A instalação imersiva “O Gabinete de Alice”, criada pelos artistas e pesquisadores Laura Campos (dança e educação somática), Alê Duarte (experiência somática e movimento consciente), Joãozito Pereira (artes plásticas) e Lucas Bambozzi (cinema, vídeo e novas mídias), será inaugurada no dia 12 de novembro, às 16h, na Galeria do Jardim do Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, ficando em exposição até 30 do mesmo mês. Concebido na forma de um espaço que convida o público a vivenciar situações sensoriais através de recursos tecnológicos associados à manipulação da percepção, o projeto é materializado em uma cabine onde imagens e gráficos respondem à presença e interações do público. Sons, padrões visuais, pulsações luminosas e sensores de movimento conduzem o visitante em uma viagem narrativa pontuada por diferentes intensidades, sugerindo uma maior conscientização de nossas capacidades sensoriais fisiológicas. A ideia é apontar também para um pensamento crítico sobre as possibilidades de uso das tecnologias atuais.

ao entrar, o púbico irá interagir com os sensores de movimento kinects e será levado a refletir criticamente acerca das possibilidades de uso das tecnologias atuais no sentido da conscientização de nossas capacidades sensoriais e fisiológicas.

O desenvolvimento da instalação conta também com o trabalho dos programadores Toni Oliveira e Javier Cruz e tem trilha sonora composta pelo arranjador e instrumentista Pedro Augusto Dias. Contemplado pelo Edital de Artes Visuais do Fundo de Cultura da Bahia, “O Gabinete de Alice” é um projeto de fronteira entre as artes e o conhecimento produzido no campo da terapia do stress pós-traumático. Os artistas se valeram do repertório associado a seus respectivos campos de atuação no  diálogo com um gráfico sobre a fisiologia do sistema nervoso autônomo desenvolvido pelo terapeuta corporal Alê Duarte.

Alexandre Duarte tem se notabilizado internacionalmente pela sua atuação em zonas de conflito ou marcadas por desastres naturais, lhe conferindo vasta experiência e conhecimento. Em seu método terapêutico, Alexandre desenvolveu um gráfico sobre o ciclo fisiológico do corpo, cuja aplicação restaura o estado de auto-regulação natural do organismo. De acordo com Alexandre Duarte muito das desordens da nossa vida contemporânea são desencadeadas pela discrepância entre nossas necessidade fisiológicas e as demandas do mundo moderno. Para ele, a saída para a auto-regulação está na nossa fisiologia, mais especificamente na reorganização dos ciclos naturais do sistema nervoso.

A observação de resultados significativos pela aplicação desse conhecimento, despertou a possibilidade da utilização do gráfico em projetos de ambientes interativos de arte. “Isso nos levou a pensar um ambiente que pudesse atualizar nossa capacidade inventiva e ao mesmo tempo considerar a dimensão somática em um mundo que se configura cada vez mais a partir de ambientes tecnológicos – o que nos demanda um posicionamento crítico”, afirmam os criadores do projeto.

No Gabinete de Alice faz referência aos Gabinetes de Curiosidades, ou Quartos das Maravilhas, populares nos séculos XVI e XVII, que de certa forma antecederam aos museus e exposições atuais. Os gabinetes daquele tempo reuniam instrumentos tecnicamente avançados e curiosidades advindas de pesquisas e explorações associadas ao contexto das grandes navegações e descobertas.

No Gabinete de Alice busca-se uma analogia entre o universo informativo tendo como livre referência a percepção alterada de Alice, de Lewis Carrol. O desafio envolveu cerca de dois anos de desenvolvimento, permeados por um pensamento crítico acerca dos possibilidades de uso das tecnologias atuais no sentido de conscientização de nossas capacidades sensoriais e fisiológicas. Uma das questões centrais no projeto é a relação do ambiente com a fisiologia do corpo, um acontecimento constante e presente (em continua negociação), que molda nossa subjetividade, mas que por conta dos hábitos perceptivos arraigados em nossa cultura moderna, muitas vezes nos passa despercebido. Nos encontros e discussões entre a equipe, buscou-se entender como ambientes supostamente inteligentes podem reduzir ou aumentar a nossa potencia sensorial perceptiva.

O GABINETE DE ALICE é um projeto multidisciplinar e de criação compartilhada, desenvolvido por uma equipe com renomada referência no trabalho que desenvolvem:

- Lucas Bambozzi (vídeo e novas mídias) - Considerado um dos mais influentes artistas multimídia do Brasil, Lucas produz vídeos, instalações, projetos interativos, tendo trabalhos exibidos em mais 40 países.

- Laura Campos (dança e educação somática) - Proponente do projeto, Laura é responsável por unir os  artistas e pesquisadores em torno do projeto e analisar as perspectivas da resposta do corpo humano com as interações. Essa proposta faz parte do seu processo de pesquisa do doutorado no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia

- Alê Duarte (terapeuta corporal) - Terapeuta de Experiência Somática e de Rolfing, Ale Duarte é considerado uma referencia mundial no atendimento a crianças. Especializado em traumas, auxiliou inúmeras vítimas de tragédias naturais (tsunamis, furacões, terremotos e guerras) e da violência

- Joãozito Pereira (artes visuais) - Um dos principais artistas visuais da Bahia, foi o responsável, juntamente com a Blade Cenografia e Design, em conceber a cenografia do Gabinete.