marquês de Sade sua expressão mais crua, mais ostensiva – e mais sintomática.

Depois do golpeachment – Cazuza foi profético - transformou-se o país inteiro num puteiro, ou em algo mais próximo disso do que antes. A prisão de Lula representou um “esforço a mais”, um passo a mais nesse sentido.

Nos dois últimos anos, efetivamente, alguns estão ganhando muito dinheiro - em “temerosas” transações. Mas não a esmagadora maioria dos que se regozijaram com a prisão de Lula; mesmo estando, hoje, mais pobres que nos tempos de governos petistas.

Muitos dos que estão tendo orgasmo múltiplo com a prisão de Lula foram empobrecidos por Temer & Quadrilha. Mas parecem conformados com o colapso da economia, a baixa nos seus negócios, sob o desgoverno golpista. Estão tendo outro tipo de ganho. Lula preso significa a promessa de retorno aos "bons tempos", quando se podia esculachar impunemente os subalternos - tratá-los como o dono do bordel paulista fez com a "sua" puta.

Aquela performance do cafetão foi a mostração didática do que está em jogo, hoje, no Brasil. Foi a leitura dramatizada da verdadeira carta de intenções dos herdeiros, materiais e espirituais, da nossa Casa Grande.

A Rede Globo não teria conseguido suscitar tanto ódio, de tantos brasileiros, a quem deixou o governo com 85% de aprovação, se não tivesse reativado algo latente; algo que estivesse, apenas, esperando a melhor oportunidade para irromper. O câncer do gozo escravista voltou, e com força total. Esperemos que, desta vez, não leve o Brasil ao cemitério da civilização.

Noêmia Crespo é psicanalista

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