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Uma Bahia fora do “pódio”, Galvão e Glória fora do “tempo” Por Gil Vicente Tavares
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Ter, 23 de Agosto de 2016 07:02

Gil-Vicente-TavaresNa Cerimônia de encerramento das Olimpíadas, Galvão Bueno e Glória Maria revezaram-se nos erros e desconhecimentos sobre a cultura baiana. Nada passou incólume ao erro.

Começou com o desconhecimento dos percussionistas que tocavam o vassi no Hino Nacional. Dentre eles, só pra começo de conversa, estava Seu Matheus Aleluia, um ícone da música brasileira que com seu grupo Tincoãs trouxe a cultura afro-brasileira como principal norte de seu trabalho. Compositor gravado pelos mais diversos artistas brasileiros com pérolas como “Cordeiro de Nanã” (e estava lá Gabi Guedes dentre tantos outros).

Tudo bem, nossa memória nacional é um lixo e ninguém mais lembra desse grupo (confere?).

Talvez fosse exigência demais que alguém pudesse creditar os compositores de “Chiclete com banana”, ao menos os créditos oficiais. A música é de Gordurinha, compositor baiano, em parceria com Almira Castilho, pernambucana. Digo créditos oficiais porque reza a lenda – me contaram ontem – que Jackson do Pandeiro deu a autoria dessa a Almira, sua esposa, apesar dele ser o autor com Gordurinha. Em todo caso, esqueceram o baiano, de novo.

Agora, qualquer ser humano que ouça música brasileira, nem precisava vir aqui, já ouviu e reouviu canções e mais canções sobre Itapuã. Sendo jornalista, fica mais fácil ainda, ou mesmo impossível, com tantos anos de carreira, não ouvir falar dessa praia cantada pelos mais diversos compositores do país.

Não bastasse a fama do lugar, o grupo venceu o 26° Prêmio da Música Brasileira, na categoria Melhor Álbum Regional, ano passado. Eu sei, ano passado é muito tempo, mas a Usina de Itaipu foi inaugurada em 1984. Há aí 31 anos de diferença. Não foram o suficiente para Glória Maria chamar o grupo de Ganhadeiras de Itaipu. Isso, depois de Galvão ter chamado Mikael Mutti, grande instrumentista baiano, com seu aparato eletrônico sofisticado, de DJ Australiano.

Galvão, então, ao iniciar a canção “Xique-xique”, de José Miguel Wisnik com o baiano Tom Zé, da trilha do espetáculo Parabelo, arriscou, pescando em sua cartela, que começaria “Asa branca”. Desistiu e ficou por isso mesmo, apenas elogiando o Grupo Corpo, de Minas.

Acho que Glória Maria, pra não sair por cima da situação, ainda cravou um Mariane de Castro para a cerimônia de apagar a tocha. A cantora Mariene, baiana, diga-se de passagem e mais uma vez, faz parte do elenco da novela “Velho Chico”, o que torna tudo mais grave ainda.

Boicote à Bahia? Mania de perseguição?

Acho que é muito mais grave. Continuamos sendo invisíveis às lentes mandantes do país e, consequentemente, aos milhões de espectadores teleguiados que aceitam os antolhos e veem a cultura brasileira pelo foco da TV, consumindo o que lhes mandam consumir, aplaudindo o que lhes mandam aplaudir, ignorando o não interessa que eles saibam; seja por qual motivo for.

Sites, blogs e redes sociais são ferramentas potentes para divulgação, conhecimento, guerrilha cultural. Mas o poder da grande mídia ainda define o que vai fazer sucesso na maioria das vezes. Ou quem vai ficar no poder, na capa da revista, no DVD, no som do carro. Ou quais caríssimos ingressos de caça-níqueis deve-se comprar.

Bate uma tristeza. Aquela sensação de insignificância. Todos os baianos citados acima são famosos, reconhecidos, mas mesmo assim são ignorados, omitidos, creditados erroneamente.

Não tenho antena em casa. Vi as Olimpíadas, pouca coisa, pelo computador. Não sabia que havia outros canais acessíveis e fui obrigado a passar por essa vergonha nacional de comentários.

No fundo, triste e insignificante são eles, pra mim. Muito dificilmente, só voltarei a ouvir essas vozes daqui a dois anos, na Copa do Mundo, mas provavelmente estarei vendo noutro canal, em outro site.

As coisas têm o valor que damos a elas. Você que assiste a essas pessoas, e não vai ao teatro, ao museu, não busca ouvir Matheus Aleluia, Gabi Guedes, As Ganhadeiras de Itapuã, Mikael Mutti, Tom Zé, Gordurinha, Mariene de Castro e tantos outros, e dá audiência para o erro e o equívoco, está valorizando o erro e o equívoco.

Se todos voltássemos nossos olhos às belezas do mundo e libertássemos nossa vista dos antolhos da mídia, veríamos crescer as potentes arte e cultura que temos nesse país e faríamos afundar a mediocridade, o equívoco, o feio, o violento, o erro.

Acreditem, precisa-se de muito pouco para mudarmos as coisas. Basta querer, fazer acontecer e tomar as rédeas de suas escolhas.

Senão, acabam montando na gente e chamando a gente do nome que quiserem, ou apenas ignorando nosso nome e batendo as esporas do tempo em nossa carne passada.

Encenador, dramaturgo, compositor e articulista. Doutor em artes cênicas, professor da Escola de Teatro da UFBA e diretor artístico do Teatro NU.

Artigo  publicado originalmente em http://www.teatronu.com/uma-bahia-fora-do-podio-galvao-e-gloria-fora-do-tempo/


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