O avanço da idade já não me permite ser tão duro com os que viveram mais que eu. De qualquer modo, existem pessoas que, mesmo já tendo vivido além da expectativa de vida do brasileiro, se deram conta da virada do século.

Aliás, gente que, como o jurista Fábio Konder Comparato antecipou-se ao novo século e de há muito tem falado no presente o que muitos sequer ensaiariam cogitar como futuro.

A citação a Comparato é aleatória e poderia estender-se a muitos outros, vivos ou não e poderia ensaiar uma lista longa e incompleta de homens e mulheres que enobreceram a história do Brasil em suas múltiplos vertentes. Mas, nesse instante, falo de idade para registrar a vergonha que sinto e que pode ser a de muitas pessoas, a propósito de um senhor chamado Fernando Henrique Cardoso, apaniguado pela denominada grande mídia.

Aliado da mídia golpista, segue a trilha de Aécio Neves, usando termos calculados e amenos, falando de trégua, criando espaço para um bote qualquer. Enquanto isso, na surdina participou da articulação do golpe em curso, e antes de receber o aval das “forças estranhas internacionais”, dizia que não queria o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. “Quero apenas ver a Dilma sangrar”. Eis a fala que a mídia entreguista a ele atribui.

Na condição de protegido, até um profissional de marketing de nome Mentor Neto, com muitos seguidores numa das redes sociais, chegou a registrar sua inquietação pelo interesse de muitos quanto aos supostos crimes praticados por Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, além de não ter importância, a essa altura da história, se ocorreram, já deveriam ou devem estar prescritos. Não necessariamente com essas palavras, mas o fato é que recebeu muitas curtições e comentários.

Nesse contesto, fatos se sucedem. Uns especulativos, outros próximos à realidade, outros reais mas distorcidos. Ao sabor da conveniência da mídia golpista, usam verdades para vender mentiras e até escondem verdades. Assim, ao sabor das conveniência cumprem o papel desinformativo e alienante, de maneira a anestesiar parte da sociedade quanto á podridão política.

Ainda que com certo atraso, gostaria de dizer de público ao senhor Mentor Neto, que é importante, sim, conhecer os crimes praticados por Fernando Henrique, caso tenham mesmo ocorrido. Assemelha-se à Comissão da Verdade, que embora não tenha se prestado a punir ninguém, nem mesmo torturadores, sequestradores, traçou um quadro incompleto de parte da realidade brasileira.

Se não por fatores históricos ou para reposição da verdade, mas pelo menos por razões práticas, a sociedade brasileira precisa saber, sim, sobre os tais crimes. Afinal, vivemos instantes de exploração de alguns fatos e factóides sem que se discuta a essência de nada. Conforme conveniência, caso x ou y é fulanizado ou partidariza, até mesmo escandalizado. Pedalinhos, triplexes, qual vinho a Presidenta Dilma Rousseff bebeu em Liboa ganham importância maior.

Queremos sim saber os crimes de Fernando Henrique Cardoso, nesse país de investigáveis e não investigáveis. FHC foi e é um deles. E, como dito acima, por razões práticas teremos eleições presidenciais em 2018. Tecnicamente, a sociedade terá dois cabos eleitorais representados por dois ex-presidentes. Um totalmente escrachado pela imprensa e outro sempre paparicado. De um lado, um que mandou apurar tudo e outro que mandou engavetar.

Em 2018, um cabo eleitoral que teve sua vinda investigada a fundo, foi vítima de tentativas de prisões ilegais, sofreu abusos por supostos crimes não provados. Do outro lado, um cabo eleitoral nunca investigado, a quem nunca foi perguntado por que não investigou a Petrobrás. De um lado, o representante do Instituto Lula, escrachadamente investigado e de outro o do Instituto FHC, cujo titular, ainda na Presidência da República rodou o chapéu entre empresários.

Não, não cavalheiro! A sociedade brasileira terá durante o próximo pleito presidencial, um cabo eleitoral "que ganhou" um sítio e foi capa da Veja e outro que "ganhou" um apartamento em Paris e virou príncipe. Um que mora nas páginas policiais e outro que mora nas colunas sociais. Um que ganhou eleições com votos legítimos e outro que comprou eleições.

Sequer cabem comparações sobre quem se ocupou mais das questões essenciais do País ou quem esteve mais próximo da pirâmide de Maslow. Queremos, sim, a verdade. Precisamos, urgentemente, puxar a capivara do senhor FHC.

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