Não surpreende, portanto, que o MAS se encontre novamente às portas do poder.
Como em toda democracia em colapso, as articulações entre as diferentes forças políticas dos próximos dias serão tão importantes como o resultado do voto popular deste domingo (18).
A interrupção do sistema de contagem rápida dos votos horas antes da ida às urnas deixa pensar que o regime está disposto a tudo para impedir a eleição do MAS.
No entanto, a geopolítica de outubro de 2020 é muito diferente da de novembro de 2019. Os EUA se encontram em plena transição, e a OEA e o governo brasileiro perderam a credibilidade necessária para pesar na política doméstica.
Nesse contexto, as forças militares não dispõem da mesma margem de manobra para repetir a artimanha de um ano atrás.
Mais uma ruptura do processo democrático seria inaceitável até para os modestos padrões latino-americanos. O MAS, que resistiu bravamente a incessantes manobras de intimidação e violência política nos últimos meses, terá como principal desafio mostrar que tem condições de superar o ciclo da liderança carismática de Evo.
A tentação de se agarrar ao chefe para se perpetuar no poder é uma patologia comum a formações da esquerda latino-americana que, em situações extremadas, pode levar a pesadelos como o do chavismo na Venezuela.
Para convencer os bolivianos e os observadores internacionais, o candidato do partido, Luis Arce, terá de mostrar liderança e autonomia nesse momento decisivo. Erradamente caricaturada como remota e exótica, a Bolívia, na realidade, reúne todas as peças do mosaico da América Latina.