Ruir, exposição fotográfica que a Galeria da Aliança Francesa recebe de 14 de novembro a 22 de dezembro de 2017, reúne uma série de imagens, especialmente criadas pela artista visual Renata Voss para o projeto, de edificações em situação de risco. Temática recorrente na obra da artista que também estuda processos químicos de revelação fotográfica, Renata retrata a ação do tempo sobre a paisagem urbana da cidade. “Cada processo artesanal de revelação fotográfica tem o seu tempo, que é muito mais lento do que a instantaneidade do digital e tem características próprias de cor, tons e texturas. O que proponho, na construção da obra, é alinhar o tema da cidade com cada um dos processos escolhidos, avançando também na pesquisa em laboratório de outras técnicas artesanais de fotografia.” comenta Renata Voss.
Renata Voss, que também é professora doutora da EBA/UFBA, acredita que a cada procedimento técnico ao longo da história da fotografia, ampliam-se as possibilidades estéticas e de inovação de sua utilização. A técnica depende muito do uso que se faz dela, do contexto social e temporal. O que implica em fazer certos procedimentos antigos no momento atual? Não negar a fotografia digital, que faz parte do processo de trabalho, mas trabalhar com a materialidade da imagem fotográfica.
O fato é que o interesse por processos artesanais têm crescido e o financiamento da presente proposta contribui para a pesquisa e difusão no estado da Bahia. Enfatizando que o conhecimento destas técnicas históricas também é de suma importância para profissionais do campo de museologia, seja para identificação das técnicas em acervos de fotografias, seja para aprofundar o conhecimento em relação aos reagentes químicos e características de cada processo.
“Tais retomadas de processos de revelação na contemporaneidade se dão devido ao interesse na materialidade fotográfica e na reflexão do que tais procedimentos podem acrescentar à poética da obra. Uma contribuição em relação aos processos numéricos de obtenção de imagens, como a fotografia digital. Estes cruzamentos se apresentam como uma potência para a criação artística, ressignificando os processos tradicionais hoje”. Explica o curador Eriel Araújo, que acompanha de perto o trabalho de Renata Voss há algum tempo.
A exposição é uma forma de acesso, difusão e conhecimento dos processos fotográficos por parte do público. Ao ter a cidade como tema, provoca-se também uma discussão sobre os seus usos, apropriações, limitações, trazendo um tema bastante atual, mas apresentado e problematizado de forma poética através do trabalho. Que usos fazemos da cidade? Que imagem temos dela? Acreditamos no trabalho artístico como forma de questionar a cidade e suas transformações?
Ruir, integra o projeto “Processos Químicos em Fotografia”, contemplado pelo Edital Setorial de Artes Visuais 2016. O projeto tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural e Secretaria de Cultura da Bahia. O projeto que já realizou 3 oficinas de cianótipo, marrom van dyck e papel salgado, também contempla uma publicação que registra o ensaio realizado para o projeto, que será lançada no início de dezembro.
Sobre a Artista
Renata Voss é artista, professora de fotografia da Escola de Belas Artes da UFBA, doutora em Artes Visuais pelo PPGAV-UFBA. Desenvolve trabalhos autorais desde 2004 e tem interesse por processos alternativos em fotografia bem como na investigação dos diversos suportes que a fotografia pode assumir. Dentre as participações em exposições, realizou em 2016 a individual “Perder de Vista”, na Galeria ACBEU, em Salvador, BA, em 2014 realiza a exposição individual "Estudo para uma paisagem", contemplada pelo edital de ocupação da Galeria Jenner Augusto, da Sociedade Semear, em Aracaju (SE); Em 2012 participou da Bienal do Recôncavo, em São Félix (BA), realizou sua segunda exposição individual – “Brevidade” – na Galeria SESC, em Aracaju (SE) e em 2008 realizou a mostra individual "Lugares Comuns ou Vazios Encenados", na Pinacoteca Universitária da UFAL. Em 2017 participou de março a maio da Residência Artística da FAAP, em São Paulo, SP.
Como parte do empenho em se dedicar à formação e difusão do trabalho, em março de 2015, Renata Voss participou de uma residência promovida pelo Coletivo Filé de Peixe, na cidade do Rio de Janeiro que visava a participação em oficinas de cianótipo, marrom van dyck, goma bicromatada e papel salgado e posterior desenvolvimento de obra para ser publicada no livro “Processos Fotográficos: ensaios para uma poética experimental”, publicado em julho de 2015. A participação na residência se deu por meio de seleção, sendo escolhidos cinco artistas, um de cada região do país e tendo sido Renata Voss selecionada da região Nordeste. Sua pesquisa é orientada para temáticas como o tempo, a memória e o movimento e para técnicas do século XIX relacionadas à produção contemporânea. |