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Não bullying comigo por Açucena de Lirio
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Qui, 03 de Março de 2016 13:55

Acucena_de_LirioHarry Potter e a Pedra Filosofal. Este foi o livro que Samuel pegou ontem na biblioteca da sua escola, chegando em casa com ele em mãos, como convite para reiniciarmos nossa sessão de leitura.

 

Duas coisas, de cara, me intrigaram: suas 263 páginas e a falta completa de ilustrações. Sendo assim, o menino de 8 anos deveria contar exclusivamente com sua imaginação. O que demonstra um amadurecimento como leitor.

Mas o que de fato me deixou contente foi perceber com isso a superação sua dos traumas do bullying de que vinha sendo vítima na escola. Ele havia perdido o interesse pela leitura e poesia, uma vez que a violência da perseguição "inocente" de um coleguinha se intensificou quando ganhou o prêmio de jovem escritor, no ano passado, e começou a aparecer na televisão. O que piorou quando foi aplaudido pela escola.

A falta de interesse pela literatura se estendeu também para o conhecimento de uma forma geral. O garoto que festejava o acúmulo de atividades que teria de responder, quando faltava alguns dias a escola; que comemorava o início das aulas, mostrava-se completamente apático, com a feição de que, na verdade, estava indo para um abatedouro. E sua apatia, por vezes, o transfigurava em arredio dentro de casa. Diante desses sintomas, uma psicopedagoga diagnosticou como decorrente do bullying, e indicou um tratamento.

Tudo isso me fez pensar o quanto o bullying é perverso. Então, imaginei quantos talentos são destruídos por uma "brincadeira ingênua". São aquelas crianças que destoam dos padrões estabelecidos, além do gordo e nerd (que é o caso de meu sobrinho), o afeminado, o negro etc. O caminho que encontram para vencer a humilhação é o abandono da escola.

Felizmente, pesquisas avançaram no sentido de perceber que não se trata apenas de coisa de criança, mas que o bullying é algo muito sério. Ele nada mais é do que um exercício escancarado da disputa do poder, que os adultos fazem como ninguém, mas disfarçam. As crianças são sempre mais sinceras, tanto para o bem, quanto para o mal.

E elas não crescem incólumes às padronizações impostas pelos maiores. Vão aprendendo direitinho as chacotas que veem os mais velhos fazerem com o gordo, o viado, o nerd, o negro, enfim, com todos aqueles que destoam do que concebem como "bonito". E, assim, começam a reproduzir ferozmente toda a cartilha da opressão.

E se toda a opressão é arma de disputa de poder, a inveja é sua munição. Na maioria dos textos que li sobre bullying, os relatos são sempre os mesmos: a menina nova que passa a chamar a atenção; aquele que também fica quieto em seu canto, e que, por isso, desperta a curiosidade de todos; aquele que tira as maiores notas, e por isso cultiva o carinho dos professores etc.

Eis aí as razões de Samuel ter sofrido tanto: ser gordo; mas, principalmente, o fato de tirar as maiores notas da escola, a ponto de vencer um concurso de Jovem Escritor. E, com isso, atrair a atenção e admiração de muitos.

Claro que como mãe, senti um imenso ódio pelo seu algoz. Por isso, evitei até ir à escola, pois temia perder as estribeiras e fazer uma besteira com ele. Mas, como ser humano, confesso que o que sinto mesmo é pena dele, pois, nessa história, acabou sendo vítima também.

Sim, ele é vítima dessa fragilidade humana, em ser sedenta por ocupar exclusivamente todo o espaço, quando este é vazio ao pertencer a uma única pessoa. Como diz o ditado: o homem não é uma ilha.

Felizmente, o menino saiu da escola, e agora tenho de volta aquele meu sobrinho alegre, entusiasmado com a instituição e tudo que tem a aprender com ela. Nem foi preciso tratamento. Até chegou em casa com um livro, para retornarmos nossa sessão de leitura!

Mas não me dou por total satisfeita, pois sei que há muitas crianças por aí no mesmo escuro em que se encontrava Samuel. E sem o mínimo vislumbramento de luz. Restando-lhes, portanto, a alternativa do abandono da escola.

Tudo isso me fez pensar sobre a importância de se discutir o assunto em sala de aula. Oficinas, palestras, debates devem acontecer constantemente em foro elucidativo. Acredito, até, que o bullying deve fazer parte do conteúdo programático, vindo em livros para discussão e debates em sala de aula.

Além disso, é um convite a uma postura iconoclasta em relação ao estabelecimento de padrões. Eles precisam, de uma vez por todas, ser destruídos e destituídos do lugar comum. Quando todos forem todos, não haverá nenhum nenhures.

Só assim acabarão os presídios. E as escolas, enfim, serão lugares de escolhas.

 

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Última atualização em Qui, 03 de Março de 2016 14:07
 

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