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Cores de Flores para Tita
Domingo 29 Maio 2016, 14:00 - 19:00

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A maneira trágica como se deu a vida e a morte de um familiar próximo permeou, durante anos, o imaginário da fotógrafa paranaense Andréa Magnoni. Reflexões como "o gênero não está entre as pernas, mas sim entre as orelhas", além do olhar cuidadoso sobre a identidade de cada pessoa, lhe serviram de inspiração para montar a exposição 'Cores e Flores para Tita', que estreia dia 10 de maio, no Teatro Gregório de Mattos, em Salvador, com entrada franca.

Durante anos, a família se referiu ao tio de Andréa Magnoni como uma lésbica: "Mas, Tita, você é menina. Eu te banhei quando você era criança", retrucava a mãe ao repudiar o comportamento masculino com o qual Tita se identificava. Há três anos, Andréa se deu conta que seu tio Tita era, na realidade, um homem transgênero.

A história se deu em Terra Roxa, interior do Paraná, nos idos da década de 70. Tita sofreu um estupro "corretivo", do qual engravidou. Diante de tamanha agressão, desistiu da vida e se envenenou. Não sem antes deixar uma carta para a família, onde pediu que fosse enterrado de preto, com roupas de identidade masculina. Mas o velório e enterro de Tita foram feitos com trajes em vestido de noiva - como era costume da época (1973). 20 anos depois, ao fazerem a exumação do corpo, não restava nada do vestido e ao lado da ossada foram encontradas as roupas pretas, intactas. Mistério pro qual a família nunca teve explicação.

A exposição Cores e Flores para Tita dá-se em torno da memória deste tio que Andréa não conheceu (pois morreu aos 15 anos) e traz fotografias de dezenas de corpos trans e cisgêneros, que não se encaixam nos padrões de beleza impostos. Parte deste ensaio é resultado da oficina fotográfica que Andréa ministrou no último janeiro, especificamente para pessoas transgêneras, onda elas também se autorretrataram. O material foi exposto na mostra exclusiva Solidões Trans e Travestis, que agora integra a nova exposição.

Há três anos Andréa Magnoni desenvolve, a partir da escuta sensível e olhar atento, uma pesquisa de ordem pessoal e intuitiva. Por isso alerta sobre a violência diária que sofrem os transgêneros. Busca sensibilizar as pessoas para a dura realidade que faz do Brasil o país líder em crimes homofóbicos no mundo, segundo dados da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).

Pessoas Cisgêneras, Transgêneras Binárias e Não-Binárias

Dividida em três etapas (Masculinidades, Femilinidades e Não-Binaridades), a exposição Cores e Flores para Tita traz, além da homenagem ao tio, instalações artísticas, imagens de diversas pessoas que fogem dos padrões normativos: artistas, homens cis héteros de cabelos longos, gays, uma mulher cis madura tatuada, outra negra e gorda de croped, além de homens e mulheres trans, travestis e pessoas não-binárias (as que não se identificam nem como homem nem como mulher ou que se veem naturalmente nos dois gêneros). "São estes os que mais bugam a cabeça das pessoas cis-normativas", explica Andréa.

A longevidade de pessoas cisgêneras (as que se identificam com o gênero atribuído ao genital de nascimento) hoje, no Brasil, é em média 70 anos. Entre os transgêneros, o tempo médio de vida é 35. E a taxa de suicídio entre estes jovens é 18% maior que em relação aos cisgêneros. Além de evidenciar números tão alarmantes, o trabalho de Andréa busca sensibilizar gestores de espaços públicos, como shoppings, escolas, centros de saúde e delegacias a fim de humanizar o tratamento aos transgêneros e promover o diálogo sobre a utilização de sanitários nestes espaços, o respeito ao uso do nome social, etc.

Transgeneridade no Brasil e no mundo

Pessoas transgêneras são as que não se identificam com o gênero associado ao genital de nascimento. Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) informam que a cada 100 pessoas, uma nasce transgênera.

No Brasil, o assunto ainda tem CID (Classificação Internacional de Doenças), é visto como doença psíquica, transtorno ou desequilíbrio. Quem quer retificar o registro civil tem uma longa e violenta batalha pela frente. Ao iniciar a transição (para adequar seu corpo à sua identidade), se quiser ter o amparo do SUS (Sistema Único de Saúde), é obrigado a fazer dois anos de terapia compulsória antes de iniciar o processo de hormonização e futuras cirurgias, se assim for preciso. Muitas vezes tem que convencer seus entrevistadores até de forma estereotipada sobre como se sentem, pois a aparência conta muito nessas consultas.

A OMS estuda tratar a condição emocional causada pela insatisfação do indivíduo transgênero. A mudança da classificação deve ser incluída na próxima edição do CID e não será mais considerada distúrbio, mas seguirá precisando de intervenção médica séria, até mesmo para garantir o tratamento e atendimento nas redes públicas e particulares.

No Brasil, no último abril, foi sancionado pela presidente Dilma Rousseff um decreto que determina o respeito ao nome social nos órgãos federais. Há, em curso, o Projeto de Lei 5002/2013 (Lei João W. Nery), de autoria do Deputado Federal Jean Wyllys, que objetiva simplificar a retificação de nome e gênero nos documentos de identificação sem precisar de cirurgia, para que pessoas transgêneras possam exercer plenamente seus direitos.

Cores e Flores para Tita - um pedido pela vida

Serão 139 fotos espalhadas no ambiente, permeadas pelos relatos poéticos de Lisa Vietra (atriz e escritora) e Tito Carvalhal (homem trans e poeta), que descrevem a história do tio Tita. Há ainda duas instalações artísticas sobre o personagem central, e uma outra com mil papeizinhos contendo as iniciais dos nomes, idade do óbito, cidade e causa mortis, um alerta simbólico às milhares de pessoas que morrem vítimas da transfobia no Brasil.

A exposição começa no próximo dia 10, no Teatro Gregório de Mattos, e tem visitação gratuita das 14h às 19h, de quarta a domingo, até 12 de junho. Na estreia, que é aberta ao público interessado, haverá apresentação artística de Mathieau e Mila Kokaev e roda de conversa com Diego Nascimento, Lanmi Tripoli, Tito Carvalhal e Viviane Vergueiro (alguns dos fotografados). Nesta noite ainda será exibido o trailer do documentário 'Transformando o Olhar', de Susan Kalik, que traz depoimentos pessoais e exclusivos de transgêneros, a ser lançado na Bahia em julho.

Andréa Magnoni

Nascida em Terra Roxa, interior do Paraná, mulher cisgênera, está há 8 anos na Bahia, onde trabalha como terapeuta holística e fotógrafa. Desde sua vivência em São Paulo as questões sociais chamavam sua atenção e faziam parte das suas lutas. "Se uma bandeira é humana, ela é minha. Não preciso ser negra para lutar pelo empoderamento negro", declara.

Embora o assunto principal seja a transgereneridade, nesta exposição Andréa quer mostrar a beleza única do ser. Evidenciando as individualidades, nos faz um convite para refletir sobre a pluralidade do existir.

O projeto Cores e Flores para Tita foi contemplado no Edital Arte em Toda Parte, ano III, da Fundação Gregório de Mattos e Prefeitura de Salvador, e tem a produção da Kalik Produções Artísticas.  

 

Valor Grátis

De autoria de Andréa Magnoni, 'Cores e Flores para Tita' exibe fotos e depoimentos de pessoas transgêneras e cisgêneras, no Teatro Gregório de Mattos, com entrada franca.

 

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