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A pinça antidemocrática, por João Feres Jr
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Dando o que Falar
Seg, 02 de Maio de 2016 08:49

joao_feres_2O golpe hoje em andamento no Brasil é produto de uma situação muito particular em que as forças progressistas, o que chamamos de esquerda democrática, se encontram, parte por sua responsabilidade e parte por urdidura de seus adversários.

Daí vem o título desse artigo. “Pinça”, porque a esquerda democrática está sendo espremida por duas outras forças político-ideológicas: a direita e a centro direita, lideradas pelo PSDB, e que congrega o empresariado e a classe média branca e tradicional, e os evangélicos, uma direita de costumes liderada por Eduardo Cunha e um conjunto de políticos de uma cesta de partidos fisiológicos, que tem a sua base social encravada nas periferias das grandes cidades e em setores da nova classe média.

A primeira força política tem um contorno partidário mais delineado. Temer e a fatia do PMDB que ele comanda pertence a ela, seja por razões históricas ou proximidade ideológica patente. O mesmo pode se dizer do velho DEM, parcelas do PTB, do PP e do PSB – convertido às hostes direitistas na campanha presidencial de Eduardo Campos e Marina. A “boa nova” trazida por essa gente cheira a mofo dos anos 90. É o velho neoliberalismo, com o perdão do paroxismo, agora ainda with a vengeance, como se diz inglês, isto é, querendo descontar as décadas que passou esquecido, relegado ao aterro sanitário das ideologias. Sua palavra de ordem é uma só, bem sintetizada por José Olympio Pereira, Presidente do Credit Suisse no Brasil, em palestra recente na Brazil Conference de Boston: privatizar tudo.

A outra perna da pinça é a direita evangélica, sem perfil partidário tão definido, pulverizada pelo sistema político, mas que forma um bloco bem efetivo e militante na Câmara dos Deputados e conta com o intocável Eduardo Cunha como líder supremo. Esse grupo está revolucionando o sistema de direitos criado pela Constituição de 1988, ou melhor, involucionando, se me permitem o neologismo. As bancadas da bala e do boi gravitam em torno destas duas forças, a primeira mais próxima dos evangélicos e a segunda da perna neoliberal da pinça.

O que esperar de tal situação? Supondo que o golpe tenha vencido, e a esquerda democrática seja alijada do executivo federal e fique isolada no Congresso, o que esperar das forças vencedoras da pinça?

Como disse com grande propriedade Fabiano Santos, meu colega e amigo, quando lhe defrontei com tal análise: trata-se de uma “coalizão de veto”. Ou seja, o que essas duas forças têm em comum é o projeto de derrubar o PT e não muito mais que isso. É claro que trata-se de aliança assimétrica, a perna neoliberal terá muito mais poder: presidente, grande parte do gabinete e o apoio do capital financeiro e industrial. Do outro lado, Eduardo Cunha, por mais que tenha demonstrado incrível capacidade de sobrevivência, continuará radioativo para o resto de sua vida. E seus liderados são uma massa de parlamentares do baixo clero com capacidade limitada de articulação política, ainda que possuam o peso dos grandes números.

Sem entrar em cálculos partidários futurológicos arriscados, pesemos o seguinte. O usurpador Temer começará seu governo com um déficit de legitimidade popular, já demonstrado nas pesquisas. Tanto o PMDB como o PSDB terão como prioridade viabilizar candidatos para a eleição de 2018 enfrentando esse problema do déficit de legitimidade e o fato de serem governo em um contexto de crise. Por mais escandaloso que seja, o golpe foi levado a frente perante a opinião pública como uma cruzada contra a corrupção, com o auxílio luxuoso da grande mídia. É desta bandeira que o front neoliberal espera capitalizar alguma legitimidade. Cunha, por seu turno, converteu-se em símbolo mor da corrupção política em nosso país. Não é recomendável para a aliança carregá-lo como aliado até a eleição. Afinal, sua presença expõe aos olhos do cidadão comum, a todo instante, o caráter hipócrita da urdidura.

Em outras palavras, por mais que tenha conseguido se garantir no poder com o beneplácito do STF, mais preocupado com seus salários do que com a saúde da república, do ponto de vista da perna neoliberal, Cunha tem que partir, mais cedo ou mais tarde. E é no timing de sua partida que está o x da questão. Ela não pode tardar muito, pois as reformas pretendidas pelos neoliberais afetam diretamente as periferias das cidades grandes onde os evangélicos têm suas bases eleitorais. Assim, esses deputados vão querer se apresentar como dissociados da perna neoliberal quando a eleição chegar. Seguindo esta lógica, a perna neoliberal vai vir com tudo em cima do Congresso, tentando aprovar as reformas por eles tão sonhadas o mais rápido possível, antes que a coalizão de veto exploda. Para tal, precisam contar com a massa do baixo clero liderado por Cunha. Até quando Cunha vai garantir sua permanência? Quais serão seus termos de rendição? Enquanto isso, a sociedade que se prepare para tentar resistir ao golpe com todas as suas forças.

Artigo publicado originalmente em http://jornalggn.com.br/noticia/a-pinca-antidemocratica-por-joao-feres-jr

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