A exposição "Autópsia do invertebrado: um museu para a ciência do imaginário", idealizada pelo artista cearense Henrique Braga, faz um "trajeto antropológico" onde a figuração simbólica ou o pensamento figurativo nada mais é que o desejo produzido pelo sujeito. "Ao trazer a imagem da coluna vertebral como o princípio fundador da minha pesquisa poética, conclui que o corpo é uma escultura viva, por isso decidi abordar o osso da vértebra como a peça-chave do novo jogo simbólico, aludindo às forças que alimentam espiritualmente, fonte originária da energia vital do ser vivo, compreendida ou não, segundo a noção metafísica de alma.

A espinha vertebral é assim conceituada vez ou outra como alma, ora como um cordão condutor que transporta a alma, ou fluxo vital qualquer que mantém o corpo vivo, produzindo significados e interações simbióticas com a natureza que a originou. Essas mudanças de sentido se dão no contexto em que a coluna é inserida, como espinha dorsal que emerge da própria “vida”. A depender assim da função transformadora da imagem, a espinha dorsal se adequa a diferentes narrativas que visam mostrar o poder transformador dessa energia espiritual condensada em um só signo", afirma o artista cearense.

A trajetória desta proposta é uma reflexão sobre o mito enquanto símbolo de vida real e o imaginário. O que Braga faz é trazer para o mundo real um sistema dinâmico do símbolo "coluna vertebral" criando uma narrativa sobre a dualidade existente há séculos entre a razão e a fé, entre a ciência e a espiritualidade. Com uma proposta de tema universal, Henrique Braga elege a cidade de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia o local de sua exposição. Situada às margens do Rio Paraguaçu esta cidade que fica a 120 km da capital, foi uma das primeiras localidades a ser ocupadas pelos colonizadores e posteriormente pelos africanos, tornando-se sede de escoamento de produtos importantes para o continente europeu, tendo alcançado o status de cosmopolita no século XIX. Mas o que mais interessa na questão de Cachoeira é sua ligação com a fé. Tanto o cristianismo católico como as religiões de matriz africana se fazem presente neste local, o que justifica ainda mais esta interiorização pelo viés curatorial.

"Quando evocamos arte e espiritualidade para o fazer da obra, compreendemos o sentido do que é potência. Henrique Braga trabalha com o sensível unindo a arte e a espiritualidade. O artista faz sua busca dentro da filosofia hindu, na qual o símbolo da coluna vertebral trata da energia kundaline. Começamos a compreender que o mundo da arte é transversal a qualquer campo, possibilitando uma ação dinâmica de pensamentos. Não se trata de uma religião, mas de como entendemos nossa fé. A coluna vertebral carrega em si a ideia de infinito. Se fosse falar sobre o título, diria que a autópsia é um a tentativa de ver aquilo que não conseguimos enxergar no mundo material, invertebrado porque nos parece ser o início do padrão de crescimento da natureza, lembrando das mutações, das reencarnações e energias renovadas. Este trabalho artístico é um diálogo sensível sobre a questão da espiritualidade", observa o artista visual e doutor em comunicação e semiótica Ayrson Heráclito.

A exposição “Autópsia do Invertebrado: um museu para a ciência do imaginário” é formada por três secções temáticas. A primeira é Summa Vertebra composta de um painel com obras bidimensionais, uma instalação escultórica (Constelações), e uma instalação cenográfica intitulada “Mesa de Estudo”, o universo do próprio artista com cadernos de anotações, escultura em miniaturas, frascos, tabuleiros, caixas, mapas. A segunda é Transubstanciações com um painel com obras bidimensionais, uma instalação cenográfica com espécies vegetais, chamada “Herbário”, e uma série de obras bidimensionais intitulada “Flora do Corpo”.  A última é Idade da Cura com trabalhos em aquarela que leva o mesmo nome do título da secção que se evidencia com uma série marcada pela presença do autorretrato, onde ciência e espiritualidade, corpo e alma estarão presentes como elementos visuais, além de duas vídeo performances que mostram registros do processo criativo e experimentos diversos com objetos, esculturas, livros, etc.

“Têm-se aqui a marcação de um território coabitado pelo “Eu”, enquanto sujeito-objeto da própria investigação poética, e também pela universalidade dos saberes transmitidos por meio de imagens, nos quais intervenho através de procedimentos transformadores. Um plano afetivo transpassado pelas temáticas: vida, espírito, fé, cura, transcendência, morte, medicina, terapia, sobre o ser/estar no mundo, homem e natureza, práticas de cura da medicina popular e religiosa’, explica Ricky Braga.

Este projeto foi financiado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, através do edital Setorial de Artes Visuais 2016. Trata-se também de um projeto desenvolvido durante o bacharelado de Artes Visuais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

O que: Exposição Autópsia do Invertebrado: um museu para a ciência do imaginário

Quando: de  02 junho a 03 de julho de 2017

Onde: Foyer do Auditório Leite & Alves, Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Cachoeira, a 120km de Salvador, Bahia

Horário: das 09h às 21h de segunda a sexta, sábado das 08h às 12h. Aos feriados, a visitação não estará aberta ao público.

Entrada: gratuita

Mais informações: www.autopsiadoinvertebrado.com.br

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