Amigos, durante a minha vida toquei exatos vinte carnavais. Foi uma maratona que começou em 1982 e acabou em 2002. Nunca - e não estou exager...ando - pude dizer: "essa grana fez um diferença enorme na minha vida."
Ora, se nunca fazia essa diferencia significante, por que eu continuaria a fazer aquele trabalho extenuante, pouco valorizado, me expondo - e ao meu instrumento - a uma violência grande, e tendo que lidar com um ambiente onde, apesar de tudo, a Música - assim mesmo, em maiúsculo - não era a estrela principal?
Não me fez e não me faz a menor falta não tocar no carnaval.
Porém, não posso deixar de refletir sobre a realidade do músico neste contexto. Ele, de importância vital para que a festa aconteça, é, talvez não menos que o "cordeiro", dos profissionais menos valorizados quando vemos a maneira como os empresários se colocam nas negociações sobre os valores negociados. Para eles, a sua paga já está dada à oportunidade de você tocar com A, B ou C. Um verdadeiro horror! Certa feita, enquanto tocava com uma cantora da chamada Axé Music, sentado à mesa de negociação, ouvi do empresário, aos berros, a pérola: "você quer quebrar a empresa?"
Tratava-se de um embate onde a divergência de valores estava em cem reais. Pire!
Ali vi que habitávamos planetas diferentes. Foi o meu último ano servindo à tal cantora, ao "sistema", à festa.
No entanto, e voltando ao tema, não vejo a classe se unir no sentido de se criar a cultura de uma nova consciência em relação à real importância do músico no contexto da festa. Sem ele, não há festa - pelo menos não como a conhecemos.
Somos acanhados, desorganizados enquanto categoria, mesquinhos, traíras, não sabemos nos valorizar e temos o péssimo hábito de nos submetermos à condições indignas de trabalho.
Acho que já é hora disto mudar!
Certo ano, os policiais militares declararam uma greve há poucas semanas do carnaval. Sem PM não há carnaval! Ponto!
O governador Wagner ciscou daqui, dali, de acolá, bateu pezinho, fez cara de birra , apenas para na última hora, ceder e dar à categoria o que pleiteavam.
Simples assim! |