Tenho acompanhado a "construção" de sua expressão há anos. Desde os primeiros traços que tive o privilégio de observar, fui tomado por uma admiração profunda por suas telas. Algo de dilacerante, no entanto profundamente belo, coloca em tensão minha alma. Move-me! Vasculha o fundo de minha percepção masculina, tirando-me da inércia contemplativa, provocando minha formação tradicional e convocando todas as minhas forças para agir contra a disparidade de gêneros acomodadas no parado lago de nossa realidade concreta. Beleza e posicionamento, estética e ética, marcam a arte de Ayeola Moore.
Mulher negra de Guadalupe, pintora e dançarina que fez de Salvador também uma sua morada, traduz em volumes, traços e cores sua percepção da condição feminina. Amplia o foco para essa causa, fazendo de sua arte um instrumento essencial para o desmanche do centralismo patriarcal. Suas imagens, tal qual sua própria dança, estabelecem movimentos complementares. Seus temas tomam corpo e forma, cores e gestos que nos convidam a entrar no grande baile da vida.
A tonalidade vibrante de sua pintura, sem menosprezar um segundo sequer o prazer do belo, é também ferramenta. Arma eficaz na elaboração de um simbolismo crítico que transfigura nossa vivência e nos desperta para a necessidade de retorno às ações concretas.
Convoca-nos à Grande Batalha!
Combinado!? Vamos nos ver lá no Museu Afro-brasileiro da UFBA, que fica na antiga Escola de Medicina, Pelourinho.
Se "estamos por nossa própria conta", então "É Nós Por Nós"!
- Nelson Maca
Universidade Católica de Salvador
Coletivo Blackitude: Vozes Negra das Bahia
Sarau Bem Black
A Exposição "Mulher, A Força que Move o Mundo" gira em torno de três momentos temáticos. O primeiro momento mostra a mulher e sua prole como as primeiras a serem afetadas pela pobreza endêmica no planeta, as diversas formas de opressões, pelos conflitos e guerras devastadoras, enfim, pelas catástrofes naturais que repentinamente semeiam a destruição e o caos.
O segundo momento trata das diversas formas de "objetificação" da mulher, desde a puberdade, quando começa a ser cobiçada como objeto sexual, até a velhice, quando é descartada e marcada como "inútil". A mulher nasce, cresce e morre dentro de estereótipos negativos, haja vista a condição de objeto que o mundo e o olhar masculino dominador lhe confere. Entretanto, a conscientização do ser feminino leva a Mulher a dizer: BASTA!
O terceiro momento é constituído pela quebra de tabus sexuais e estereótipos de todos os tipos, tanto do lado feminino como do lado masculino. É desse momento de ruptura com um legado patriarcal-masculinista milenar, que poderia surgir um novo âmbito relacional não somente entre os mundos feminino e masculino, mas entre as próprias mulheres e os homens entre si. |