O grupo com o qual mais viajei foi o Quarto Crescente, com Lula Gazineo (violão e voz), Bira Monteiro (percussão e voz) ,Ivan Bastos (contrabaixo) e uma cantora (foram Dina Tavares, Flávia, Silvinha Torres ,Greice, entre outras). Em alguns eventos entravam mais músicos.

Lembro alguns: Joatan Nascimento (trompete), Ivan Huol (bateria), Magary (hoje famoso como cantor compositor, antes percussionista). Viajamos por vários países, mas também pelo Brasil. Lembro que fizemos duas ou três temporadas (um reveillon inclusive) no Hotel Nacional , no bairro de São Conrado no Rio de Janeiro. Numa destas temporadas estávamos , como sempre ,hospedados no próprio hotel , quando recebi uma ligação telefônica de Tom Zé. Não havia ainda celular. A ligação veio de SP e foi transferida para o quarto onde eu estava. Não lembro as palavras exatas, mas ele disse que tinha ligado pra mim em Salvador e que informaram-no que eu estava no Rio , no hotel Nacional. Ele conseguiu o telefone e ligou. O assunto era pedir desculpas por meu nome ter sido publicado no jornal (não lembro se a Folha de SP ou o Globo) de modo desagradável , numa entrevista que ele dera. Eu disse que tinha certeza de que ele jamais falaria mal de mim, que teria sido um mal entendido. Nunca cheguei a ler esta entrevista e só vim a entender tudo muito tempo depois... 

Já em Salvador , recebi uma ligação de David Byrne que, por indicação de Caetano Veloso, procurava-me para que eu fizesse a produção da faixa de um possível futuro disco. Veio aqui em casa onde ficou maravilhado com suco de maracujá e com a vista para o mar. Aqui explicou-me o que queria. Depois de ter ouvido muitos discos de música brasileira - o que explicará a ligação de Tom Zé, o que farei adiante - comprara um cavaquinho onde compôs um choro, e queria gravá-lo. Curiosamente lembro apenas que era um choro bizarro, com variações rítmicas inusitadas , mas não lembro mais nada. Convidei o grupo "Os Ingênuos" liderado pelo saudoso Edson 7 Cordas, ensaiamos , e fomos para o estúdio WR. Então sentimos falta de mais percussão. Estava lá Toni Mola que passou a integrar o grupo. Na hora de gravar, o grupo apesar de ensaiado, atrapalhava-se com as variações rítmicas bizarras , o que tornou necessário um regente. Como quem mais conhecia a música era eu, e como era apenas o produtor, sem tocar nada, fiz a regência. Esta gravação pra mim é histórica porque ganhei dois cachês (produtor e regente) sem ter tocado, feito arranjo ou composição. Aliás , foi a única vez que ganhei cachê como regente. Tudo acabado , gravação feita , David viajou satisfeito.

Algum tempo depois soube, como todo mundo , do famoso episódio da redescoberta de Tom Zé por David Byrne. A história foi a seguinte: David chegou ao Rio e foi a uma loja (no tempo do LP), onde comprou uma grande quantidade de discos de samba ( a maioria de Escolas de Samba) e choro. Entre eles , não sei se por genuína admiração ou por esperteza do vendedor , veio o genial LP -Estudando o Samba - de Tom Zé. David ficou encantado com este disco, realmente extraordinário. Falou por telefone com Caetano , houve algum mal entendido, acho que foi misturado o assunto da ida à Bahia e do LP de Tom Zé. Não sei. O fato é que foi veiculado em algum jornal o nome Tuzé de Abreu em vez de Tom Zé , que seria o certo. Tom Zé respondeu pela imprensa corrigindo (fato pelo qual ele pediu desculpas). Nunca li nenhum destes jornais, talvez até esteja cometendo algum erro cronológico, já lá vão 30 anos. Os fatos essenciais , no entanto, são inesquecíveis...

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