Esta festa é por muitos, inclusive o cronista que ora escreve estas mal traçadas linhas, considerada como um dos grandes momentos do Carnaval da Bahia, se não o maior, pela diversidade, liberdade e popularidade que são as suas maiores características, juntamente com infinitas outras que compõem este universo de beleza, coloridos e felicidade, tradição maior deste conjunto de celebrações da vida, que respondem, também, pelo nome de festejos momescos, outrora um “tríduo”.

Em primeiro lugar, mesmo começando pela última característica citada, pode-se observar que é uma das festas mais populares, exatamente por ser localizada em um bairro proletário, a antiga Fazenda Garcia, em que as casas da burguesia e setores mais abastados da região, ocupavam as proximidades do Campo Grande, na rua principal, enquanto pelas “pirambeiras”, como em toda a Cidade Alta, se derramavam os barracos de tábuas e sopapos, construídos em “mutirões” e depois, por meio de “bate-lajes” e “puxadinhos”, eram multiplicados infinitamente.

Desde modo, apesar do crescimento e expansão, tanto em quantidade como em diversidade dos agentes envolvidos, ainda é uma festa de familiares, amigos e vizinhos que improvisam livremente suas próprias “fantasias” que podem ser uma simples troca de roupa entre casais ou irmãos, ou mesmo grandes blocos de pierrôs, que está voltando à moda, índios de várias tribos, existentes ou não, ou mesmo uma cueca ou calçola, (inha ou ão), ou mesmo nada além de uma bermuda, calça, biquíni ou sunga mesmo.

Quando diga festa de familiares estou me referindo ao costume bem popular das pessoas de várias gerações de saírem em grupos, (avós, mães, filhas e netas), cito especialmente, as mulheres, porque são mais agregadoras, cuidadosas e protetoras do que os homens mais dados a se despregarem das responsabilidades domésticas com a prole, para paquerar ou mesmo “caçar” alguma incauta nativa, ou mesmo turista, para ter ao menos uma aventura pra contar para os amigos.

Em segundo lugar, a liberdade de se vestir como quiser, “ou não” como diria Caetano, bem no estilo da troça popular, aliados a um espírito da crítica política, expressa desde o começo de sua história e reforçada pela presença dos movimentos sociais organizados, além dos partidos e sindicatos mais politizados que passaram a usar este privilegiado espaço para protestar contra o governo e suas políticas de arrocho salarial, quando não recessivas e provocadoras de desemprego.

Tal caráter quase anárquico e rebelde, sempre presentes nas manifestações populares, mesmo nas tradicionais, foi enormemente ampliado, com a presença dos artistas, ligado aos teatros, Castro Alves e Vila Velha, além dos bares e botecos, bem como da Universidade Federal da Bahia, com suas escolas de música, teatro e Reitoria construídas no seu entorno, forneceram um grande caldo e contingente de participantes do movimento cultural, que chegaram, inclusive, a formar o bloco da “Nave louca” que saiu durante alguns anos.

Enfim, a partir daí, estão dadas as condições básicas, para ampliar, infinitamente, a diversidade de manifestações e personalidades presentes neste evento que continua e continuará, ainda por muito tempo, (tenho uma fé, quase absoluta, mas inabalável, intensa e profunda na bondade, desejo de felicidade e sabedoria dos homens), para alegria, festa e glória de meu coração. (tenho uma fé ta na bondade, desejo de felicidade e sabedoria dos homens), Graças a Deus.

Salvador, 090216.

Sérgio Guerra.

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