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Um Exército que libera fuzis a bandido, mas que tenta sonegar urnas ao povo.. Por Reinaldo Azevedo
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Dando o que Falar
Dom, 24 de Julho de 2022 08:46

reinaldo-azevedoO Exército brasileiro, se não por intermédio da fala da instituição, mas das respectivas vozes de alguns de seus generais — e, convenham, as instituições acabam se confundindo com aqueles que lhe dão corpo —, me fez lembrar do trecho de um poema de Gregório de Matos.

Como é mesmo, soldados?

Ah, é assim: "A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha; Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro.".

Pois é...

Foi no que pensei quando se noticiou que o Exército, o que foi admitido posteriormente, emitiu um "nada consta" que contraindicasse a compra de um pequeno arsenal por um membro do PCC. Afinal, ele havia conseguido a, digamos assim, carteirinha de CAC (Caçador, Atirador e Colecionador), essa impressionante categoria que o governo Jair Bolsonaro fez dobrar de tamanho em seus quase quatro anos de arruaça sob a forma de governo, abençoada — ou devo escrever "amaldiçoada"? — pelos antigamente chamados "setores castrenses". Mas esse tempo já passou. Isso ainda cobrava certa solenidade. Hoje, só a ridicularia nos define.

Ainda não entendi, Reinaldo Azevedo, a citação de Gregório de Matos. Por que você diz que o Exército brasileiro, então, não sabe governar sua cozinha, mas quer governar o mundo inteiro?

Porque eu vi Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa, com sua cabeça ornada por uma parca cabeleira mais negra do que a farta de Iracema — cor "Graúna 1 - Total Black" —, no Senado, a tentar explicar como o voto impresso poderia servir de mecanismo de controle e verificação de segurança da urna eletrônica. Depois ele tentou dizer que não era bem aquilo.

Aí eu vi aquele "Graúna 1 - Total Black" — afinal, é inconfundível — na reunião com os embaixadores estrangeiros, a endossar as mentiras de Bolsonaro sobre a fragilidade do sistema eletrônico de votação. Sim, ele estava lá. Ainda bem que, nesse caso, silenciou em vez de em engrolar as coisas obviamente sem sentido que disse aos senadores. De toda forma, emprestava seu uniforme simbólico de general às mentiras contadas por um capitão arruaceiro, que já planejou explodir bombas em instalações militares. Deus do Céu! Não sobrou nem aquele velho corporativismo agregador sobre a incolumidade das instalações? Fora a boquinha, nada mais conta?

"Seja mais direto na tradução do Gregório de Matos, Reinaldo!"

Sou. Os milicos dão autorização para que um membro do PCC compre armas, com o carimbo, do Exército, porque, de fato, não controlam zorra nenhuma, mas ambicionam ser as ultimas palavras em matéria de urna eletrônica. E quais são as últimas palavras? Ora, "urna de papel".

É o caso de agradecer o fato de as hostilidades Brasil-Paraguai terem chegado ao fim junto com o passamento de Solano López. Ou poderíamos vir a ter problemas.

PESQUISA NO GOOGLE

O juiz que autorizou a Polícia Federal a fazer busca e apreensão contra o membro do PCC que comprou armas com a autorização do Exército fez uma lembrança incômoda. José Humberto Ferreira, da Justiça Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, disse que uma busca no Google poderia ter disparado o sinal de alerta.

O "PCCista" tem uma ficha corrida de 16 processos criminais. Após receber o registro de atirador, com o selo do Exército, o homem comprou duas carabinas, um fuzil, duas pistolas, uma espingarda e um revólver. Ao todo, R$ 60 mil. Estava pronto para ser um daqueles "militantes da liberdade" do bolsonarismo. Como é mesmo? "Povo armado jamais será escravizado".

E o que disse o Exército que se julga especialista em urnas? Ora, segundo as determinações do capitão arruaceiro em seus decretos armamentistas, tudo foi cumprido à risca. A Força afirma, por meio de nota, que usou a autodeclaração de idoneidade e a certidão criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais para a análise e que a responsabilidade pela documentação é do "interessado":

"Toda a documentação requerida para a entrada do processo foi verificada. Assim, seguindo o princípio da legalidade, as informações prestadas acerca da idoneidade e da documentação referente aos antecedentes criminais são de responsabilidade do interessado".

E mais: "No caso em questão, o cidadão apresentou a certidão criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais em conjunto com a autodeclaração de idoneidade, não havendo informações impeditivas para o prosseguimento do trâmite processual naquela oportunidade".

Entenderam? Isso basta para um bandido comprar um arsenal, com a autorização do Exército Brasileiro. Alguns de seus generais acham que perigosas mesmo são as urnas eletrônicas.

É uma vergonha sem limites.

Informado o Exército da autorização dada a um criminoso, esta já foi cassada, e as armas, apreendidas. A Força deveria nos proteger desse tipo de coisa, mas está sendo protegida de sua incúria pela Justiça e pela apuração da imprensa.

No dia 28 de abril de 2020, noticiava O Globo:

"O general responsável pela implementação de regras que facilitavam rastreamento de armas e munições, depois revogadas a mando do presidente Jair Bolsonaro, foi exonerado do cargo uma semana após a publicação da primeira portaria depois contestada publicamente pelo presidente. Em carta de despedida, o general de brigada Eugênio Pacelli Vieira Mota afirmou que as medidas representavam um "importante e definitivo passo" na área da segurança pública. O militar ocupou, até o fim de março, o posto de diretor de Fiscalização de Produtos Controlados, área que tem como atribuição supervisionar a produção e comercialização de armas e munições. 

No dia 18 daquele mês, foi publicada a primeira portaria que incomodou o presidente e parte de sua base aliada. No dia 25, a exoneração de Pacelli foi publicada no Diário Oficial - a portaria foi revogada formalmente pelo Exército em meados de abril, um dia depois de Bolsonaro ter anunciado a decisão no Twitter. Também foram suspensas outras duas portarias que tratavam do assunto, mas que haviam sido oficializadas já com Pacelli fora do cargo."

Pacelli foi um dos generais humilhados, com a condescendência de seus pares de farda, pelo capitão arruaceiro que foi chutado do Exército por indisciplina, ainda que o processo mascare isso. Era o "mau militar" na definição de Ernesto Geisel.

Pois o arruaceiro arrastou a Força para uma situação em que não tem condições objetivas para impedir o crime organizado de comprar armas com a sua chancela, mas é levada a contestar, com objeções ridículas e sem amparo técnico, as urnas eletrônicas. Assim, o Exército libera fuzis que matam e tenta impedir urnas que salvam.

Vale dizer: é gente que não sabe governar a sua cozinha, mas quer governar o mundo inteiro.

Vergonha histórica.

E assim aquele Gregório de Matos se explica. Jamais a legislação e a atuação das Forças Armadas, em razão dela, foram tão propícias ao crime organizado no que respeita à compra de armas. Governo e militares atuam de forma verdadeiramente subversiva. É inédito na história brasileira.

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa "O É da Coisa", na BandNews FM. No UOL, Reinaldo trata principalmente de política; envereda, quando necessário - e frequentemente é necessário -, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.

Artigo publicado originalmente em https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2022/07/22/um-exercito-que-libera-fuzis-a-bandido-mas-que-tenta-sonegar-urnas-ao-povo.htm

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