Lula foi humanidade demais. Por Gustavo Conde |
Cidadania | |||
Sex, 01 de Maio de 2020 18:21 | |||
Lula foi humanidade demais para um país com humanidade de menos. Ele quase nos enganou a todos fazendo a gente acreditar que éramos fortes, felizes, solidários, bonitos, politizados e soberanos.
Com Lula, até a elite brasileira passava por gente civilizada. Eram recebidos no exterior com festa e sorrisos. Lula quase nos fez acreditar que o Brasil era um dos melhores países do mundo - e que o povo brasileiro era o povo mais amado do mundo. Foi bom enquanto durou - e quem viveu, viveu. Não, eu não perdi as esperanças. O que Lula fez aqui é muito forte. É o maior brasileiro de todos os tempos. O meu problema é com o tempo. Legados históricos da dimensão desses que Lula nos deixou, quando esmagados por inimigos da vida humana, levem tempo para se restabelecer. A grandeza do legado de Lula é justamente o sentimento de falta que irá habitar os nossos corações daqui para frente - porque recuperar aquele Brasil soberano deste holocausto causado por nosso genocídio estrutural levará décadas, na mais otimista das previsões. A travessia será longa. Ter vivido a experiência Lula, no entanto, nos deixa um sentimento poderoso de força política e existencial. Nós fizemos parte de um sonho, de um Brasil único, do maior espetáculo humanista que o planeta já assistiu. O efeito Lula foi tão forte que até políticos conservadores tentavam, em meio ao governo mais civilizado que já tivemos, produzir resultados sociais em benefício do pobre trabalhador, tal era a dimensão de generosidade subsidiada por Lula com seus discursos e suas ações. As condições históricas para o surgimento de um novo Lula, infelizmente desapareceram. É como se diz no popular: a "forma" foi jogada fora. Lula foi 'beneficiado' pela sede de democracia que habitava os corações do povo brasileiro depois de 21 anos de ditadura genocida. O PT foi criado nesse espírito: de tesão pelo voto popular, de tesão pela cultura, de tesão pela vida. Essa é a ferida insuportável que detratores do PT enfrentam diante de suas vidas sem sentido e sem propósito: a máquina afetiva que faz girar a identificação de um povo com o território que habita - fenômeno também chamado de 'país' - sempre estará em Lula e no PT. O movimento de destruição que nos acometeu parte deste princípio: para tirar Lula e o PT da história, foi preciso destruir o país inteiro. Mas a história não tem face nem ideologia. O lugar de Lula e do PT está indelevelmente cravado em nossa retina e em nossa memória, ainda que esta última passe por momentos de repressão e apagamento, estimulados por emissoras de televisão e jornais de segunda classe. Lamento informar a esses setores do ódio: a história não vai apagar Lula, mas sim, vocês - senão apenas pela lembrança da miséria política que vocês, do alto de abjeta prepotência genocida, instalaram neste país ao longo de décadas de golpes, de favores e de cumpliciamento com regimes de força. A memória de um povo nasce da relação real entre cidadãos e lideranças sociais, do contato direto da população com democracia, via linguagem política. Quem construiu essa relação com o povo brasileiro foi Lula. E quem viveu essa emoção de participar de fato do processo político, quem viveu a emoção adicional de experimentar o sucesso estrondoso das políticas sociais humanistas promovidas pelo maior partido democrático deste país, sabe do que estou falando. Nós realizamos um sonho e esse sonho realizado - que habita a nossa identidade política - vai nos levar de volta ao encontro da democracia e da alegria de reencontrar um país solidário e respeitado. E se demorar, não importa, pois este sonho de um país melhor e mais justo constitui a nossa identidade política. Cade um de nós é um país. Cada um de nós que respeitamos as vidas humanas é um país, um país que deu certo, um país de sonho, uma país de humanidade. Que façamos jus a este sentimento de saudade, mas também de esperança. E que saibamos construir um novo momento histórico que permita o surgimento de líderes como Lula, que não têm medo de enfrentar o sistema e que multiplicam as nossas características mais humanizadas. Um feliz Dia do Trabalhador a todos.
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