Com canções inéditas de Chico César, Beto Lemos e Alfredo Del Penho, estrelado pela companhia A Barca dos Corações Partidos, a mesma de “Gonzagão, A Lenda”, o musical “Suassuna – O Auto do Reino do Sol” será encenado na Sala Principal do Teatro Castro Alves, nos dias 28 e 29 de outubro, pelo projeto Catálogo Brasileiro de Teatro. Depois das temporadas de sucesso no Rio de Janeiro e São Paulo, a homenagem a Ariano Suassuna, que completaria 90 anos em 2017, traz na essência uma série de características do escritor paraibano. Suassuna (1927-2014) defendeu incansavelmente a brasilidade e a valorização da cultura nacional, ao mesclar a arte popular e o universo erudito em todas as suas obras.
Idealizadora deste tributo, a produtora Andrea Alves, da Sarau Agência, lançou o desafio para a companhia A Barca dos Corações Partidos e convidou três ilustres conterrâneos de Ariano para criar algo inédito, inspirado em seu legado e desenvolvido em um processo coletivo. O musical tem encenação de Luís Carlos Vasconcelos e texto de Bráulio Tavares.
Em 2007, a Sarau Agência realizou uma grande programação para festejar os 80 anos de Ariano e, desde então, foi criado um vínculo do escritor com Andrea, responsável por todas as montagens de A Barca dos Corações Partidos e por uma série de projetos que celebraram a arte brasileira nos últimos 25 anos. “Há algum tempo, Ariano me falou: ‘Não venha comemorar meus 85 anos, eu não vou morrer, quero que você festeje os meus 90!’. Naquele momento me senti condecorada e com uma grande missão pela frente”, conta a produtora.
A ideia inicial surgiu em conversas de Andrea com Ariano, que se confessava um palhaço frustrado e que elegeu o palhaço de “O Auto da Compadecida” como um dos seus personagens prediletos. “Assim, surgiu a ideia de uma grande homenagem ao palhaço de Ariano e pensei na reunião d’A Barca dos Corações Partidos com o que eu chamo de ‘trio paraibano’. Assim foi sendo criada esta peça inédita, com músicas e texto originais, mas totalmente inspirada no legado de Ariano”, resume.
A escolha de Ariano Suassuna foi também coerente com toda a trajetória d’A Barca dos Corações Partidos, fiel defensora de um repertório nacional e de um teatro que privilegia o intercâmbio de linguagens. Recentemente, o grupo arrebatou os principais prêmios da temporada (Prêmio APTR de Melhor Espetáculo, Música e Produção; Prêmio Shell de Direção para Duda Maia; Prêmio Cesgranrio de Direção, Direção Musical e Espetáculo; Prêmio Botequim Cultural de Melhor Espetáculo Musical, Direção, Autor, Ator (coletivo de atores), Me) com “Auê” (2016), espetáculo construído apenas com músicas originais dos membros do grupo, responsáveis por utilizar no palco elementos de teatro, música, dança e performance.
O grupo se formou no processo de “Gonzagão – A Lenda” (2012), celebração de outro ícone nordestino, Luiz Gonzaga, e logo em seguida reviveu um clássico de Chico Buarque (“Ópera do Malandro”, 2014), ambos com direção de João Falcão. Chico César, Braulio Tavares e Luís Carlos Vasconcelos assistiram aos três trabalhos e aceitaram na mesma hora o convite para se unir nesta nova empreitada.
O texto e as canções do musical foram produzidos ao longo do processo de ensaios, que começou ainda no ano passado, quando o elenco fez uma série de oficinas circenses e também excursionou pelo Nordeste brasileiro no que foi chamado de “Circuito Ariano Suassuna”. Guiados por Dantas Suassuna, filho de homenageado, a trupe esteve em Casa Forte (Recife), conheceu a famosa Pedra do Ingá e visitou a fazenda de Taperoá (Paraíba). Entre muitas palestras e oficinas, o grupo se preparou para o intenso processo criativo, em que se reuniram por oito horas diárias e apenas uma folga semanal nos últimos quatro meses.
Neste período, Braulio Tavares idealizou a história central da montagem, centrada em uma trupe de circo-teatro e nos acontecimentos de uma noite de apresentação do grupo. O picadeiro de um circo é o cenário perfeito para aparecerem personagens de Ariano, como João Grilo e Chicó (“O Auto da Compadecida”) e outros conhecidos tipos da Literatura Clássica, além de servir como pano de fundo para as histórias dos integrantes da companhia fictícia.
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