Nomes, fatos, testemunhos e muita informação sobre esse salto internacional da capoeira estão aqui devidamente documentados por Lúcia, de forma espontânea, quase ao modo de uma conversa na roda. Livre das amarras acadêmicas e entregue à sua lida de escuta, Lúcia se revela mandingueira antenada, pesquisadora determinada e dona de um estilo característico, muito de acordo, aliás, com sua própria personalidade.
Mais uma vez, as mulheres surpreendem refletindo sobre tema até há pouco fundamentalmente masculino. Isso mostra que a sensibilidade feminina contribui e muito para o exercício racional da reflexão. Essa é, em parte, a principal contribuição deste livro: a de trazer a público os seletos depoimentos daqueles que vivem na pele a experiência da mundialização da capoeira, desempenhando em outros países a sacerdotal missão do ensino, da formação de discípulos, do discurso gestual dos corpos em movimento que a todos seduz e encanta.
A originalidade deste livro reside no registro dessa diáspora às avessas e sem martírios. Orgulho dos baianos e brasileiros, a capoeira agora é que nem o samba e a bossa-nova, aliás, de raiz bem baiana, apesar da sua formação carioquíssima: um patrimônio mundial. Mandinga em Manhattan cristaliza esse fenômeno. Isso comprova que Lúcia sabe jogar. Então, viva a roda e viva-se a mandinga. "
Trechos do prefacio
Gustavo Falcón
Doutor em História Social, (UFBA), discípulo do Mestre Pessoa Bababa.