A segunda-feira despertou morna, acinzentada, talvez, ainda não acostumada com o ritmo de um outono que deu as caras no dia anterior. Acho que segundas – feiras não deveriam existir e imagino a semana começando na terça.

Um parada no relógio e deletava-se  vinte e quatro horas e tudo seria tranqüilo e confortável com a terça-feira e os outros dias seguindo até o final da semana.Segundas – feiras cheiram a mofo, tédio, insatisfação além do indefectível gosto de cabo de guarda -chuva na boca.

Além do estigma de ser tratada como  dia odioso, hoje,segunda-feira é o começo de um outono semelhante, na realidade, bem pior que o passado. Ao longo de um ano, todos os dias foram parecidos com as segundas-feiras cheirando a mofo, tédio, insatisfação acrescidos ao sofrimento, a indefinição, o medo e a morte. O gosto de cabo de guarda-chuva transformou-se no amargo cotidiano em nossas gargantas.As força trazidas pelas águas de março não foram suficiente para apagar a cicatriz  marcada em corpos e almas expondo toda a  fragilidade humana.

Sim, o que falar do verão ? E do sol ?

O astro-rei cumpriu a temporada comparecendo em quase todos os dias sempre vistoso, irradiante tanto no amanhecer quanto no ocaso.Mas, foram espetáculos com públicos raríssimos, em determinadas situações sem  platéias. Há de lembrar-se que sendo um verão verdadeiro deve existir aquela cumplicidade do sol com as pessoas na celebração diária da vida. Isso não foi possível.Bizarro imaginar o verão sem sol, sal, beijos, suores e porres. Verão remete à férias, descanso, pausa, reflexão e planejamento.......isso, planejamento, pois, sob o pretexto de colocar a vida em ordem no ano que se inicia, caímos de cabeça nas loucuras oferecidas pelo verão e no final tudo da certo ( ou quase certo).

Não lembro  de nenhum mortal que  tenha feito uma campanha pela extinção do verão. Pensem naquela energia constante oriunda da luz solar recarregando nossas forças vitais fazendo esquecer um porre, o amor desfeito, a falta de grana, o bilhete aéreo perdido ou encarar uma cerveja quente. No verão vale tudo e a tristeza não vale nada.Mas, o verão passado foi triste. Muito triste.

Uma imensa segunda-feira que se arrastou por três meses criando vazios, ausências e a falta de histórias mirabolantes que poderiam ser contadas.A Natureza segue cumprindo sua missão na redação dos capítulos do livro da vida e somos sabedores do quanto ele é benéfica. Tenho plena certeza que mais à frente serão escritas as linhas sobre um retorno de verão belo, alegre e sadio.

Ah! E o Sol ?Esse será  encarregado do colocar  mel em nossas bocas.

Zuggi Almeida é baiano, escritor e roteirista.

Em Tempo: Agradecimentos ao auxílio luxuoso de uma playlist maravilhosa de  Jimi Hendrix que inspirou a construção desse texto.

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