Recentemente as redes sociais resgataram um artigo de Paulo Brondi, promotor de justiça em Goiás, publicado em 2020, no qual ele apresenta, com qualificativos fortes, sua opinião sobre esse atual presidente do Brasil, sua prole, seguidores ou admiradores: cafajestes, pilantras, picaretas, cretinos, mequetrefes, escrotos. São afirmações agressivas, sim, mas será que poderíamos dizer que ele não está certo? Discordo, no entanto, de sua afirmação que mais repercutiu e que causou o resgate daquele seu texto. A galera nas redes destacou este trecho: "nem todo bolsonarista é canalha, mas todo canalha é bolsonarista".

A segunda parte dessa afirmação (todo canalha é bolsonarista) me parece evidentemente falsa. Creio que haja canalhas de todo matiz seguindo as mais diversas orientações ideológicas. Eu até diria que somos todos capazes de tantas, de tão diversas peraltices, que muitas delas podem ser equiparadas a canalhices. Ou será que nós, que nos opomos ao tal presidente, somos um coro de anjos impolutos, imaculados, absolutamente dignos e confiáveis? Existem antibolsonaristas que deus me livre! Quantos você não queria que se perdessem nos confins do cão, hein?

Já a primeira assertiva em destaque do referido promotor (nem todo bolsonarista é canalha) me soa um tanto quanto inocente, até demagógica. Se eu acredito que todo mundo tem um quê de canalha, o que dizer dos eleitores do canalhão? Após a sucessão de calamidades perpetradas pelo facínora e suas hostes, se você diz que há dois tipos de bolsonaristas, o burro e o canalha, você deve estar enganando a si próprio, talvez cavando um jeito de perdoar aquele seu parente, colega, amigo, dando-lhe a pecha de burro. Mas no íntimo você sabe: ele também pode ser burro, mas com certeza é um canalha.

A meu juízo, portanto, o correto está exatamente no polo oposto ao que disse o jurista, pois nem todo canalha é bolsonarista (evidência que não precisa ser demonstrada), mas é claro que todo bolsonarista é canalha. A canalhice pode ser por uma ou outra razão: preconceito social de toda espécie, reacionarismo político, obscurantismo religioso, obtenção de alguma vantagem injusta, manutenção de privilégios, mau-caratismo etc. Seja lá por que razão for, grande ou pequena, ele, o bolsonarista, é um canalha.

Se você pretende perdoar, relevar, renegar ou até combater a ação, o pensamento e tais escolhas de seu irmão, primo ou cunhado, seu camarada de infância e adolescência, seu parceiro de bola, bebida e noitada, seu colega de escola, trabalho ou malhação, seu vizinho de porta, seu médico, dentista ou barbeiro, seu amigo de agora ou de sempre, isso é uma decisão somente sua. Mas é fundamental admitir: ele é um canalha. Seja ele ou ela, são todos canalhas.

E canalhas de uma canalhice das piores, que vai de encontro à sabedoria milenar transmitida por grandes mestres, líderes religiosos como Buda e Jesus, líderes políticos como Confúcio e Cícero, pensadores como Locke e Espinoza, bem como tantos outros, os quais nos deram esperança de civilização: sabermos e sentirmos que a vida em sociedade irá  triunfar plena, saudável e gloriosa somente se e quando for norteada pelo respeito à dignidade humana, pela observância às regras da cidadania e pela prática da solidariedade.

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