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O Projeto Enegrescência é um coletivo interessado em enunciar as culturas negras através da educação, da literatura e das artes em geral, através de uma proposta intercultural, entendendo-as como pilares principais para a construção de uma sociedade menos desigual e menos hierarquizada, principalmente no que tange aos seus princípios e valores. O coletivo foi criado em 2014 pelas/os poetas Gonesa Gonçalves, Lidiane Ferreira, David Alves e Fábio Cunha, que se conheceram no curso de Letras Vernáculas da Universidade Federal da Bahia.
Entendemos o termo Enegrescência como uma ação crescente e contínua do enegrecimento dos espaços de poder, de forma que valores civilizatórios africanos e afro-brasileiros, como a circularidade e a ancestralidade, por exemplo, pudessem se tornar elementos ainda mais constitutivos e propulsores de mudanças na sociedade brasileira. Assim, o Projeto Enegrescência seria a tentativa de propor um novo plano de sociedade, na qual haveria a valorização dos saberes e vivências africanas e afrobrasileiras, não excluindo-se, entretanto, os saberes de origem europeia, mas apresentando-os sem hierarquias, evidenciando também os seus inevitáveis conflitos. Apesar de o termo Enegrescência possibilitar uma remissão a um essencialismo negro, aqui ele está relacionado a correntes que apontam para outras linhas de fuga ligadas à visão dinâmica das sociedades africanas e negro-brasileiras no confronto à a-historicidade e ao discurso hegemônico estereotípico em relação a essas culturas. O Sarau Enegrescência, que ocorre desde o ano de 2014 no Centro Cultural Casa de Angola na Bahia, é uma das principais atividades do Projeto, no qual visamos difundir obras de autores/as negro-brasileiros/as e africanos/as. Através dos saraus, pretendemos pôr em evidência a estética literária negra e afrodiaspórica, além de discutir questões referentes à identidade etnicorracial, africanidades e afrobrasilidades, mas também quaisquer assuntos relacionados a outros grupos socialmente marginalizados, como indígenas, mulheres e LGBTs, sempre realizando um diálogo interseccional, sendo a literatura o elemento norteador destas discussões. Além da literatura e dos convidados que podem dialogar com tais questões, quando possível, temos apresentações musicais de bandas ou cantores de música popular ou afrodiaspórica, como o rap, o reggae, o samba, o soul, o jazz, tornando o ambiente, ao mesmo tempo, lúdico e reflexivo.
O desejo por uma coletânea poética surgiu com a produção de mais de um ano de saraus mensais, recitando não somente poemas de outros/as autores/as, mas também nossos próprios textos. Assim, começamos a planejar a construção de uma antologia com alguma forma de subsídio, tendo em vista que o processo editorial e a impressão de exemplares possuem um custo relativamente elevado, o que exclui potenciais escritores/as de realizarem as suas publicações. Dessa forma, ao sermos contemplados pelo edital Arte em Toda Parte Ano III, da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria de Cultura e Turismo – SECULT, Prefeitura de Salvador, pensamos em um concurso gratuito que possibilitasse um tratamento mais democrático com a literatura, proporcionando também que novos/as poetas pudessem enunciar as suas escritas antes invisibilizadas pela estrutura do mercado editorial brasileiro, ainda majoritariamente branco, masculino, heterossexual e cristão. Enunciar as escritas de negros e negras é enunciar a voz e a corporeidade desses indivíduos, muitas vezes excluídos de diversos espaços através das várias faces do racismo institucional brasileiro.
Desse modo, a coletânea poética Enegrescência é um dos principais produtos do Projeto Enegrescência ao retrabalhar as estéticas negra e afrodiaspórica, estimulando outros pontos de escuta e de escrita para nossa literatura em devir. |