Já estava em cartaz há uns dias, mas enrolei e só na semana passada fui assistir ao documentário sobre o Chico Buarque de Holanda. 
Me emocionei, me surpreendi, me choquei, enfim, não me passou despercebido.

E como já tenho algumas milhas rodadas, saí do cinema tranquilo quanto ao fato de que aquele olhar, era apenas um olhar. Outros poderiam surgir, divergindo deste que vi; outros iriam seguir dali adiante; outros iriam por outras rotas, nos surpreendendo; mas todos, imagino, sem ignorar a estatura artística e humana do Chico. Sim, humana, também!

Me acostumei a não querer conhecer os meus ídolos, para que não virassem gente. Mas, uma vez conhecendo-os, tive a sensatez de acolhê-los em suas humanidades - ora, quem seria eu para negar tão humano gesto? 
Naquele singelo olhar ali apresentado, pude, graças a Deus, saber um pouco mais, me deleitar um pouco mais, cantar um pouco mais e aprender um pouco mais. 
Chico lança algumas soluções - para ele -, que longe de pretenderem ser "regras" ou "fórmulas" prontas para quem quer que seja, me puseram a refletir sobre algumas situações que a vida me impõe. O olhar do Chico sobre algumas questões suas, me inspirou a ter o meu próprio olhar sobre questões minhas - acho isto fantástico! 
Dias depois, soube, estarrecido da agressão sofrida por ele, ao sair de um restaurante. Soube e me senti muito mal! 
Primeiro, pelo patrulhamento ideológico que ainda sofremos - amigos, creiam-me, adoto a liberdade de expressão como direito inalienável do ser humano. Pegarei em armas, vuvuzelas, o escambau, para defender o direito de podermos nos expressar, sem que para isto, estejamos passíveis de nos depararmos com bêbados ensandecidos, à cata dos seus dois minutos de glória.

Vendo o vídeo, fiquei chocado com algumas coisas que me soaram surpreendentes. 
A primeira delas, o patrulhamento ideológico que ainda impera na nossa sociedade, acostumada que é, ao autoritarismo ideológico como forma de impor um pensamento único.

Segundo, me surpreendi com a incapacidade do Chico e de seus acompanhantes, de perceberem a cilada montada.

Terceiro, por que não buscaram ajuda? Sim, ajuda! Não tinha um só ali, dentre os acompanhantes do Chico, com menos de sessenta anos. Razão suficiente para que buscassem ajuda diante de delinquentes daquela envergadura. 
Quarto, por que não chamaram um taxi imediatamente, ao invés de tentarem fazer com que bêbados soubessem onde estava instalado, neles, o botão da razão?
E quinto, ainda temos polícia?

Parece, pelo escrito acima, que estou condenando Chico e os seus acompanhantes a um paredão de fuzilamento, com tantas perguntas. Mas, não! 
Ao lançar sobre ele a obrigatoriedade do olhar acolhedor humano, percebo que na sua nobreza - e daí se exibe, aos meus olhos, a sua coerência espetacular -, Chico tenta, até o último momento, a argumentação como ferramenta para uma conciliação.

Uns irão dizer que isto lhe salvou de ser agredido fisicamente. Mas prefiro ver que só mesmo um homem com tão bem resolvido olhar para o feminino, poderia ver ali, uma solução pelas vias da argumentação.

Enfim, Chico Buarque, estou com você, pelo seu direito de defender, crer, apoiar, ajuntar-se, compartilhar, verbalizar, votar, o que bem quiser e entender. 

PS Será que aqueles meninos mal criados e mal educados fariam a mesma coisa num show do Chico? Oportunistas sarapas em busca de alguma fama.

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