A artista plástica carioca Maria Lynch, em conclusão de residência artística em Nova Iorque, abre exposição individual em Salvador no próximo dia 11 de dezembro, com visitação entre 12 de dezembro e 12 de janeiro de 2015 na Roberto Alban Galeria, no bairro de Ondina. Trata-se de uma mostra inédita, intitulada Roda Viva, que traduz o trabalho instigante desenvolvido pela artista, cuja marca está no uso de cores efusivas e contrastantes. São pinturas e esculturas que remetem quase sempre à figura feminina, mas que flerta também com o universo lúdico da imaginação existente em cada ser humano. A mostra tem apresentação do curador paulista de artes visuais Mario Gioia.

O que parece ser uma iconografia simples – uma figura que se desdobra em outra e assim sucessivamente, circundada por objetos aparentemente sem muita ligação entre si – é na realidade o grande mote do trabalho de Maria Lynch, como reconhecem estudiosos de sua obra. ”É uma exploração pictórica que lança mão de cores que guardam entre si o dilema de serem extremamente pós-modernas (são cores de um outro tipo de visualidade nascida da coexistência entre a pintura, a televisão, o computador, a publicidade, a indústria, as urbes – o mundo, enfim) e se estruturaram numa paleta incomum”, escreve o crítico de arte e curador Guilherme Bueno.

A artista explica que um dos conceitos principais do seu trabalho é o da memória afetiva aliada à questão da identidade. Ela explica que através das camadas de tinta constrói “camadas de tempo, de adição, acúmulo, recriando um processo parecido com o da memória, que sugere esse universo lúdico”.

Natural do Rio de Janeiro, onde vive e trabalha, Maria Lynch fez pós graduação e mestrado na Chelsea College of Art and Design. Na Inglaterra, realizou a exposição The Jerwood Drawing Prize, que circulou por Londres e outras cidades inglesas. No Brasil, participou da coletiva Nova Arte Nova, que ocupou o Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro e em São Paulo, (2008) e realizou individuais em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.  Em 2010, foi contemplada como o prêmio Funarte de Artes Plásticas Marcoantonio Villaça, um dos mais importantes do país. No ano seguinte, foi convidada a participar da VI Bienal de Curitiba Vento Sul.

Projetos e cores

No momento, Maria Lynch encontra-se em Nova Iorque, onde concluiu residência artística de seis meses na RU – Residente Unlimited, e se prepara para, em março de 2015, expor na renomada Store Front for Art and Architecture, um dos ícones da cidade americana. Ao mesmo tempo, dedica-se ao trabalho que tem como base as fotografias feitas do seu parto para uma exposição que acontecerá em julho do próximo ano na Kubik Gallery, no Porto.

A residência artística na RU foi, segundo ela, uma experiência “muito produtiva”, sobretudo a partir dos dois encontros semanais que mantinha com curadores, “o que te estimula imensamente a pensar: é como se fosse um acelerador do seu próprio processo, em que as ideias vão brotando, enquanto surgem insights”. No final da residência, ela realizou um projeto de exposição com caixas de papelão revestido de pelúcia por dentro para o espectador entrar, e numa escala para o adulto, “rever essa ideia de que precisamos criar um lugar seguro enquanto criança, uma espécie de útero”.

Emoção e memória são marcas do trabalho da artista. Desta maneira, ela circula entre a pintura, escultura, performance, instalação: “Foi um processo natural de, sair da pintura e evoluir para as esculturas, feitas de tecido que representam as camadas da pintura, com cores e formas, e sobretudo a representação daquele da pelúcia que é tão lúdica”.

Tudo isso estará presente na mostra de Maria Lynch em Salvador. A exposição Roda Viva, segundo ela, tem a particularidade de apresentar além das pinturas com misturas de mulheres de fundo branco há uma nova série com pinturas mais abstratas, onde prevalece o fundo preto. Há também esculturas, produzidas como se fossem pinturas, costuradas nas telas.

“A relação entre uma e outra (pintura e escultura) é muito grande no meu trabalho, porque são os elementos abstratos que falam dessa memória, mas gosto muito da ideia de uma coisa que lembra uma coisa, mas tem várias referências, fica no entre”, explica a artista, que tem obras em importantes coleções, como as do Museu de Arte Contemporânea Niterói, Brasil; Centro Cultural Candido Mendes, Rio de Janeiro, Brasil, Committee for Olympic Fine Arts 2012 , London, UK; Coleção Gilberto Chateubriand, Brasil/MAM-RJ, Rio de Janeiro, Brasil; Ministério das Relações Exteriores – Palácio do Itamaraty, DF, Brasil; e Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, Brasil.