Tenho boas lembranças da minha Bahia. Sim! Aquela Bahia sestrosa, tranquila, mansa que os desavisados confundiram com a preguiça.

A Bahia do sobe e desce das ladeiras e, do sobe e desce com quiabo, abóbora, maxixe, jiló, charque ( servida no currute ) borbulhando num fogareiro da Feira de São Joaquim. Tempo de saveiros ancorados no caís e dos meninos que desciam da Liberdade pra nadar na praia da feira indo até à  ´quadrada `. A volta pra casa era feita carregando as porções de umbus, cajás com uma parada pra comer o sanduíche de pão com pão e refresco servido na padaria da Calçada.

Sinto falta dos encontros com a rapaziada sentada num meio fio de uma calçada do Engenho Velho da Federação nas noites de sábado esperando Abiga servir sua feijoada celebrada, e sempre após à meia-noite. Um resgate da memória e me vejo um aventureiro galgando uma escadaria  velha e balançante rumo aos céus. Na realidade, era o desafio de chegar até o andar superior de um prédio antigo da rua Carlos Gomes. Ali  era servida a divina Feijoada de Bio.  Um lugar que ficava a dois passos do paraíso.Antes do périplo gastronômico na madrugada, o roteiro na época podia oferecer uma passagem antes por alguma vernissage que acontecia na Galeria Canizares. Era a busca pelos nutrientes culturais, e também dos buffets que eram servidos sem cerimônias incluindo vinhos das melhores castas.
Ah! A Bahia era generosa !

Faltavam 15 minutos para o jogo acabar e centenas de pares de olhos estavam fixos nos portões de saídas da Fonte Nova. O xaréu era liberado e um bando de torcedores com bolsos vazios e os corações cheios de esperança invadiam os poucos degraus ainda livres do estádio para vivenciar os atos finais de uma ópera bem brasileira. O Bahia me proporcionou muitos gran finales dando viradas históricas sobre seus adversários. Eu estive lá graças aos xaréus.

Ah! A Bahia era bondosa.

Eu sinto falta de uma boa festa de largo com barracas onde os bancos tinham pinturas volpianas e cortinas de chitão tropicais, das lembranças com Juvená, Minha Vidinha, Guanabara, Índia, Aeroporto, Fia Luna, capoeira, samba de roda, batidas feitas por Imbé Preto, amendoins no copo de cerveja, fatias de melancias e banhos de mar com roupas e tudo. O amor era feito da  saliva dos beijos misturados com a areia.

Ah! A Bahia era porreta.

Agora, que o verão está chegando ao fim vou aproveitar pra dar um mergulho nas águas das  temporadas do Vila Velha, Caetano, Gal, Gil, Novos Baianos, praça Castro Alves, Clube de Engenharia, Porto da Barra, Triângulo das Bermudas no Rio Vermelho, Lagoa do Abaeté, Teatro dos Novos, Meteorango Kid, Arembepe, Berlinque,  Troca de Segredos, Relâmpago, cocotas, desbundados , Aloísio e os seios desnudos na praia da Boca do Rio. Depois um banho na lagoa de Pituaçu. 
O por do sol no Farol anuncia o despertar de uma lua desnuda e prateada na Bahia  de todos os orixás.

Ai, que saudades eu tenho das Bahias.

Eram tantas.

Zuggi Almeida é baiano,  escritor, roteirista e fotógrafo.

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