Sobre construções e ruínas. Por Franciel Cruz |
Ter, 23 de Fevereiro de 2016 13:24 |
Há exatos 20 dias, a prefeitura renovava por mais cinco anos o contrato com a Premius Entretenimento para que o Camarote Salvador continue a explorar (literalmente) uma praça no bairro de Ondina. E, vale ressaltar, a exploração não ocorre apenas no período momesco. Bem antes do Carnaval o local é interditado para a montagem do monstrengo e a cidade da Bahia fica impedida de usufruir de um importante espaço público. Pois muito bem, digo pois muito mal. Na mesma data, há exatos 20 dias, um amigo me alertava que a prefeitura estava planejando a demolição do Bar Rumo do Vento, em Itapuã. O argumento, conforme lembrou agora Pedrão, um dos idealizadores do Grupo Botequim, era o de que a construção não se adequava aos padrões da reforma que será implantada na praça onde fica a budega. Não acreditei. Mesmo com o lombo curtido em seculares dissabores e conhecedor das tenebrosas transações que movem o poder público, seja ele de que esfera for, cheguei a duvidar que perpetrassem tamanha insensibilidade. Como pode alguém pensar em destruir um lugar chamado Rumo do Vento? Como é possível mandar ao chão um estabelecimento com esta lírica denominação? Que mal pode fazer a uma cidade um lugar que se chama Rumo do Vento? Incompreensível. Incompreensível e inaceitável, especialmente porque, além do singelo nome, o lugar estava há mais de 30 anos cultuando a felicidade em forma de samba no bairro de Itapuã. E sem fechar a praça para ninguém. Ao contrário. O Bar de Seu Régis, como também era carinhosamente conhecido, sempre acolheu a todos, sem discriminação. E melhor, com açúcar, música e afeto.(Conforme vocês podem verificar no linque no final do texto). Mas, na novíssima Soterópolis, que caminha de forma célere rumo à macaqueação das miamis da vida, parece não existir mais espaço para afetos. Porém, ainda há espaço para a luta. O próprio Pedro Abib Pedrãoinforma que o coreto, que pelo projeto original também seria demolido, está garantido e que a reivindicação agora é que exista "um quiosque no local para cumprir a função do antigo, no que se refere a ser um ponto de apoio para os eventos culturais na praça”. Isto pode parecer pouco diante das tragédias, contudo é uma forma, ainda que tímida, de não permitir o triunfo total da desmemória, de não deixar que, hic et nunc, a construção continue a ser a própria ruína. ·
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