Em uma sentença que, por sua desfaçatez, deverá entrar para a história do judiciário brasileiro, o juiz da 7ª Vara Criminal de São Paulo, Ali Mazloum, absolveu, na última quinta-feira (11/03/2022),

Na verdade há amplas provas da prática de corrupção no processo que apura o pagamento de dois milhões de reais em propina por parte do empresário Joesley Batista a Aécio Neves.

O processo foi instaurado a partir de uma delação premiada do próprio Joesley, e há uma gravação legal na qual Aécio Neves explica a Joesley que escolheu seu primo para transportar o dinheiro porque "tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação" – uma linguagem típica de um criminoso que está praticando um crime. Além disso, toda forma como se deu a operação evidencia seu caráter ilegal e ilícito. Não há qualquer documento legal ou factual que comprove a motivação do pagamento. A defesa também não explicou por que o dinheiro foi transportado em malas de São Paulo para Minas por dois comparsas de Aécio, ao invés de ser feita uma simples transferência bancária.

Mas nada disso foi levado em conta pelo “juiz”, porque o judiciário brasileiro existe para garantir a impunidade dos oligarcas e perseguir aqueles que afrontam o poder das elites econômicas do país, como foi o caso do presidente Lula, que foi condenado e encarcerado por 580 dias, em um processo farsesco, sem ao menos uma prova sequer de que tenha cometido algum ato de corrupção. Essa injustiça contra o maior líder político do país é ainda mais revoltante, quando se assiste a essa desfaçatez com que membros das oligarquias, como Aécio Neves, são absolvidos, mesmo diante de evidências claríssimas da prática do crime de corrupção. E o mesmo já se deu com José Serra, Michel Temer e tantos outros, que são absolvidos ou nem são julgados, apesar da existência de denúncias fundamentas em provas concretas, porque, por servirem ao grande poder econômico, têm a sua impunidade garantida, em judiciário classista, ineficiente e corrompido.

E os oligopólios midiáticos também são responsáveis por esse estado de coisas. A Globo, por exemplo, que, no auge da histeria da Lava Jato, produziu uma matéria escandalosa no seu JN de 20 minutos, quando Dona Marisa, esposa hoje falecida do presidente Lula, comprou um barquinho de quatro mil reais para brincar com os netos no sítio de Atibaia, hoje, não apenas notícia discretamente a escandalosa absolvição de Aécio Neves, como a normaliza.

A matéria do portal G1, da  Globo, inclusive dá amplo espaço para declarações da defesa e de asseclas de Aécio Neves, do tipo "depois de cinco anos de explorações e injustiças, foi demonstrada a fraude montada por membros da PGR e por delatores que colocou em xeque o estado democrático de direito no país", e não dá qualquer espaço para as alegações do MPF, que vai recorrer da sentença do “juiz”.

O judiciário e a mídia corporativa são os grandes responsáveis pelo desastre a que o país foi levado a partir do golpe de 2016, que culminou com a eleição de um miliciano genocida e fascista para a presidência da República. E continuam atuando para manter o país na condição de uma colônia escravagista.

*Sociolinguista e autor de·Língua e Sociedade Partidas (Contexto, 2015).

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