A mostra traz para Salvador a oportunidade de assistir a uma cinematografia rica e rara. A programação busca não só apresentar filmes que não alcançaram as telas brasileiras, mas também debater a relevância e a influência da técnica dos mestres japoneses dentro do cinema de animação.
A mostra “O Universo de Miyazaki | Otomo | Kon” já aconteceu no Rio de Janeiro e, neste ano de 2014, inicia uma itinerância. O momento coincide com aquele que se acredita ser o anúncio da aposentadoria definitiva de Miyazaki, uma vez que o tão aplaudido cineasta japonês já ameaçou encerrar sua carreira diversas vezes, sempre retornando em seguida com mais um trabalho.
Animação Japonesa
Ao se falar sobre animação japonesa, é quase inevitável chamá-la pelo termo anime (ou animê). Na verdade, no Japão esse termo é usado para fazer referência a qualquer tipo de animação, de qualquer país. Já no ocidente, o anime está relacionado a um estilo fortemente arraigado e de características marcantes, como os populares olhos grandes, a animação econômica e os movimentos expressivos.
Boa parte das características que tornam o anime um gênero de cinema veio da adaptação dessa arte aos prazos curtos e pequenos orçamentos das séries televisivas nipônicas, como a pioneira Astro Boy (1963), de Osamu Tezuka.
No entanto, o mesmo processo industrial que criou o estilo anime também gerou insatisfações entre os artistas e correntes contrárias a essa forma de produzir. Esses “transgressores” do sistema japonês optaram pela animação de apelo autoral em longas-metragens cinematográficos que fugiam da massacrante produção de séries para TV.
Partindo da cinematografia de Hayao Miyazaki e se estendendo pelas obras de Katsuhiro Otomo e de Satoshi Kon, esta mostra reúne 18 longas-metragens marcados pelo refinamento nas produções e pelas temáticas fora do convencional industrial.
Ao criar o Studio Ghibli, em parceria com IsaoTakahata, Hayao Miyazaki tinha a proposta de funcionar como “um vento que varresse a cabeça dos artistas”, e mostrar que outras formas de produção eram possíveis.
Assim, obras produzidas antes e depois da fundação do Studio Ghibli, como Nausicaä do Vale do Vento (1984), abriram caminhos para o surgimento de Akira (1988), o filme fenômeno de Katsuhiro Otomo, e para a breve e bela cinematografia de Satoshi Kon, com o seu onírico Paprika (2006).
“O Universo de Miyazaki | Otomo | Kon” não é apenas uma homenagem a esses três autores. A escolha desses nomes se deve à influência, peso e inspiração inerentes a suas obras. Elas representam a energia de muitos artistas que enfrentaram pressões mercadológicas e sistemas acostumados a fórmulas prontas. Essa mostra é dedicada a todos os cineastas que encontraram na animação a sua forma de se expressar.
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