Duvivier fez a análise mais lúcida do momento que vive o país. Por Paulo Nogueira |
Dando o que Falar | |||
Seg, 14 de Setembro de 2015 03:47 | |||
Você vê Lobão, Gentili, Fábio Júnior e pensa em perder a fé na capacidade de reflexão da classe artística. Mas aí você vê Gregório Duvivier e volta a acreditar nos artistas. A entrevista que Duvivier concedeu a uma emissora portuguesa em Lisboa é uma das mais luminosas análises da cena política contemporânea nacional. A frase chave é esta: os caras querem tirar Dilma para poderem continuar a roubar. A não ser que você acredite nos bons propósitos de figuras como Eduardo Cunha, Caiado e, como bem notou Duvivier, Aécio. Aécio deveria explicar o aeroporto privado que construiu, ou as verbas públicas que alocou para rádios suas quando governador de Minas, e em vez disso fala com a maior cara de pau em combater a corrupção. Atenção. As pessoas que mais falam em corrupção são, em geral, as almas mais corrompidas. No Brasil, o foco de espertalhões em corrupção desvia o debate do verdadeiro câncer nacional: a desigualdade. Duvivier usou, com graça irreverente, uma sentença que todos deveríamos ter em mente. Limpar a corrupção com os pseudocampeões da moralidade que estão aí é como “limpar o chão com bosta”. Um caso exemplar é o de Agripino Maia, presidente do DEM. Enroscadíssimo num caso em que é acusado de achacar um empresário, ele consegue comparecer, como se tivesse a ficha mais limpa do mundo, a protestos anticorrupção. Isto se chama tratar os brasileiros como se fossem imbecis. A entrevista de Duvivier em Portugal é um magnífico contraponto a toda a canalhice cínica que marca o movimento pró-impeachment. Os políticos que o lideram se batem, todos eles, pela manutenção do financiamento privado às campanhas, sabidamente o maior foco de corrupção que existe, e a maneira como a plutocracia toma de assalto a democracia. As críticas que Duvivier faz ao PT não são poucas, e são justíssimas. O PT fez muito menos pelos índios do que deveria fazer. Na questão ambiental, deixou também muito a desejar. Mexeu muito pouco na estrutura abjeta da política brasileira ao se ídedicar a acordos lastimáveis em nome da governabilidade. Mas não é nenhuma dessas questões que comove os defensores do impeachment. O que eles querem, como disse Duvivier, é poder meter a mão em paz, como sempre fizeram. Sobre o AutorO jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/duvivier-fez-a-analise-mais-lucida-do-momento-que-vive-o-pais-por-paulo-nogueira/
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