Como Dilma mudou o debate da corrupção ao sair da defensiva para a ofensiva por Paulo Nogueira |
Cidadania | |||
Ter, 23 de Setembro de 2014 09:25 | |||
Pouca gente parece ter notado, mas Dilma achou uma boa saída para a questão da corrupção. Ela saiu da defensiva para a ofensiva. A linha básica de sua argumentação sobre o assunto é que a corrupção não era investigada antes e agora é. Daí a diferença. É, de certa forma, um raciocínio educativo. O brasileiro médio se acostumou erradamente a pensar que corrupção só existe no Brasil. Mais especificamente: só em governos populares, de Getúlio a Jango, de Lula a Dilma. A explicação de Dilma é parcial. Ela fala no ímpeto investigativo da Polícia Federal, do Ministério Público e da Procuradoria Geral. Lembra que, na era FHC, o procurador geral, Geraldo Brindeiro, era conhecido como engavetador geral, por evitar mexer em casos de corrupção no governo. Segundo a Wikipédia, dos 626 inquéritos criminais que recebeu, Brindeiro engavetou 242 e arquivou outros 217. O que Dilma não disse, provavelmente para evitar atrito com a mídia, é que jornais e revistas, em administrações amigas, também foram engavetadores de denúncias e escândalos. No caso mais gritante na gestão de FHC, a compra de votos para que a emenda da reeleição passasse no Congresso simplesmente foi ignorada. Procure no arquivo da combativa Veja as reportagens sobre a compra de votos para FHC. Nada. Tente agora o arquivo do Jornal Nacional. Nada. Mesmo a Folha, que trouxe o depoimento de um deputado que vendeu seu voto, teatralmente chamado de Senhor X, logo abandonou o caso. Não retomou nem para informar a seus leitores quem era X. Só dezesseis anos depois, por conta de um livro sobre o episódio, seus leitores souberam que se tratava do ex-deputado Narciso Mendes, do Acre. Num exemplo dramático, o Brasil da ditadura era, no noticiário da Globo, um país sem corrupção e sem corruptos no poder. Escândalos eram engavetados. Roberto Marinho agia como Geraldo Brindeiro, bem como os demais barões da imprensa. Isso levou muitos brasileiros a acharem que nos tempos dos generais éramos um país melhor, mais limpo e mais ético.
A seletividade da mídia na escolha das denúncias a cobrir foi responsável também pelo sentimento de impunidade de políticos amigos dos donos das grandes empresas de jornalismo. E pelo descaro deles, também. O caso mais recente é o de Aécio, que usa a corrupção demagogicamente como arma para influenciar eleitores menos politizados e mais suscetíveis de manipulações pseudomoralistas. Coube a Luciana Genro desmascarar esse tipo de hipocrisia numa intervenção antológica no debate promovido pela CNBB. Luciana Genro “mitou” naquele momento, para usar uma expressão corrente hoje. Corrupção é uma praga mundial, e deve ser combatida todos os dias, e todas as horas. Mas usá-la capciosamente para atingir adversários ou favorecer amigos é, também, um ato extremamente corrupto. Dilma e Luciana Genro, cada qual do seu jeito, puseram contexto na questão da corrupção. É um avanço na caminhada rumo a uma sociedade madura. Sobre o AutorO jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo. Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/como-dilma-mudou-o-debate-da-corrupcao-ao-sair-da-defensiva-para-a-ofensiva/
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