Só tinha sacanagem. Por Zuggi Almeida |
Sex, 09 de Julho de 2021 08:07 |
I. SÁBADO. MEIO DIA. MERCADO MODELO A parte dos fundos do Mercado Modelo, na Cidade Baixa de Salvador ficava tomada por uma turma ruidosa espremida nos pequenos balcões do Bar do Chacrinha e Imbé Preto entre os demais do velho prédio colonial.
O toque sincopado do berimbau vindo de fora circulava pelos corredores. Os biriteiros clássicos sorviam doses generosas de batida de limão, amendoim ou cajá. Ficava difícil pra quem chegava atrasado pedir um tira-gosto de lambreta ou agulhinha frita. O pedido era feito àquele privilegiado que estava encostado no balcão. Os pratos passavam de mãos em mãos por cima das cabeças até chegar ao dono. Esse era o ritual do Mercado Modelo, nas décadas de 70 e 80. Ali, reunia-se uma maioria negra vinda das periferias e bairros próximos do Centro. As tribos da Liberdade, Cabula, Lobato, Pernambués, Cosme de Farias, Tororó e até de Itapuã encontravam-se nos finais de semana para resenhar e programar onde seria os embalos do sábado à noite. Os homens dominavam o ambiente embora algumas mulheres retadas marcassem a presença.
O objetivo era saber onde iria rolar o esquema ou baile nas festas onde reinava a black music de James Brown, Jackson Five, Tim Maia, Cassiano, Lady Zu, Earth, Wind and Fire e outros bacanas. O contraponto caribenho ficava com o som de Luiz Kalaff, Célia Cruz e Bienvenido Granda. A trilha sonora era produzida por alguém do grupo que montava as coleções dos Lp’s da hora. Esse cara era sempre o convidado especial para pilotar as Taterkas. O restante da turma acompanhava a celebridade do som. Uma personalidade seguida por um grupo de penetras.Logo, o salão era ocupado por dez ou mais rapazes dispostos a "serrar", as bebidas e as comidas da festa.
*Sacanagem é denominação dada ao tira-gosto servido em palitos com uma rodela de salsicha, uma azeitona, um pedaço de queijo, outro de tomate e um de pimentão. Esses palitinhos são espetados num mamão verde descascado e colocado sobre a mesa para os convidados. Fazia o maior sucesso nas festas das antigas. Zuggi Almeida é baiano, escritor e roteirista. |
Última atualização em Sex, 09 de Julho de 2021 08:19 |
Agenda |
Aldeia Nagô |
Capa |