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Já é carnaval cidade. A luta continua. Por Sérgio Guerra
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Ter, 28 de Fevereiro de 2017 20:09

Sergio_Guerra2Venho tentando compreender o recente fenômeno da explosão dos blocos livres e pipocas, estas belas, libertárias e renovadoras reações populares ao mercantilismo, padronização e exclusão social a que o Carnaval vem enfrentando, especialmente, nos últimos tempos, em que a indústria cultural, do consórcio pagode/axé, transformou esta manifestação popular em um grande negócio, em todo o Brasil, mesmo “fora de época”.

Destarte, lembrei do nosso falecido líder sindical, professor e sociólogo Juscelino Barreto, dono de um tese interessante sobre o Carnaval da Bahia, na medida em que considerava que este deveria ser visto como mais um radical momento da eterna “luta de classe”, posto que o domínio dos “grandes clubes e sociedades carnavalescas” eram efetivados pelos grandes “bailes, corsos e desfiles”, em que não faltavam os elementos fundamentais da sua origem branca e europeia, como cavaleiros, damas, orquestras e pranchões.
Por outro lado, havia também o Carnaval popular, dos bairros, batucadas, blocos e cordões, mantidos pelas vias das arrecadações e subscrições dos artesãos, moradores e profissionais de várias áreas, que iam desde os mais antigos “mela/mela”, aos “lasca flandres” e “come lixo”, estes a denunciar a exclusão social, até aqueles nascidos das corporações, militares ou não, ou mesmo por seus admiradores, como os “filhos do fogo e do mar”. 

Vale lembrar que, enquanto os “brancos” compunham o “calendário, horário e percursos oficiais”, domingo e terça-feira, sempre a noite, aos “negros”, quando permitido, apenas, eram concedidos os espaços e momentos “periféricos” ou “alternativos”, como na segunda-feira, então de meio expediente, derivando, pouco a pouco, no sentido do sábado, “zero hora”, quase “aurora” ou madrugada do domingo. 
E aí, pouco antes ou depois, então, surgiu a “fóbica com seu trio elétrico” que se tornou a grande marca do Carnaval Baiano, enquanto os “bailes e desfiles dos grandes clubes”, entravam em decadência e, praticamente, desapareciam. (Ainda existe algum, perdido por aí?). Rapidamente, o trio elétrico dominou o Carnaval, destruiu os “corsos”, derrubou as cordas e, como pontificou o arauto, cantor, compositor, cronista, músico, poeta e profeta da tropicália, Caetano Veloso: “...a praça Castro Alves é do povo... todo mundo na praça e gente sem graça no salão... “.

Entretanto, os “brancos” reagiram, privatizaram os espaços públicos, meteram cordas nos seus novos blocos e os trios dentro deles, expulsando o povo das praças e ruas, tudo isto com o apoio das autoridades e empresas. Entrementes, o povão “pipocou”, criando seus novos blocos livres e retomando seus espaços, convencendo as autoridades e empresas da “lucratividade”, econômica, política e social, do investimento no conjunto da população do que em pequenos grupos seletos e exclusivos.

Recentemente, vale o registro da presença do governo petista da Bahia, salvo engano, com o apoio da Petrobrás, patrocinando o “Carnaval Ouro Negro”, cujo nome já diz muita coisa, além dos “trios independentes”, com grandes artistas desta festa, o glorioso reino do empoderamento, felicidade e liberdade d@s “pipocas”, enquanto “micro-trios” desde os “Fora Temer”, vem arrastando grandes multidões neste grande “Carnaval de Participação”. Aliás, este bordão foi a música mais cantada/gritada e ouvida em quase todos os festejos momescos.

Porém, como ainda vivemos em um país de privilégios, os “brancos” expulsos pelo povo das ruas, que, enfim, se tornaram de novo públicas, se recolheram a novos espaços isolados, os “camarotes”, onde mantém o seu bom viver, com direito a todos os benefícios que o dinheiro pode comprar, como buffets, cabelereiras, cozinhas gourmets, maquiadoras, massagistas, saunas, inclusive, com shows privados com os grandes artistas do Carnaval de rua, tudo “all inclusive”. Isto, sem a presença do povo, é claro!

Mas, este é mais apenas um capítulo, deste novo momento da eterna luta de classe, traduzida na disputa pelo espaço, mais ou menos democrático e/ou público, retomada aqui nesta memorialística saudosa do professor Juscelino Barreto, nosso predileto sociólogo e liderança intelectual, política e sindical.

Nesta Terça-Feira de Carnaval.

O combalido folião Sérgio Guerra

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