Salvador, 22 de May de 2024
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Pós Carná. Por Fernando Monteiro
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Qui, 02 de Março de 2017 05:32

fernando_monteiroEntão, à base de Santa Salupas, em casa descansando, escrevo aqui algumas resenhas, impressões, previsões, coisas que penso sobre o carnaval de Salvador (quem sabem alguem lê...).

É mais um ano de transição, de mudanças importantes, mas que estão aí em disputa e, o que estamos achando bom, pode se tornar outro problema lá na frente se não houver disposição dos agentes da festa em equilibrar a coisa. 
De certo, este modelo de blocos com corda parece realmente estar com dias contados. Grande parte do público destes blocos da classe média hoje estão nos camarotes de luxo; estes que são descendentes direto deste modelo segregador e elitista que cresceu com as cordas e todas as formas de preconceito e exclusão que foram realçados com ela. Por isso, não vejo como haver mudanças nesta questão. As cordas devem ser abolidas. Mas fica uma questão. E os blocos que não estão na categoria “Blocos de Trio” como os afoxés, travestidos e blocos afro, que têm alegorias, fantasias e toda uma existência que precisa resistir? 
São questões que precisamos nos debruçar e todo cuidado é pouco. Como disse, os interesses estão aí, as disputas e, nunca as coisas andam na sintonia do equilíbrio, das correções e da justiça.

Uma outra questão importante a ser debatida é o financiamento dos artistas. Governo do Estado e Prefeitura não terão como sustentar todo um carnaval com "esse tipo"(outros quem sabe) de parceria com o setor privado. É preciso ver o que tem feito os outros Estados. As disparidades que existem em razão da força midiática, comercial (e política) de alguns artistas tem continuado desigualdades e isso precisa ser repensando. 
Lógico que dentro da lógica de mercado, determinados artistas tem seus valores, mas nada justifica pagar a artistas de outros Estados valores exorbitantes quando nesta terra se tem expressivos artistas que ficam de fora. Quantos trios e bandas (sem representatividade) foram salvos porque em verdade tem poder politico dentro dos poderes públicos? Colocar um artista com a envergadura de Moraes em um trio com problemas é algo que precisa ser revisto. É preciso haver respeito! O mesmo acontece com contratações da prefeitura.

O COMCAR Conselho Municipal do carnaval, precisa ter transparência, mostrar como funciona o critério de contratação de bandas. As secretarias municipais envolvidas nas contratações podem dar uma resposta melhor à sociedade e eliminar a ideia de que ali, primeiro, só os apadrinhados.

De tudo sobre financiamento, não pode haver nenhuma possibilidade de se “colocar” como salvação, fechar circuitos e cobrar ingressos como forma de ser tambem uma forma de financiamento. O chamado “carnaval in door” era as antigas micaretas que acabaram por causa deste mercado de abadás. Hoje, são festas privadas, muitos em espaços públicos. Em Salvador se faz carnaval e isso seria a radicalização um modelo excludente, perverso e que poderia enfraquecer mais ainda a festa já que os sinais que a população vem dando é de um carnaval cada vez mais participativo.

Bom, como disse antes aqui, o carnaval passa por esta fase de transição e é preciso que esta festa ande cada vez mais no processo de repopularização, democratização e preservação da nossa cultura.

Fui nos principais circuitos, a avenida e a Barra. Eu gosto de observar tudo e são muitas coisas que podem ser melhoradas. As estruturas das policias, do Governo e da Prefeitura precisam dialogar não só com as estratégias de cada órgão, mas também com a festa. Como é que a prefeitura fecha as praças? Um outro exemplo: Ano passado, a PM colocou seus tapumes e estruturas no Farol, impedindo a visão do ponto turístico além da circulação de ar, já muito afetada pelos camarotes que impedem que a brisa do mar chegue ao circuito.
 
No Campo Grande, a mudança dos praticáveis das emissoras de TV e Camarotes de autoridades, se por um lado abriu a área da Teatro Castro Alves (o que foi bom), tirou daquelas pessoas que ficam nas arquibancadas, o grande show dos artistas. São turistas, pessoas com um pouco mais de idade, crianças que agora assistem as bandas na concentração dos trios com a banda praticamente passando som. 

Com ao abandono da avenida por parte das “estrelas” da axé music, o circuito que parecia estar morrendo, agora vem se reinventando. A eterna briga dos grandes pela fila de desfile agora é na Barra, onde se concentra a mídia e o maior numero de foliões. E como toda concentração, provocam as mazelas do carnaval como a violencia. Ondina hoje é o lugar onde há mais furto e brigas.

Quem passou pelo Campo Grande, avenidas 7 e Carlos Gomes, viu além dos tradicionais foliões de todas as matizes carnavalescas (diferente do carnaval abadá da Barra), famílias, crianças, pessoas idosas e uma pipoca que representa realmente a capital baiana. 

É preciso pensar a praça castro Alves. Trios menores com atrações de peso podem fazer um permanente carnaval na praça e proporcionar encontros memoráveis, bom para qualquer emissora de TV que quiser “voltar” a transmitir os carnavais da praça. Imagine 2 horas de Baiana System em um trio e um Moraes, Luiz ou qualquer outro artista em um outro trio dividindo a praça, intercalando, havendo entrosamento e encontros com os afro, afoxés, batucadas, blocos de trio que por ali passassem. Depois podem seguir avenida acima, dando espaço a outros trios se encontrarem na praça. Isto não é novo, o carnaval já foi assim… Encontro de trios todas as noites (basta que sejam dois) na praça e abram o espaço para o artista que quiser ir na quarta-feira até o amanhecer…

As emissoras de TV na Bahia, com exceção da TVE Bahia, parecem ser mera cópia do olhar e pensamento da mídia paulista em relação ao nosso carnaval. Até as interrupções que as subcelebridades que vem do eixo RJ/SP fazem com os artistas, as emissoras da Bahia vem copiando. Deixa a banda passar e procurem saber a historia dos blocos, dos artistas, das musicas, composições e compositores(as) para poder comentar e menos “aparição”. 
Lembro-me que nas décadas de 1980 e até meados de 1990, as TVs baianas que cobriam o carnaval focavam suas câmeras muito mais no “todo”, ou seja, no bloco ou pipoca que passava e não somente no(a) artista. É uma chatice ver qualquer coisa na Band por exemplo.

Ivan Huol quando idealizou o microtrio não deve ter tido pretensão de que aquela “contracultura” pudesse anos mais tarde vir a ser um bom futuro para o carnaval de Salvador. O trio elétrico como é hoje coloca o(a) artista distante, serve para o conforto dos(as) artistas (é necessário mas precisa haver limites) em detrimento do espaço do(a) folião(ã), a potência do som propagado é o poder daquele equipamento, ou seja, é até onde chega o poder do(a) artista, o que promove uma série de problemas onde quem tem o dinheiro praticamente passa por cima do(a) artista que está num trio com menos “poder”. Limites precisam ser impostos em relação ao tamanho do trio. Tem trio elétrico que na verdade são dois em um e um é apenas para levar convidados(as), um verdadeiro absurdo.

Quando os microtrios, minitrios, equipamentos menores começam a puxar multidões, isto significa reumanizar a relação do artista com o público, além de possibilitar (e aí pode ser uma revolução, inclusive musical) que não só milionários equipamentos e artistas que estão na mídia possam puxar multidões. É democracia, pluralização e desconcentração de público. O Microtrio de Ivan Huol deu este caminho. O Rixô Elétrico de Fred Menendez, O trio do baiana System, o Pranchão do Alavontê e tantos outros estão mostrando que menos é mais...

Mais do que vi:

A ideia do Furdunço é interessante e tem servido para que se pense em outras possibilidades para além dos “consagrados”, apesar de achar que de alguma forma este modelo cerca e pasteuriza essas manifestações. O nome é bobo e esta “possibilidade de festa dentro da festa” já poderia estar inserida no contexto do carnaval de uma forma melhor, porque em verdade, do que desfila no Furdunço (com exceções), são aqueles que de alguma forma não estão na mídia, mas que tem uma historia, valor cultural, justamente no carnaval ou à margem do carnaval oficial (criando alternativas).

Vi um Bel Marques com uma grande banda, mas sem a verdade do Chiclete com Banana. Um Camaleão de turistas e com menos da metade do que já foi sua pipoca. Um cidadão disse: “agora ta suave passar pela pipoca de Bell…”. De fato foi “suave”. Creio que sua saída da banda que o consagrou, além do abandono da avenida pelo bloco Camaleão tem influenciado na perda de público. Some a isso, os novos fenômenos que puxam a massa…

Já na avenida, ouvi depois de mais de 30 anos Luiz Caldas tocar novamente o Reggae do Camaleão, bloco que puxava no final da década de 1980.

Quando já no Campo Grande, uma guarnição da PM parada via a pipoca de Luiz passando, quando este começou a tocar “ajayô”. Um policial saiu da linha e começar a cantar e dançar. Foram pra ele talvez os mais longos 5 segundos de dança da vida após cair a ficha de que tava como policial. Todos que viram a cena, riram. Eu não perdi a oportunidade e disse: “aí vc gosta”. Ele riu e o trio entrou na avenida com a música.

O Microtrio é uma das melhores coisas do carnaval de Salvador.

Se vocês não perceberam, a PM nem passa na pipoca do Trio Armandinho, Dodô e Osmar. Ela já sabe, não tem confusão, apesar de aumentar a cada ano.

Quem apostar na avenida vai se dar bem. Viram a multidão que Daniela Mercury puxou? Ela, com visão, faz agora o movimento contrário, otários.

Os camarotes da Barra são aberrações em todo o sentido. Maioria contratou bandas que nada tem a ver com o carnaval, são grupos de fora e que enfraquecem com isso, nossa música. E aqui pra gente, essa coisa de ficar dizendo que no carnaval cabe tudo, tudo se mistura, que todo mundo pode vir tocar aqui, tem fortalecido a crise do axé.

Camarotes em quase nada dialoga com a cidade. O turista que vem pro carnaval e fica em camarote não tem quase nenhum diálogo com nossa cultura, exceto quando consegue ver algum trio (se não for de artista de fora). Ele vive naquela bolha que é mais ou menos como se tivesse na sua cidade, na sua night, com seus pares.

Os camarotes não podem colocar DJ, Som mecânico ou shows que vaze som pra rua quando o trio estiver passando. Mal o trio passa e religam aquele som sem nenhum respeito a quem está embaixo.

O Camarote Salvador é instalado numa área pública. A prefeitura concedeu mais alguns anos de uso. Como está essa questão. Cadê o MP da Bahia?

O Olodum com sua ala de canto e sua bateria nota 10 é foda!!!!

Filhos de Gandhy, a saudade bateu esse ano…

Muzenza, beleza plástica na avenida.

Essa coisa de música do carnaval já deu.

Viram como o feminismo vem mudando a sociedade? Na Bahia existe política para as mulheres e o reflexo disso pôde ser visto até no carnaval. Quase não vi gente puxando mulheres à força nas ruas. Se compararmos a 6 ou 7 anos atrás veremos que a mentalidade está mudando. Massa!

Viram que alguns artistas que tem midia e que foram contratados pelo Gov ou prefeitura não puxava muita gente? Se sua música não tem diálogo com o povo, ele não vai atrás.

Baiana System é um fenômeno importantíssimo no carnaval.

Quanto mais Margareth Menezes melhor. A vi só uma vez. Volta pros Mascarados, Maga.

Só o Trio Armandinho, Dodô e Osmar pra me fazer cantar o hino do Bonfim de mãos dadas com as pessoas.

Se você leu até aqui, você gosta de carnaval como a porra, na moral…

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