Uma das formas mais cruéis de se lidar com uma coisa é ignorando-a. Mas falo aqui não do ignorar advindo da ignorância, do não saber, do desconhecer.
Falo do ignorar consciente, daquele que diz, "vou fazer de conta que não existe". Há, aqui, uma ação deliberada de impor àquela coisa um não existir, um não pertencer, um nada, ainda que isto não seja possível. Impor a alguém, por exemplo, o famoso "gelo" é uma dessas formas cruéis de se lidar com uma situação, deixando de lado soluções mais nobres tal como encarar o problema de frente solucionando-o da melhor maneira possível.
Assim como os indivíduos, sociedades e governos ignoram realidades que lhe dizem respeito, ao usar este lamentável artifício como forma de não assumir as responsabilidades que lhe cabem.
Sociedades e governos que foram e são responsáveis por suas ações aprenderam a lidar com a memória das suas tragédias, guerras ou conflitos.
O Brasil - enquanto Estado e sociedade - não aprendeu a assumir a responsabilidade pelas realidades que criou. Não assume e nem procura reconhecer que tem responsabilidades grandes pela realidade que hoje se apresenta e que é preciso agir na solução dos problemas que são estruturais. Temos problemas estruturais sérios e não abordá-los é simplesmente ignora-los, empurrando a sujeira para debaixo do tapete.
Mas creio, sobretudo, que precisamos primeiro responder, como sociedade, a uma pergunta básica: que país queremos? Daí sairá o elemento que servirá de semente para um projeto de Nação que contemple minimamente a todos. |