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Bruno Reis e o decreto da morte. Por Jorge Augusto
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Qui, 29 de Abril de 2021 15:36
Jorge_Augusto_Quando estamos diante de questões de vida ou morte não há muito o que tergiversar, então vamos direto à questão: a quem e para que serve a intempestiva volta às aulas presenciais determinadas pelo prefeito de Salvador, Bruno Reis? Tomemos nota de apenas dois dados: entre janeiro e abril, morreram mais pessoas de Covid-19, do que em todo o ano de 2020; em abril a Bahia superou sucessivas vezes o recorde de morte pela mesma doença em 24hs; e chegamos a ultrapassar em mais de 90% a ocupação de leitos, o que gerou uma nova onda de medidas restritivas em todo o Estado.

 

Todo esse cenário é agravado por um dado dramático, que mostra a ingerência estatal que atravessa o país inteiro: não há vacinas suficientes e o processo de vacinação está muito mais lento do que deveria. Diante desse cenário, o atual prefeito Bruno Reis determina o retorno às aulas presenciais, anunciada no dia 24, e justifica com a seguinte afirmação: "vamos vacinar todos acima de quarenta anos, e não só os professores, mas todos aqueles que trabalham nas escolas da rede pública municipal, da rede estadual e da rede privada, até o ensino médio. Com isso estamos trazendo mais segurança para os trabalhadores poderem retornar as aulas no dia 3 de maio".

Constrange-nos ter que argumentar contra uma justificativa tão controversa e dissimulada, mas vamos lá: os profissionais da educação tomarão a primeira dose da vacina a partir do dia 26 de abril, e retornarão as aulas no dia 3 de maio, menos de dez dias após tomar a primeira dose. O prefeito diz que isso dará segurança no retorno às aulas, quando todos e todas sabemos que a imunização acontece apenas após a tomada da segunda dose, e cerca de 15 dias após sua efetivação. Bruno Reis além de supor uma ignorância e estupidez dos interlocutores, ainda produz desinformação sobre os processos de cuidado relativos a Covid-19.

O tempo entre a vacinação e o retorno as aulas presenciais é absolutamente incompatível com qualquer prescrição dada sobre a vacinação, pelos órgãos nacionais e internacionais; ou seja, o prefeito de Salvador criou sua própria teoria sobre a vacina. Atrelada a isso, temos ainda uma segunda justificativa, inscrita no decreto municipal 33.793, que determina o retorno as aulas desde que a ocupação dos leitos chegue ao confortável número de 80%. Com isso, está claro na política municipal que não se trata mais de buscar evitar a morte, mas de administrar sua ocorrência.

A prefeitura de Salvador não cumpriu a meta de abertura de creches, muito menos estruturou as escolas municipais, durante os últimos anos, como havia prometido. Quem conhece a realidade da educação local sabe que há escolas que funcionam em prédios e casas alugadas, sem a mínima estrutura de aglomeração de pessoas, espaços que sequer foram concebidos como ambiente escolar. Como esses lugares foram preparados pela prefeitura para receber crianças, jovens e adultos, sem que isso desencadeie uma onda de contaminação e morte pela covid-19 na capital baiana?

Na matemática da morte proposta por Bruno Reis, a primeira dose ministrada em profissionais acima de 40 anos é suficiente para resguardar as vidas da comunidade escolar e suas adjacências. Então, gostaríamos de perguntar ao Senhor prefeito: e os profissionais com menos de 40 anos, os alunos, os funcionários terceirizados, a família dos alunos e todas as famílias envolvidas na expansão do espaço escolar? Por que, prefeito, todos sabemos que, mesmo após a segunda dose, e o posterior tempo necessário para a imunização, qualquer pessoa vacinada continua transmitindo o vírus; ou seja, a comunidade escolar, mesmo aquela acima de quarenta anos, estará colocando em risco todo o seu entorno a partir da família. Porque Bruno Reis insiste em investir nesse necrotério a céu aberto?

A eleição de Rodrigo Pacheco do DEM como presidente do Senado obriga o núcleo baiano da sigla a se aliar mais estritamente aos desmandos do governo federal, a realizar alianças espúrias e assassinas, assinadas com o sangue de gente pobre e negra que lotará as UTI´s, assim que as aulas presenciais reiniciarem, como aconteceu em São Paulo, recentemente, e em diversos outros países que se arvoraram a reiniciar as aulas sem vacinação ostensiva e ampla.

Outra questão se apresenta sem resposta para a apreciação do prefeito soteropolitano: se a vacinação está em curso, e as aulas estão com seu funcionamento online (embora não seja o ideal é o possível, agora), porque arriscar a vida das pessoas, a superlotação dos leitos, e não esperar a ampliação da vacinação? Com essa atitude Bruno Reis parece passar um recibo, admitindo que não teremos, tão cedo, completado nosso plano de vacinação. Qual o prazo estipulado pela prefeitura para estarmos todos vacinados? Como a prefeitura planejou, nesse um ano de pandemia, o retorno das aulas presenciais?

É certo que, além de aliado ao projeto genocida do governo bolsonarista, o prefeito de Salvador sofre a pressão interna do mercado da educação, das escolas e universidades privadas, que o pressionam a retomar as aulas, prometendo que nas amplas salas e áreas de circulação, colégios, como São Paulo ou Antônio Vieira, manterão baixos os índices de contaminação, graças a seus rígidos protocolos de segurança; claro, havendo alguma contaminação desses alunos, ocuparão os leitos privados da rede, já que possuem plano de saúde. Nesse quesito, Bruno Reis, assim como Rui Costa, que já anunciou diversas vezes a pretensão de retomar as aulas presenciais, cedem ao mercado privado, dando em troca a vida de alguns baianos. Com isso, mantêm os lucros dos empresários que financiam suas campanhas negociando a morte da população, já de olho no pleito de 2022.

É necessário esclarecer que esse mercado privado da educação não deve ser entendido apenas como as instituições de ensino privado, pois compreende uma imensa rede de circulação monetária, que vai da compra e venda da merenda escolar ao escoamento do dinheiro público para as empresas terceirizadas que trabalham massivamente no ambiente escolar, (só para ficar no exemplo desses dois conhecidos canais de desvio de verba pública). Essas fatias do mercado privado da educação baiana não terão pudor em trocar algumas mortes pela retomada de seus negócios mais que lucrativos.

Esses e outros aspectos que não cabem num texto como esse, de pretensa circulação rápida, não parecem escapar do entendimento da população, que, ao contrário do que pensa o prefeito da soterópolis, não é burra, desinformada, nem ignora os perigos da retomada inconsequente das aulas presenciais. Assim, em enquetes realizadas, por exemplo, pelo portal G1, a população tem votado maciçamente contra a retomada presencial das aulas, chegando a passar com folga os 70% de votos contrários a retomada. As mães e pais, avós e tios, certamente não querem fazer dos corpos infantis e juvenis de seus amores um meio de transporte e circulação do vírus que causou a morte de cerca de 400 mil pessoas no país, no intervalo de um ano. É com o bom senso da família que contamos nessas horas para frear essa sanha genocida que alinha Bruno Reis aos governos da Bahia e do Brasil. Mas também contamos com a intervenção do Ministério Público e da OAB, aguardando que eles não compactuem com a rifa das vidas pobres e negras que atravessam esse decreto da morte assinado por Bruno Reis.

Jorge Augusto - poeta e professor, soteropolitano, do bairro da Liberdade. Doutor em Literatura e Crítica da Cultura

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Última atualização em Sex, 30 de Abril de 2021 15:07
 

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