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O que é que a baiana tem, Kannario? por Jorge Portugal
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Ter, 24 de Fevereiro de 2015 19:46

jorge_portugalDepende. Se for a BaianaSystem tem rock, e arrocha também; tem reggae, e samba também; guitarra baiana e som eletrônico também. Tem uma diluição sonora que passa a limpo, no velho e bom “liquidificador antropofágico” de Oswald de Andrade, “ a contribuição milionária” de todos os ritmos que o país inventa, aliada a um texto ágil, feito de pedaços do cotidiano, estilhaços poéticos que a voz-presença de Russo PassaPusso nos traz .Vi demasiado na Tropicália, vi muito no Mangue Beat, vejo redivivo na “Baiana”.

Naquela segunda de carnaval, o Largo do Pelourinho era um “chame gente” só. As pessoas não paravam de chegar, e eu comecei a rezar baixinho para que nada de ruim acontecesse: rezas pra nossa Senhora, oferendas pra Exu, louvores em diversos templos, e aquelas doze mil pessoas apertadas no largo certamente viveram uma festa para nunca se esquecer: o cenário do casario colonial trazia séculos de aplausos para essa vertente luminosa do pós-Axé Music.Todos os estilos em nenhum.Sem molduras.

Corta para o Campo Grande.Lá vem Igor Kannário trazendo cinqüenta mil rostos da invisibilidade baiana. Na maior manifestação “sócio-momesca” jamais vista nessa festa, conseguiu transformar as outrora temidas “pipocas de Bell e do Psirico” em público de ópera.Com Kannário, não vieram apenas desgarrados e fortuitos foliões, mas toda uma massa de jovens, majoritariamente negros e pobres, que ensurdeciam os ouvidos da cidade gritando: “ nós existimos e não queremos ser ignorados!”.Igor é um “bruxo musical” que pegou formato e ritmo do pagode baiano( irresistível para dançar!), preencheu com forte conteúdo social de denúncia – com a pegada do rap – e, canta/diz sua “marselhesa” da margem.Se a minha geração precisou de Geraldo Vandré e sua guarânia “Caminhando”(“Vem vamos embora/que esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera acontecer”) para derrubar a ditadura militar, a juventude Kannarinha arma-se de apenas dois versos secos, feito pedras atiradas contra o muro do apartheid social: “é tudo nosso/nada deles!”. É a palavra de ordem do momento.

Última cena: terça de carnaval, tento atravessar o Campo Grande em direção ao camarote do governador para cumprir agenda oficial. Ao chegar à barreira de seguranças que separa um bloco do outro em desfile, sou barrado grosseiramente por um deles: “não pode passar por aqui!”. Um amigo, a meu lado, explicou-lhe que eu era o secretário de cultura do estado, e ele, impávido, virou-se pra mim e disse: “ me mostre a carteira de secretário”. Tirei o turbante do Ghandi, os óculos e perguntei: “vocês nunca me viram antes?” Um deles então olhou bem pra mim, e gritou para os demais: “ é o professor, pessoal! Pode passar, professor!”. E assim, mais uma vez, o professor deu de goleada no secretário.

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