Medindo 22 metros de comprimento, com 2,30 metros de altura, o gradil ocupa toda a lateral direita do museu, que fica localizado na Rua do Tesouro, ocupando o prédio de linhas neoclássicas que pertenceu, no passado, ao Tesouro da Bahia. Confeccionado em aço, com detalhes em inox, o gradil é uma peça artística que, além de embelezar a fachada, passará a integrar o próprio acervo do Muncab, incluindo-se no roteiro de visitação do público.
Batizado por J. Cunha de ´Histórias de Ogum´, o gradil conta muito mais histórias do que o seu título sugere: “Refere-se ao orixá Ogum, mas busca traduzir de forma bastante ampla a história do negro no Brasil, com seus símbolos e referências culturais, desde a escravatura até os dias atuais”, define o artista, que executou o trabalho contando com os serviços de serralheria de Jorge Lima. No processo de execução, utilizou-se o raio lazer para promover o corte do aço nas condições precisas exigidas pelo trabalho.
Artista conceituado na Bahia e nacionalmente, com um trabalho dedicado ao universo da cultura afro-baiana, J. Cunha compôs o gradil fazendo referências a diversas situações temáticas. O objetivo foi tentar traduzir, com o trabalho, a difícil trajetória do negro no Brasil. Na condição de “suporte” para esta história, o gradil abriga desde os momentos mais dramáticos vividos pelo povo negro – na condição de escravos chegados da África – até o momento presente, quando a população afrodescendente presencia, apesar das dificuldades e grandes batalhas, novos horizontes no processo de aceitação e de conquistas no campo sociocultural.
De acordo com J. Cunha, Ogum representa todas essas conquistas.”Ogum é um orixá muito hábil, conhece os metais, cuida da tecnologia, dá ao homem a condição de sabedoria, de vencer desafios”, justifica o artista, que, após essa etapa, deverá fazer gradil complementar para ocupar o lado esquerdo do museu, definindo com arte os seus limites físicos.
O processo de construção do Museu Nacional de Cultura Afro Brasileira teve início em 2007 com as obras de restauração do prédio do antigo Tesouro, localizado no Centro Histórico, nas imediações da Igreja D’Ajuda. Em 2009, ainda em obras, o Muncab realizou a sua primeira exposição: “O Benin Está Vivo e Ainda Lá”. Sucesso de público – foi vista por cerca de 10 mil pessoas – a mostra ajudou a definir o papel do Muncab como referência cultural no cenário afro-brasileiro. Uma nova exposição foi realizada em 2011, na conclusão de mais uma etapa de obras do Muncab.
O museu vive agora o seu momento final de construção, com perspectivas de ser concluído até o final do ano. Nesta etapa, serão realizadas obras de construção civil, elétrica e hidráulica no prédio principal e no anexo, onde funcionará a parte administrativa do museu.
O projeto do Muncab, como explica o seu coordenador, José Carlos Capinan, é se tornar um centro de referência da herança cultural africana. Enquanto as exposições temporárias enfocarão o trabalho de artistas ligados ao universo da afro-brasilidade, o acervo da casa será dividido em módulos, privilegiando desde a estética negra à religiosidade afro-brasileira, passando pelas contribuições africanas à língua brasileira e personalidades negras. |