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México Lidera (Neo)escravatura Feminina Por Vanda Bomfim*
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Seg, 25 de Julho de 2016 00:48

Vanda_BomfimApesar da proximidade e dos acordos com os EUA, aliás por efeito direto e indireto deles, que beneficiam os estrangeiros e a minoria do país em detrimento dos vulneráveis, México lidera ranking global de trabalho-feminino-não-pago, mais-valia de gênero tipo (neo)escravatura. Conforme o Programa de Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD), as mexicanas são as que mais trabalham no planeta sem receber nada.

Seu "Relatório do Desenvolvimento Humano - 2015" revela que elas gastam em média  442 minutos por dia realizando trabalhos não remunerados, ou seja, quase um dia inteiro de trabalho, sendo este indicador mais elevado que o de qualquer outra nação no mundo.

Observadores como José Rodríguez, Margarita Zorrilla, Rilton Primo, Rossana Cruz, Ignacio Cauich, Úrsula Oswald Spring, Oscar Hernández ou Eduardo de Freitas nos lembram que o México ainda hoje enfrenta problemas típicos de países subdesenvolvidos, alguns em graus críticos, como favelas, desemprego, marginalização, criminalidade, falta de oportunidades, entre outros. Lembram ainda que o PIB norte-americano é superior ao do país latino em cerca de 17 vezes, diferença proporcional, entre outros fatores 1) à competitividade dos preços da América do Norte e 2) às vantagens tecnológicas dos seus produtos finais e intermédios (insumos) com alto valor agregado, tendo todavia o México assinado em 1994 o Nafta (North American Free Trade Agreement ou Acordo Norte-Americano de Livre Comércio) ou Área de Livre Comércio das Américas, compondo um bloco econômico assimétrico, que vincula ambas as nações e o Canadá, socializando as terras e o trabalho alheios, mas preservando os seus direitos de patentes, copyrights e marcas registradas etc., consubstanciando uma manobra dos dois países mais ricos, com o claro objetivo de instalar empresas em território mexicano e usufruir de benefícios fiscais, mão de obra e matéria-prima baratas, para competir globalmente com o Japão e a União Europeia aprofundando a pobreza, as desigualdades de desenvolvimento humano e, dentro delas, as de gênero, no país latino.

Alguns dos resultados imediatos foi que expressiva parte das fazendas mexicanas não resistiu à briga de preços e foi expropriada, exponenciando o êxodo rural ao ponto de elevar a pressão migratória. As associações de trabalhadores urbanos também perderam força dada a miséria, que passou a pressionar os salários dos ocupados para baixo e pavimentou a precarização das condições de trabalho, sem falar dos impactos não-econômicos negativos na saúde pública e meio-ambiente, até que alguns já não eram escutados quando advertiam que o Nafta converteu o país em uma espécie de neocolônia.?

Mesmo o Canadá, ante a ganância dos EUA no Nafta, ameaçou deter a entrada dos produtos estadunidenses no país pois, via de regra, quando lhes conveio, os EUA recusam-se a cumprir as cláusulas do tratado, como a que diz respeito às medidas antidumping (prática criminosa que consiste na concorrência desleal via oferta de bens e serviços a preços abaixo dos custos de produção mínimos, para falir o outro), bem como quanto à taxa de contervailing (tarifa protecionista desleal sobre importados, como proteção irrecíproca aos produtos dos EUA).

Ao povo do México coube a parte socialmente mais amarga do acordo, não tanto à elite. Após transferir aos EUA e Canadá parte significativa de seus impostos, aluguéis, juros e lucros (somatório das mais-valias nacionais ou dos salários e rendas não-pagos aos mexicanos e sobretudo às mexicanas) e após permitir-lhes dragar, para as insaciáveis indústrias canadenses e estadunidenses, seus recursos naturais a preços deteriorados, especialmente o petróleo, restou aos mexicanos injustiçar-se até se tornarem os campeões globais da (neo)escravização da mulher, especialmente nos trabalhos domésticos, cuidados com a família, serviços comunitários e voluntários, bem como na assistência prestada a outras famílias, assim sendo, a um só tempo, o socorro e a vítima finais da fratura social interna.?

O México em si nunca se rendeu ao Nafta. Desde o momento que ele foi assinado, eclodiu no México o movimento Zapatista, de etnia indígena, que lhe desferiu seu ¡Ya Basta! (Já Basta!). O Zapatismo preconizou a gestão autônoma e democrática do país, a participação direta das comunidades nas decisões econômico-políticas, a partilha social das terras e das colheitas. Sofreram décadas de ataques midiáticos, proscrições, prisões e massacres militares e paramilitares, até que entrou no século XXI pressionados a aceitar o Proyecto Mesoamerica que, segundo análise do The Ecologist, implicaria na saída de comunidades indígenas de suas terras para dar espaço a estradas, aeroportos, centros industriais, plantações e áreas protegidas por bases militares. Agora o Chile quer ser Nafta!

A Universidad Juárez Autónoma de Tabasco - UJAT (sozinha ou em parceria com a Red Iberoamericana de Estudios Cuantitativos Aplicados - Rideca e o Ceala) tem sido uma das instituições científicas mexicanas que mais atenções têm dado à questão da pobreza no México e outras nações, para erradicá-la com eficácia, desenvolvendo metodologias mais acuradas que as tradicionais para identificá-la, caracterizá-la e aferi-la, não limitadas à sua interpretação monetária ou de uma "linha de pobreza" universal, medida em dólares/dia consumidos, pelo contrário, incorporando elementos complexos relativos ao impacto real das políticas públicas, efetividade das Transferências Condicionadas (TC), reciprocidade dos acordos econômicos internacionais, oportunidades de acesso aos instrumentos de formação, capacitação, cooperação e emancipação socioeconômica da mulher.

O caminho da simplificação das questões de gênero e sociais em geral, bem como da soberania e direito à autodeterminação das nações e etnias, prerrequisitos do pragmatismo que preside os acordos que atam as nações em blocos econômicos, tem sido desastroso para a equidade e o desenvolvimento humano no México e em todo o mundo. Ou os crimes de irreciprocidade seguem sendo cometidos entre as nações e, dentro delas, os de fratura da equidade, ou o pragmatismo deixa de ser, por suas consequências, uma perspectiva admissível em nossas Repúblicas.

?*Consultora em Políticas de Gênero do CEALA

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