Receita para se identificar um baiano. Por Franciel Cruz |
Dom, 21 de Fevereiro de 2016 13:38 |
A apresentação foi rápida e ela não percebeu o sotaque. Talvez a tímida simpatia do cidadão também tenha contribuído inicialmente para que não existissem quaisquer desconfianças ou mal-entendidos. Tal harmonia, porém, só durou o tempo de ela lançar na mesa o primeiro jogo de búzios. Ato contínuo, desferiu para o sujeito um olhar de perplexidade, deixando-o mais perplexo do que o próprio olhar dela. Segunda rodada de búzios e o que era apenas perplexidade transforma-se em um espanto maior, quase uma ira. O rapaz, assustado estava, assustado continuou, pois não tinha como sair dali correndo. Até tinha, mas o medo das forças ocultas o impedia. Nova tentativa – e a mãe de santo se enfureceu. Não conseguindo decifrar a cristalina verdade revelada pelo búzios, ela resmungou, entre incrédula e impaciente. - Não é possível!!! Sem compreender nada, ele criou coragem para falar, mas apenas gaguejou. - O qu-quê? O qu-quê foi? Alguns silêncios eternos até o último último teste e, quase feliz, ela pergunta afirmando, como se acabasse de desvendar um dos maiores segredos da humanidade. O senhor num é baiano, não, né? Também quase feliz por ela já ter começado a adivinhar sua vida, a partir da árvore genealógica, ele responde, agora com uma certa firmeza. - Sou escocês. E, ela, de bate-pronto. - Bem que eu vi que não era baiano. Afinal, os búzios teimavam em mostrar aqui que num tem ninguém querendo entrar em sua semana, dar nota em sua vida nem querendo saber o que você faz. Amém. * Apesar do realismo fantástico/fantasmagórico, toda a história é real e dou fé. |
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