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Arrastão eleitoral por Paulo Fábio
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Seg, 13 de Setembro de 2010 21:39
paulo-fbio-.jpgSucessivos resultados de pesquisas de intenção de voto para presidente sugerem que está em curso um arrastão eleitoral. O projeto de poder encarnado, no momento, pela candidata Dilma Rousseff ultrapassou a barreira da lógica plebiscitária e alcança a da pura e simples aclamação. Não estará delirando quem concluir que, a esta altura, diante dos números antecipados, a eleição é um ritual aritmeticamente supérfluo, embora conserve sua importância para legitimar a estratégia aclamativa dos vencedores e para sinalizar que algo dissonante ainda se ouve sob o domínio dessa acachapante harmonia.

Como reconhecer no País que vota hoje tão harmoniosamente aquele País que ao superar a ditadura tornou-se palco de conflitos políticos e sociais capazes de fazer de eleições momentos de real escolha política? Uniformizaram-se os interesses e cessaram suas contradições? Sintonizaram-se os valores, a ponto de o espaço da divergência ser agora apenas um beco estreito onde moram elites saudosistas e bichos resmungões? Esta é a aparência, mas olhando com calma veremos que os interesses, valores e elites permanecem distintos e em vigor.

Apenas arquivaram, por ora, a política como meio de solução das disputas que continuam a travar todo dia ao pé do trono, digo, da cadeira presidencial. A eleição é só um intervalo do qual tratam de se livrar com objetividade.

Exemplo cabal de recusa da política pela oposição é o fato de a campanha do principal adversário da candidata da situação ter almejado, de modo inverossímil, para não dizer patético, vendê-lo como homem que também "veio de baixo". Serrada ao meio, a antes consistente identidade política do candidato tucano tornou-se vulnerável.

E o espetáculo dos adesismos Brasil afora, Bahia incluída? Não se ouvem, sem muita dificuldade, vozes oposicionistas que critiquem com clareza aquilo que lhes incomoda.

Atacam a elite do PT, a imposição da sua candidata, mas o fiador de ambas segue intocável.

Em eleições estaduais, governadores petistas recebem críticas provincianas à sua performance, mas não à sua política. Esta é blindada ao dizer -se, também provincianamente, igual à de Lula. Há exceções, em candidatos de pequenos partidos, mas não na oposição que se supunha eleitoralmente competitiva. Vindas de fundamentalistas doutrinários, ou de franco atiradores, críticas isoladas, mesmo quando sinceras, carecem, não só de espaço, mas também de fundamento político prático e senso de proporção. E o contraditório não chega, de fato, ao eleitor.

O comportamento dos que recebem as adesões não é menos corrosivo do ambiente político. Se a oposição foge da política, o governismo a deprecia. Ao se verem cercados de neo-aliados, governos e lideranças petistas jamais se declaram fartos. Pelas regras do pragmatismo fast food que adotaram, critérios e coerência são crimes de lesa-aliança.

Comtudo isso, não admira que o eleitorado tenda à unanimidade. Pode-se achar que busco explicações complicadas para o fato simples, irrefutável chamado vontade do povo.

Mas é dever dos que estudam o mundo da política levar ao público uma visão diferente da que lhe é servida, em doses publicitárias, pelos que estão, literalmente, com a mão na massa. Afinal, o eleitor não vota conforme um desejo autárquico, soberano e, sim, conforme um cardápio que elites e partidos lhe fornecem.

Para quem busca em argumentos políticos um critério para definir seu voto, o momento é ingrato. E pode-se prever que será mais ainda quando se fechar a cortina do espetáculo eleitoral. Será um período difícil, com frustrações, incompreensões e riscos no caminho de quem valoriza a alteridade democrática, a ética pública no trato de questões públicas e a opinião como o motor mais potente da vida política. A opinião já é hoje evento raro, vista em geral como incômoda e irrealista, nesta democracia sem república, terreno onde opiniões majoritárias vestem o manto imperial de verdades irrefutáveis. Não é à toa que em programas eleitorais de rádio e TV números ocupam cada vez mais o espaço da palavra.

Candidatos perderam o hábito do argumento. Presos a "fatos", consumam-se como factoides e como tal são, de fato, consumidos (sem aspas).

Artigo publicado no jornal A Tarde, 13/09/10, p.2

Paulo Fábio é cientista político e professor da UFBa.

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