Bonner: quem planta fascismo não pode ir à padaria em paz. Por Nathali Macedo |
Comportamento | |||
Sáb, 30 de Maio de 2020 03:29 | |||
A entrevista de Willian Bonner ao Conversa com Bial na madrugada de hoje é mais uma triste amostra do que vêm colhendo todos aqueles que de algum modo apoiaram o golpe e fecharam os olhos para o
bolsonarismo
São eles, na verdade, os primeiros e verdadeiros responsáveis pela onda fascista que temos experimentado nos últimos anos. Na conversa – por videoconferência, cada um na sua casa, é claro – Bonner reclamou da crescente cultura do ódio nas redes sociais e nas ruas e dos ataques à imprensa. "Minha quarentena começou em 2018, quando a polarização política tornava a minha presença em determinados locais públicos motivo de tensão", disse. Contou, ainda, sobre os episódios de insultos e acusações a ele próprio e ao seu filho Vinícius Bonner. Recentemente, Vinícius teve seu nome usado por um criminoso para solicitar o auxílio emergencial, em uma das fraudes que, segundo Bonner, vêm acontecendo há três anos. "Ele não fez isso pra ficar com os 600 reais. Fez isso para que o filho do âncora do Jornal Nacional aparecesse como alguém que fez algo muito feio", disse, ao comentar o episódio. As histórias do pobre âncora perseguido e insultado apenas por fazer o seu trabalho (coitado!), vão de falsidade ideológica a agressão verbal por uma bêbada numa padaria numa manhã ordinária de sábado. "Pessoas que hoje estão me xingando, dois, três anos atrás, batiam palma", comenta, buscando conferir à própria voz algum tom de absurdo. O âncora e editor-chefe do Jornal Nacional, homem de confiança da família Marinho, embaixador do antipetismo no horário nobre, se vê no direito de reclamar do ódio bolsonarista? Faça-me uma garapa. O gado de Bolsonaro – esse monstro que a Globo ajudou a criar e alimentou por muito tempo – só responde ao berrante de seu líder. Sempre foi assim. Agora que grande parte desse ódio (um ódio eclético, convenhamos, que vai de Marcelo Freixo à Organização Mundial de saúde) está direcionado à Globo, Bonner finge surpresa? Será que quando dava publicidade aos áudios criminosamente vazados por Sérgio Moro em matérias gigantescas cheias de acusações a Lula e ao PT, ele imaginava-se ajudando a criar um monstro tão perverso quanto este do bolsonarismo? Quando endossava a narrativa cínica e antidemocrática que abriu alas para o golpe contra Dilma, poderia supor que o que viria depois seria o fascismo, a barbárie e a incivilidade? Mesmo com esse gostinho de "eu avisei", um progressista que se preze não se sente satisfeito com a perseguição ao filho Vinícius, não ri dos insultos de uma bêbada às 10 da manhã, mas, verdade seja dita: Bonner não é uma vítima – no máximo, vítima da própria narrativa fascista que fugiu ao controle. É triste viver num país onde ódio virou uma bandeira, mas todos aqueles que contribuíram para essa catástrofe são cúmplices. Quem planta ódio e fascismo não pode ir à padaria em paz. Força, ícone. Artigo publicado originalmente no DCM https://www.diariodocentrodomundo.com.br/bonner-quem-planta-fascismo-nao-pode-ir-a-padaria-em-paz-por-nathali/
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