Antes de começar o verão, propriamente dito, começava a temporada das chamadas “festas de largo”, as antigas “quermesses”, tradição da Igreja Católica que caiu no gosto popular e hoje, quase ninguém lembra, e muito menos festeja, os donos originais das comemorações cujos santos, foram sendo trocados, ou miscigenados, pelos orixás, a tal ponto que os “tríduos”, “novenas” ou “trezenas”, foram praticamente substituídas pelas “lavagens” e as “procissões” pelos “balaios”, “batucadas” e “presentes”.

Assim, ainda com a primavera, vinha a safra dos “carurús” dos santos meninos, ou “ibejis”, e seguidos por seus similares, femininos e masculinos, como Cosma e Damiana e Crispim e Crispiniano, descansando um pouco no recesso, apenas durante o mês de novembro, pois não era bom brincar com os “finados” e, finalmente, se reiniciava a temporada dos festejos com o “santo do cachimbo”, São Nicodemos, festejado pelos estivadores do Cais do Porto de Salvador, em 30 de novembro, e aí não parava mais.

Neste texto, tentaremos refazer este “rosário de festas”, utilizando apenas a nossa memória de “militante lavagista”, que efetivamente começava, ampla e popularmente, com Yansã/Santa Bárbara, Senhora dos Raios e dos Trovões, no dia 04 de dezembro, cuja missa e procissão, cada vez mais forte, começam na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo do Pelourinho, dominadas pela cor vermelha, percorre o Centro Histórico e culminam suas festas e carurús, numa grande comemoração no mercado de Santa Bárbara e, enfim, tomam todo o Pelourinho.

Logo após, no dia 8 de dezembro, é o dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia, a Padroeira do Estado da Bahia, no começo ou fim da ladeira do mesmo nome, mas a da Contorno, festa que tem perdido a importância na medida em que a cidade tem deixado de ser comercial e se prestado a uma atuação mais na área industrial e de serviços, deslocados para o Centro Industrial de Aratú, o CIA, depois no Complexo Petroquímico de Camaçarí, “o Polo”, levando a cidade para se desenvolver no Vetor Norte, no sentido da Orla, Iguatemi, Paralela e Lauro de Freitas.

Em seguida, é a vez da festa de Santa Luzia, no dia 13 de dezembro, consagrada a esta “protetora dos olhos”, cuja fonte milagrosa, ainda se encontra em funcionamento na Igreja de Nossa Senhora do Pilar, no Comércio da Cidade Baixa, razão pela qual sempre foi uma festa de “estivadores e putas”, além de outras categorias menos estigmatizadas, como os comerciários, os ferroviários e outros.

A partir de então, a cidade volta-se para as comemorações natalinas e de fim de ano, momento em que as “festas populares”, no sentido afro-brasileiros, dão uma arrefecida para voltar com tudo, na passagem de ano, com um réveillon no Largo da Boa Viagem, prenúncio da Procissão Marítima do Nosso Senhor Bom Jesus dos Navegantes, no dia 1º de janeiro, que sai da já citada Igreja da Conceição da Praia, de barco com destino a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, no Largo e Praia do mesmo nome, na Cidade Baixa a caminho do Bonfim.

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