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Ciro, Luciana, Maringoni, Tarso, Fornazieri e a “incômoda” Venezuela. Por Valter Pomar
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Dando o que Falar
Ter, 15 de Janeiro de 2019 16:59
Valter-Pomar1Ao comparecer a posse do presidente Nicolas Maduro, a presidenta nacional do PT sabia que seu gesto provocaria ataques da direita brasileira e internacional.
O que talvez ela não imaginasse fosse a reação que surgiria dentro da esquerda e da centro-esquerda brasileira.
A seguir, alguns exemplos disso.
Ciro Gomes (atualmente no PDT) disse que "o PT perdeu o norte. A burocracia do PT perdeu o rumo. Está que nem cachorro que cai do caminhão de mudança. E a dona Gleisi agrava isso. A grande questão é: por que não comparecer à posse do Jair Bolsonaro, eleito dentro das regras, reconhecido internacionalmente, e depois ir para a posse do Maduro, que a esmagadora maioria dos estados da OEA não reconhece legitimidade ao regime". E reverberou o site Sensacionalista, dizendo que “"Há muita gente dizendo que ela é uma infiltrada do Bolsonaro para destruir o que resta da decência e da respeitabilidade do pensamento progressista brasileiro".
Ou seja: Ciro pegou carona no assunto Venezuela, mas sua real preocupação é a suposta contradição existente entre o PT comparecer na posse de Maduro e não comparecer na posse de Bolsonaro.
Ciro considera a si mesmo como parte daquilo que resta de “decência e respeitabilidade” no “pensamento progressista brasileiro”. Mas o que ele agrega como argumento resume-se ao “reconhecimento internacional”, o que pode ser relevante, mas não pode ser determinante para a decisão soberana de um governo ou de um partido acerca de suas relações internacionais. Sem falar que, se reconhecimento internacional também inclui comparecimento a posse, Maduro largou com vantagem frente a Bolsonaro.
Luciana Genro (PSOL) também criticou a presidenta do PT. Segundo Luciana, numa mensagem divulgada pelo twitter dia 10 de janeiro as 9h38, ao representar o PT na posse de Maduro, Gleisi estaria “dando uma mãozinha para aqueles que querem liquidar a esquerda. Mas só uma esquerda mofada para apoiar Maduro a estas alturas. Há muito tempo deixou de ser um governo progressista. E o pior é que a oposição forte é burguesa e elitista”.
O fato é que grande parte da esquerda latino-americana apoia o governo Maduro, mesmo “a estas alturas”. Este apoio não significa, necessariamente, concordância com o que faz ou com o que deixa de fazer o governo Maduro. O apoio provém, muitas vezes, de um raciocínio muito simples: os Estados Unidos e a oposição local buscam maneiras de empurrar o país para uma guerra civil com intervenção estrangeira. Muitos dos que apoiam o governo Maduro o fazem, portanto, como forma de contribuir para impedir que tenhamos, na região, um cenário sírio.
Mas para Luciana esta questão não parece ser decisiva. O importante, segundo sua sintética declaração, é que Maduro deixou de ser um “governo progressista”. Ou seja, diferente de Ciro e suas preocupações com o reconhecimento internacional, o determinante para ela parece ser a linha adotada internamente pelo governo. O que, visto do ponto de vista de Luciana, faz muito sentido; afinal se Maduro merecesse ser apoiado por conta de seus inimigos, isto poderia levar a uma revisão total ou parcial da postura do PSOL frente aos governos Dilma e Lula.
Gilberto Maringoni (PSOL), diferente de Ciro e de Luciana, apoiou a presença de representantes da esquerda brasileira na posse de Maduro. E publicou a respeito um artigo, intitulado “Esquerda: como proceder com governos incômodos?”
Maringoni inicia assim seu artigo com a seguinte pergunta: “como tratar administrações que – sem serem de direita ou neoliberais – apresentam tantos problemas que se tornam incômodas para as forças democráticas e progressistas?”
Portanto, Maringoni se propõe a tratar o problema do ponto de vista das “forças democráticas e progressistas”, não do ponto de vista da esquerda, nem mesmo do ponto de vista de um determinado partido. Acontece que as forças democráticas e progressistas são muito diversas. O que é incômodo para algumas, não é para outras.
O PSOL, por exemplo, fez oposição às duas administrações de Lula (não apenas oposição a Dilma, a quem Maringoni acusa de ter realizado “uma gestão abertamente neoliberal e de direita, em especial em seu segundo mandato”). Já a maioria das forças democráticas e progressistas do mundo e do Brasil apoiou os governos Lula.
Claro: como até o conselheiro Acácio perceberia, uma “maioria” se forma em torno de posições “democráticas” e “progressistas”, não em torno de posições de esquerda, socialistas e/ou revolucionárias. Portanto, a pergunta formulada por Maringoni pode ser adequada para partidos como o PDT e o PSB, mas não é suficiente para determinar a posição de partidos como o PT, o PCdoB e o PSOL.
Ademais, caberia diferenciar claramente a posição que adotamos dentro do nosso próprio país e a posição que adotamos acerca do que se passa em outro país. E caberia distinguir entre a posição de um partido e a posição de um governo, acerca do que se passa em outros países. Nos dois casos, as posições podem ser idênticas, mas também podem ser muito diferentes, por diversos motivos.
Talvez por todos os motivos acima listados, no artigo citado Maringoni diz o seguinte sobre Maduro e seu governo: “Não faz uma gestão democrática. Há denúncias de corrupção e a ineficiência dá o tom em vários níveis de governo. (...) O problema maior está no autoritarismo e na violência. O governo perdeu as eleições legislativas, em 2015. Conseguiu evitar – valendo-se de artifícios jurídicos – que a oposição não obtivesse maioria qualificada para promover alterações constitucionais, mas perdeu a maioria simples. Sem força no Legislativo, o mandatário apelou para um expediente de duvidosa eficácia: convocou uma Constituinte, sem esclarecer a necessidade de uma nova arquitetura institucional. A Carta de 1999, elaborada no governo Chávez, até agora não sofreu qualquer mudança estrutural para melhor. Na verdade, buscou-se ali virar o jogo institucional com a Assembleia Nacional e ganhar tempo para colocar a casa em ordem, enquanto os preços do petróleo não subiam. (...)  Apesar de todos os percalços, a Venezuela controla sua produção, mantém o petróleo sob controle nacional, não adota o neoliberalismo como diretriz e não mudou sua política externa. Há excessos contra a oposição, mas o cerco econômico, político e comunicacional é brutal, bem como ações explícitas de sabotagem. Detalhe: não há alternativa imediata à esquerda de Maduro. A queda do governo conduzirá o país – sob a batuta da extrema-direita local – à condição de semiprotetorado dos EUA, com a alienação das maiores reservas petrolíferas do mundo”.
Repetiremos alguns itens: “Não faz uma gestão democrática”, “denúncias de corrupção”, “ineficiência”, “autoritarismo”, “violência”, “artifícios jurídicos”, “expediente de duvidosa eficácia”, “excessos contra a oposição”.
Por outro lado: “mantém o petróleo sob controle nacional”, “não adota o neoliberalismo como diretriz”, “não mudou sua política externa”, “cerco econômico, político e comunicacional é brutal”, “ações explícitas de sabotagem”, “não há alternativa imediata à esquerda de Maduro”, “queda do governo conduzirá o país – sob a batuta da extrema-direita local – à condição de semiprotetorado dos EUA, com a alienação das maiores reservas petrolíferas do mundo”.
Em resumo, Maringoni elogia aquilo que, dadas as condições concretas, é garantido graças ao que ele critica.
Em decorrência, concluo que se houvesse uma alternativa de esquerda e se a queda do governo Maduro não transformasse a Venezuela num semiprotetorado dos EUA, Maringoni  adotaria outra posição frente ao presidente venezuelano.
Claro, se as coisas não fossem como são, seriam diferentes. Neste caso, todos - Maduro inclusive - adotariam outra posição. Mas como na vida prática esta posição é, digamos, meio “incômoda”, Maringoni usa a Nicarágua para tentar cobrir o flanco: “Para não nos alongarmos, uma menção á Nicarágua: o governo Ortega é indefensável. Uma gestão que investe com mão pesada sobre manifestantes e provoca quase duas centenas de mortes em poucos meses nada tem de popular. Nos dois casos, a esquerda não pode agir com o cinismo do Departamento de Estado, que sempre manteve seus “friendly dictators” tratados a pão de ló. Mas importa saber que algumas linhas não podem ser ultrapassadas”.
Ou seja: mesmo não havendo uma alternativa de esquerda, mesmo que a queda do governo Ortega transformasse a Nicarágua num semiprotetorado dos EUA, não se poderia defender o governo Ortega, porque ele “investe com mão pesada sobre manifestantes” e “provoca quase duas centenas de mortes em poucos meses”, nada tendo de “popular”. Estas seriam as “linhas” que “não podem ser ultrapassadas”. Linhas que, como é público e notório, a extrema direita e o imperialismo fazem de tudo para que sejam ultrapassadas, sempre que estão trabalhando para derrubar um governo.
De toda forma, com os considerandos acima, Maringoni defende que “a defesa da legitimidade do mandato de Nicolás Maduro, em um mundo no qual a direita joga sujo para conquistar espaços, é iniciativa sobre a qual a esquerda não pode vacilar”.
Não sei se o PSOL mandou representantes à posse de Maduro. O PT mandou sua presidenta. Mas isto não quer dizer que dentro do PT não tenha havido muita gente “vacilando”. Pelo contrário, não foram poucos os que criticaram, pública ou privadamente, a posição de Gleisi.
O mais conhecido destes críticos, até agora e até onde eu sei, foi Tarso Genro, para quem a “ida de Gleisi a posse de Maduro não ajuda na reconstrução da imagem do PT”.
Em geral, os petistas críticos são, no fundo, adeptos da equação proposta por Maringoni: “sem ser de direita ou neoliberal”, a administração Maduro apresenta “tantos problemas” que se tornou “incômoda”. Em linguagem popular, são amigos nas horas boas.
O desdobramento completo disto está na posição de um ex-petista, Aldo Fornazieri, que numa mensagem postada na sua conta no facebook escreveu o seguinte: “hoje Nicolas Maduro toma posse para um novo mandato na Venezuela. O PT mandou a presidente do Partido, Gleisi Hoffmann, para a solenidade num evidente gesto de apoio ao regime. Penso que é um absurdo. O PT apanha e depois se queixa. O regime de Maduro não merece apoio. Causa a pobreza e a infelicidade de milhões de venezuelanos, hoje em diáspora por vários países da América Latina. Trata-se de um regime corrupto e incompetente que, efetivamente, não é uma democracia. Os venezuelanos precisam encontrar o seu próprio caminho, sem ingerência externa, seja do grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte, seja por parte dos Estados Unidos. Mas ao mesmo tempo em que se condena a ingerência externa, não dá para apoiar este regime que causa tanto mal aos venezuelanos. A esquerda democrática não pode apoiar este regime.”
Ou seja: os Estados Unidos e sua gangue fazem ingerência. E a “esquerda democrática”, na concepção de Aldo, critica os EUA, mas repete sem “incômodo” algum os mesmos argumentos dos EUA para justificar sua ingerência.

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