A inveja é uma raiva injusta! Por Francisco Daudt |
Comportamento | |||
Seg, 26 de Agosto de 2019 19:44 | |||
A inveja é uma raiva injusta. É esquisito, porque a raiva vem do sentimento de injustiça; ela é vital para que alguma coisa seja feita e a injustiça seja corrigida. Sem indignação não há justiça. No entanto, se meu vizinho considera-se insultado/injustiçado porque meu carro é mais bonito do que o dele, se isso lhe provoca uma raiva chamada inveja, precisamos entender essa injustiça que ele sente, ou melhor, julgar essa injustiça. Quem a praticou? Quem está prejudicando o vizinho? Lembrando da frase de Tom Jobim, “no Brasil, sucesso é insulto pessoal”, suspeito de que o invejoso se sente um merda diante do outro, que para ele posa de fodão e com isso o humilha. Se esta hipótese estiver certa, para haver inveja é necessário se estar envolvido nessa crença de que o mundo se divide em fodões e merdas, sem meio termo, o risco de humilhação é permanente e pode vir de ações intencionadas ou não. Nesse caso, ter sucesso (ou ter um carro bonito) equivale a chamar os outros de merda, e isso definitivamente causa raiva – a raiva da inveja. A crença no fodão-merda ganhou um impulso imenso com o aparecimento das redes sociais, onde as pessoas parecem dedicadas a despertar inveja nas outras, exibindo um excesso de felicidade que não parece – suspeito eu – apenas vontade de partilhar com amigos seu bom momento. Por fim, é preciso contemplar que ninguém é imune ao sentimento de inveja, e que é preciso distingui-lo da admiração que desperta a vontade de ser/ter/fazer igual. Também necessária é a distinção entre sentir e operar a inveja: o simples sentir não causa o dano que o invejoso opera ao pegar um prego e riscar a pintura do meu carro. Venho pensando em como definir a inteligência. Comecei com: “capacidade de usar dois memes (unidade básica de memória transmissível, na definição de Richard Dawkins) para formar um terceiro”. Porque eu busco a coisa mais beabá possível, para daí partir para a complexidade. A complexidade humana envolve e contempla o desejo, então a inteligência usa seu mecanismo para satisfazer o desejo o mais amplamente que puder. O desejo, por sua vez, se inicia com o impulso de replicação do DNA, e vai se tornando mais e mais complexo à medida que coleciona memes de satisfação. A complexidade aumenta na medida em que tem de levar em conta a sobrevivência e a autopreservação. Ao final, a inteligência de uma pessoa será maior quanto mais ela alcançar a satisfação do desejo sem se ferir ou morrer.
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