México Lidera (Neo)escravatura Feminina Por Vanda Bomfim* |
Seg, 25 de Julho de 2016 00:48 |
Apesar da proximidade e dos acordos com os EUA, aliás por efeito direto e indireto deles, que beneficiam os estrangeiros e a minoria do país em detrimento dos vulneráveis, México lidera ranking global de trabalho-feminino-não-pago, mais-valia de gênero tipo (neo)escravatura. Conforme o Programa de Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD), as mexicanas são as que mais trabalham no planeta sem receber nada. Seu "Relatório do Desenvolvimento Humano - 2015" revela que elas gastam em média 442 minutos por dia realizando trabalhos não remunerados, ou seja, quase um dia inteiro de trabalho, sendo este indicador mais elevado que o de qualquer outra nação no mundo. Alguns dos resultados imediatos foi que expressiva parte das fazendas mexicanas não resistiu à briga de preços e foi expropriada, exponenciando o êxodo rural ao ponto de elevar a pressão migratória. As associações de trabalhadores urbanos também perderam força dada a miséria, que passou a pressionar os salários dos ocupados para baixo e pavimentou a precarização das condições de trabalho, sem falar dos impactos não-econômicos negativos na saúde pública e meio-ambiente, até que alguns já não eram escutados quando advertiam que o Nafta converteu o país em uma espécie de neocolônia.? Mesmo o Canadá, ante a ganância dos EUA no Nafta, ameaçou deter a entrada dos produtos estadunidenses no país pois, via de regra, quando lhes conveio, os EUA recusam-se a cumprir as cláusulas do tratado, como a que diz respeito às medidas antidumping (prática criminosa que consiste na concorrência desleal via oferta de bens e serviços a preços abaixo dos custos de produção mínimos, para falir o outro), bem como quanto à taxa de contervailing (tarifa protecionista desleal sobre importados, como proteção irrecíproca aos produtos dos EUA). Ao povo do México coube a parte socialmente mais amarga do acordo, não tanto à elite. Após transferir aos EUA e Canadá parte significativa de seus impostos, aluguéis, juros e lucros (somatório das mais-valias nacionais ou dos salários e rendas não-pagos aos mexicanos e sobretudo às mexicanas) e após permitir-lhes dragar, para as insaciáveis indústrias canadenses e estadunidenses, seus recursos naturais a preços deteriorados, especialmente o petróleo, restou aos mexicanos injustiçar-se até se tornarem os campeões globais da (neo)escravização da mulher, especialmente nos trabalhos domésticos, cuidados com a família, serviços comunitários e voluntários, bem como na assistência prestada a outras famílias, assim sendo, a um só tempo, o socorro e a vítima finais da fratura social interna.? O México em si nunca se rendeu ao Nafta. Desde o momento que ele foi assinado, eclodiu no México o movimento Zapatista, de etnia indígena, que lhe desferiu seu ¡Ya Basta! (Já Basta!). O Zapatismo preconizou a gestão autônoma e democrática do país, a participação direta das comunidades nas decisões econômico-políticas, a partilha social das terras e das colheitas. Sofreram décadas de ataques midiáticos, proscrições, prisões e massacres militares e paramilitares, até que entrou no século XXI pressionados a aceitar o Proyecto Mesoamerica que, segundo análise do The Ecologist, implicaria na saída de comunidades indígenas de suas terras para dar espaço a estradas, aeroportos, centros industriais, plantações e áreas protegidas por bases militares. Agora o Chile quer ser Nafta! O caminho da simplificação das questões de gênero e sociais em geral, bem como da soberania e direito à autodeterminação das nações e etnias, prerrequisitos do pragmatismo que preside os acordos que atam as nações em blocos econômicos, tem sido desastroso para a equidade e o desenvolvimento humano no México e em todo o mundo. Ou os crimes de irreciprocidade seguem sendo cometidos entre as nações e, dentro delas, os de fratura da equidade, ou o pragmatismo deixa de ser, por suas consequências, uma perspectiva admissível em nossas Repúblicas. ?*Consultora em Políticas de Gênero do CEALA |
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