Novo ídolo dos bolsominions, Gabeira vive feliz num abraço hétero com a extrema direita. Por Kiko Nogueira |
Dando o que Falar | |||
Seg, 10 de Setembro de 2018 03:58 | |||
Um dos momentos mais bonitos da sabatina de Bolsonaro na Globo News se deu quando o candidato disparou: “Você sabe que sou apaixonado por você, né, Gabeira?” Ao final, se animou mais: “Vou dar um abraço hétero no Gabeira agora!” Conquistou o coração dos bolsominions. Mas Fernando Gabeira é ídolo da extrema direita há algum tempo. Vou repetir o que escrevi aqui: Tem um passado na luta armada, sequestrou o embaixador americano Charles Elbrick, vestiu tanga de crochê e hoje é um convertido, alguém que enxergou a luz e abandonou a heresia marxista para ficar ao lado dos cidadãos de bem. Subiu nos palanques do golpe e posou sorridente com os fascistas do MBL, a quem naturaliza com palavras melífluas. Em 2017, escreveu que a milícia, “um movimento que se destacou na oposição ao governo de esquerda, tem uma clara opção liberal”. Àquela altura, qualquer cidadão medianamente informado — e o Gabeira é jornalista — sabia das picaretagens da galera em nome desse liberalismo. Ele não titubeou em apoiar a intervenção militar no Rio de Janeiro no dia seguinte ao decreto, num artigo que circulou bonito pela hordas bolsonaristas. “Não tenho o direito de encarar o Exército com os olhos do passado, fixado no espelho retrovisor. Além de seu trabalho, conheci também as pessoas que o realizam”, escreveu, com autoridade auto outorgada em Haiti. O mesmo Gabeira que passou pano numa farsa arquitetada pela Globo e por um governo corrupto foi convidado pela BBC a falar de Marielle Franco e se saiu com as mesmas relativizações. Marielle sabia qual era o foco da operação e nunca hesitou em expôr a farsa. Onde ela era firme e determinada, o ex-deputado é um peixe ensaboado. “Sua morte é um grande desafio e uma grande agressão a todos nós. Independente de posições politicas”, diz ele. “Não acredito que tenha sido a intervenção militar que a matou. Mas sua morte poderia ser, potencialmente, uma reação à intervenção federal por parte dos setores da polícia que estão sendo atingidos”. Que setores estão sendo atingidos?? Gabeira vive num mundo à parte, advogando uma causa que tem na execução de Marielle um símbolo de seu fracasso. As “posições políticas” que ele desdenha fazem, sim, toda a diferença. Não fossem elas, Marielle provavelmente estaria viva. Gabeira é o epítome do isentão (“Ninguém pode servir a dois senhores”, Mateus, 6:24). Marielle tinha lado. O MBL tem lado. Gabeira finge que não tem. E, nesse sentido, é mais nocivo que os bolsonaros que abraça.
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