Caetano endireita língua-pátria por Marcos Luna * |
Comportamento | |||
Sáb, 07 de Novembro de 2009 09:10 | |||
Ainda nos meados doséculo 20, um filósofo declarara que o homem se definia de
acordo às suas circunstâncias (OrtegaGasset). Muito embora fosse ainda naquele
período, redarguido que o mesmo homem teria direito às suas contradições
pessoais (Sartre).Mormente nos dias de hoje,com a simultaneidade dos fatos
socioculturais e a plêiade de reformas políticas nos países em construção, as
manifestações de cidadãos comuns e de eventuais celebridades, não provocam
assombro merecedor de censura ministerial pública ou de um vaticínio papal
sacralizador dos bons costumes. Nada obstante, cabem aqui alguns breves reparos ao poeta-cantor Caetano Veloso, quando vocifera sua verve preconceituosa contra o presidente Lula. Não cuido - e nem me cabe - de defender o político-estadista em sua performance no exercício do poder; outrossim, contextualizar o viés sociopolítico de um artista em sua costumeira diatribe com "personas" e protagonistas da cena cotidiana brasileira, ou não. "Minha pátria é minha língua...", caberia ipis literis na retórica lulista, uma frase que aquele mesmo cantor reconstruíra numa de suas canções. Disse reconstruíra, posto que o cantor baiano - como de outras vezes - retomara em Fernando Pessoa aquela passagem literária. Não há qualquer pecado na falta de originalidade, afinal, quem há de negar o princípio "lavoisier" construtivo nas vidas humanas e na natureza? O político Lula, por suavez, carece de ineditismo na sua prosopopeia e eloquência popularesca, inspirada que está no dialeto das ruas e nas discordâncias verbais do "populacho", compatibilizado que está com as suas origens. O acadêmico em semiologia sabe que um líder nato de uma nação, um jogador de futebol, um cantor-estrela,detêm o seu carisma, o talento congênito para a linguagem gestual, na sua verbalidade, na coerência de suas atitudes e na vivência em sua comunidade. Não me deixo convencer pelo argumento que justificaria a verborragia deselegante do poeta-cantor, doutro modo bem aotalante da elite branca paulistana separatista, mas que se coadunaria com abusca de uma notoriedade perante uma improvável reação do presidente Lula um homem-ignorante, segundo o Caetano Veloso. "Fala como sábio a um ignorante, e este te dirá que tens pouco bom senso" (Eurípides). Atribuo ao Caetano Veloso uma postura política conservadora e de crítico de costumes sociais, onde a clareza do seu lado político se perde no eclipse de suas belas melodias... que o consumismo capitalista (re) coloca sempre numa perspectiva de efemeridade. O homem-político por sua vez é portador de uma complexidade existencial, ademais quando ele advém de extratos sociais baseados em carências - de todos os moldes - históricos num País ainda marcado pela absurda concentração de riqueza e desigualdade de oportunidade para a maioria "dos filhos teus" -"... que fala errado, é grosseiro como o Lula..." - como declamou Caetano ao jornal o Estado de São Paulo. Há lugar para todos e para tudo neste País, que nestes tempos pós-crise financeira, começa a superar o complexo de inferioridade perante os hegemônicos ocidentais. Então me permita resgatar o escritor Nelson Rodrigues: "... o brasileiro, sua elite em particular, tem o complexo de vira-lata: o que é bom e melhor vem de fora do país. "Falemos como os anglo-saxônicos e franceses e admiremos as suas pátrias!" Em tempo, o que tem acontecido com os bolsistas especialistas e doutorandos brasileiros quando têm que falar a língua dos "homens brancos de olhos azuis no exterior"? Aprendem que a suapátria está presente na sua capacidade de se comunicar com inteireza e autenticidade. Esta postura digna somente se alcança quando você conserva as raízes da sua cultura. Não poderia concluir este breve comentário sem recomendar ao aludido poeta, a releitura de Patativa do Assare. Este também um nordestino, pobre, ignorante e autodidata. Formalmente um brasileiro semi-analfabeto e inculto, pois não cursou o nível superior de educação. Umpoeta popular cearense com a fala e a escrita claudicante no português-línguapátria. : um típico sertanejo, homem do povo brasileiro: um poeta de reconhecimento mundial. * Marcos Luna Médico pós-graduado na Harvard University e Ufba Artigo publicado originalmente em A tarde de 07 de Novembro
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