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A comunicação política da lava jato, Por Wilson Gomes
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Qua, 21 de Setembro de 2016 04:17

Wilson_Gomes2A Lava Jato não é complicada apenas porque o seu nome é um inesperado e grosseiro erro de português. É que ela tem muitos lados. O poliedro (há anos que espero uma chance de colocar "poliedro" num post, como Chico colocou "paralelepípedo" numa canção, aguentem aí)...

 

Como eu ia dizendo, o poliedro começa com uma operação policial, daí o nome avexado, destinada a apurar a imensa e extremamente eficiente rede de crimes de corrupção público-privada e de financiamento ilícito de partidos, de que ouvimos falar todos os dias. Outras faces envolvem o Ministério Público e Juízes Federais que assumiram a corajosa e necessária tarefa de denunciar e julgar tais crimes. É a Lava Jato como operação legal e judiciária, explicitamente inspirada na série de "investigações judiciárias" (inchieste giudiziarie) Mãos Limpas que aconteceu na Itália nos anos 1990.

Vem da sua fonte de inspiração o fato de que há ainda uma quarta face da operação, que se define por uma consistente atividade de busca de legitimidade pública e de apoio da sociedade civil. Os times do juiz Antonio Di Pietro e dos procuradores Borrelli e D'Ambrosio forjaram a convicção de que sem o apoio da opinião pública não havia como enfrentar os poderosíssimos interesses da elite política, do governo e dos barões dos sistemas financeiro e industrial. Capturar a benevolência da opinião pública e dos "formadores de opinião" era providenciar um capital social capaz de assegurar a sobrevivência e a influência da Mani Pulite como operação reconhecidamente necessária para a sociedade.

A Lava Jato, portanto, tem uma face mediática muito importante. E é aqui que entra a comunicação política. Não havia necessidade legal de uma coletiva de procuradores ao apresentarem a denúncia contra Lula e sua família, mas havia necessidade mediática. Depois do desastre da condução coercitiva de Lula e do vazamento seletivo de áudios obtidos ilegalmente, era óbvio que a Lava Jato estava lidando muito mal com a opinião pública. E perdendo legitimidade.

Como assim "perdendo legitimidade"? Todo o mundo político e o universo do jornalismo não afirmam reiteradamente que a Lava Jato é intocável? Não é bem assim, meus amigos. Aliás a insistência mesma já é um sintoma de que a incerteza dá umas mordidas na consciência. As pessoas querem uma operação para desvendar os crimes de corrupção. Mas querem qualquer operação, conduzida de qualquer modo, ou, como disse quem a atacou mais recentemente, Gilmar Mendes, "violando a lei para defender a lei"? Querem uma operação que parece moldada para um alvo específico (Lula e o PT), tomando medidas precipitadas, persecutórias, com policiais, procuradores e juízes pondo os pés pelas mãos e comprometendo, com uma condução inapropriada, um projeto que a sociedade aprova? Querem justiça ou justiçamento?

Moro já levou puxões de orelha do STF e até de colunistas dos jornalões. Já vi chamadas de jornais internacionais dizendo que Moro se mira em Di Pietro mas mais se comporta como Eliot Ness, o chefão dos Intocáveis, que passou por cima de tudo para destruir Al Capone. Quando a Lava Jato começou a meter-se a besta com ministros do STF, a corte rugiu, e Gilmar Mendes mostrou os dentes. A ideia da Lava Jato está legitimada socialmente, mas cada ação, cada sub-operação precisará ser trabalhada na opinião pública. E esse "trabalhar a opinião pública" é a comunicação política.

Di Pietro era um mestre na frente das câmeras. Moro, Dallagnol (em suma, "os meninos" Intocáveis do Paraná), nem tanto. Aquela carinha enfezada, aquele jeitão de menino do DCE de Direito, a homogeneidade de cabelos, ternos caros e gravatas feias, os ppt de professor que não teve tempo de preparar a aula, aquela certeza religiosa de que estão em uma guerra santa, aquela convicção irreal de que podem dizer o que quiserem que todos os públicos no Brasil vão estar cheio de complacência e boa vontade, aquele ranço de antipetismo que nem tentam disfarçar ou dissimular, tudo isso é um desastre de comunicação política. A "captatio benevolentiæ" da retórica aristotélica, o esforço para atrair a boa vontade das audiências, só funciona em ambientes densamente antipetistas, como devem ser as cercanias desses moços. E só.

Não quero puxar a sardinha para a minha brasa, mas comunicação política não é trabalho para amadores. Deixar os sem-carisma do Moro e dos "meninos do MPP" ocupar-se da tarefa dá no que estamos vendo hoje: Dallagnol cheio de "mimimi manipularam o que nós dissemos". Só nos faltava esta: meses de "mimimi a Lava Jato me persegue" para agora ver o "mimimi estão perseguindo a Lava Jato", "mimimi o meme me magoou". Comunicação política no mundo real é assim mesmo, amigo. Não sabe jogar o jogo, está fazendo o quê no play?

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Última atualização em Qui, 22 de Setembro de 2016 03:17
 

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